Daslan Melo Lima
PRÓLOGO
Há um mês, numa manhã nublada do Recife,
encontrei num “sebo” um livro intitulado
ELAS SÓ CITAVAM O PEQUENO PRÍNCIPE – A História dos Concursos de Miss
Brasil e Miss Paraíba - do escritor
paraibano Wills Leal, de 2003, publicado em João Pessoa-PB. Fiquei surpreso com a
descoberta, haja vista que o nosso Brasil é carente de obras sobre o assunto. A
publicação tem mais de 150 páginas e está recheada de fotos muito interessantes. Antes
do primeiro capítulo há uma apresentação de Adylla Rocha Rabelo, membro da Academia
Paraibana de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, com o título “O livro das Misses”, onde ela faz uma análise da mensagem profunda de O Pequeno Príncipe, de Antoine de
Saint-Exupéry. Essa obra do célebre escritor e aviador francês foi muita citada
pelas Misses dos anos sessenta como seu livro preferido. Conheço pessoas que
adoram “O Pequeno Príncipe”, mas evitam assumir
pelo fato do mesmo ter sido rotulado de “livro das misses”. Antes do
primeiro capítulo, também tem um texto introdutório de José Nêumanne,
jornalista e escritor, “Ai, que saudades das misses casadoiras!”, onde ele situa o concurso Miss Brasil entre valores
socioculturais dos anos 50 e 60.
O LIVRO DAS MISSES
Depois de outras publicações, Wills procurou um tema muito
interessante. Desta feita, pinçou os concursos de beleza, em que montou uma
passarela perfumada para descrever a beleza da mulher paraibana, com o título:
Elas Só Citavam o Pequeno Príncipe. Como esta obra, do grande autor francês Antoine de Saint-Exupéry, está
sendo celebrada pelos cinquenta anos de
chegada ao Brasil – Jubileu de Ouro – passamos a falar de seus encantos, que
tão bem combinam com as jovens que almejavam o lugar maior naquelas disputas. Chegou
ao Brasil e logo foi aceita como um conto de fadas. O que teria levado o
grande pensador a transformar-se numa mistura de Freud e Lacan com Grimm, Carrol,
Perrault e tantos outros psicólogos cidadãos franceses, nascidos em Lyon no
despontar do século vinte, Antoine de saint-Exupéry é autor de uma obra, episódica
e fantástica, ditada por uma vocação às belas artes, ligada à filosofia, à sua
experiência na aviação e perfumada pelo lirismo.
Exupéry revelou-se na literatura francesa em
1930, com a publicação de Correio do Sul, em que evoca uma época de heroísmo,
como aviador entre Toulouse e Dakar, que figura ao lado de Voo da Noite,
lançado no ano seguinte. Ainda sobre as aventuras vividas no roteiro das
estrelas, em 1939, entrega ao público Terra dos Homens e, em 1941, Piloto de Guerra,
todos alcançando um sucesso que se traduz pelas inúmeras edições. Ainda produziu outras
obras como humanista. Mas, foi em 1945 que presenteou o mundo com o extraordinário
poema em prosa Le Petit Prince – O Pequeno Príncipe – já traduzido em mais de
oitenta idiomas.
O renomado autor, porém, ficou popularmente,
conhecido por este último que, devido à suavidade do titulo, passou a ser
citado pelas mocinhas que, certamente, nem chegaram a aprofundar-se na leitura
do mesmo. Talvez, a “ingenuidade” da maioria levou-as a fazer analogia ao príncipe
encantado. E assim, o excelente texto passou a ser considerado como o preferido
pelas concorrentes dos concursos de beleza, recebendo, então, o título de livro
das misses. Contudo, é bom lembrar
que este comportamento fazia parte de um estilo de época, que foi se modificando
com a liberação feminina na passagem do tempo. As candidatas de outrora,
preparadas para os encantos do lar, cederam o lugar às profissionais que, ao
lado da beleza, se destacam nos vários campos do conhecimento.
Eu, particularmente,
conheci esta obra prima já bem distante da adolescência, quando fazia o Curso
de Especialização no idioma francês. Fiquei encantada com o talento e
criatividade do autor, revestindo a filosofia com leveza que permite o encantamento
até das crianças. Várias reflexões do Príncipe ficaram gravadas
em minha memória e ali sempre ecoam, quando preciso atenuar alguma mágoa. A
narrativa tem a magia do espelho refletindo desejos, esperanças e amores.
O livro, que comporta um estilo literário sem precedentes,
é ilustrado pelas mesmas mãos que construíram a bela narrativa. Na passagem do
Jubileu de Ouro, entre nós, merece uma
reverência que faça jus à sensibilidade do autor, que começa ao pedir licença
aos pequenos leitores para dedicá-lo a um adulto. “Peço desculpas às
crianças para dedicar este livro a uma pessoa grande”. E, depois de nomear três motivos para aquele
gesto, conclui: “Se todas essas desculpas não bastam, eu dedico então este livro à criança que essa pessoa
grande já foi. Todas as pessoas grandes foram um dia crianças. (Mas poucas se
lembram disso) Corrijo, portanto, a dedicatória. A Leon Wertt quando ele era pequenino”. Na ternura destas
palavras, concluímos que Leon Wertt somos todos nós.
______ Condensação da apresentação de Adylla Rocha Rabello.
AI, QUE SAUDADE DAS MISSES CASADOIRAS
Um livro sobre misses? É provável que você faça essa pergunta antes
de dar início à leitura de mais este interessante texto do jornalista (e acima
de tudo histórico crítico de cinema) paraibano Wills Leal. Principalmente se você tiver menos de 40 anos
e não confiar em ninguém com mais de 30.
Mas, acredite se quiser e pergunte a quem conhecer, a verdade é que os
concursos de miss já foram eventos sociais de enorme relevância entre nós. O
ginásio do Maracanãzinho, no Rio de Janeiro, ficava lotado e a plateia urrava, seja
para consagrar uma candidata, seja para retirá-la do páreo. E os estados da
Federação disputavam a honra de mandar a mulher mais bonita do país para disputar
o concurso universal em Miami ou o mundial em outra cidade qualquer do planeta.
Os tempos eram outros, é preciso reconhecer.
Não havia, por exemplo, a comunicação instantânea que há hoje. A comunicação
instantânea, principalmente pela televisão, acabou com a fanfarra dos locutores
esportivos de rádio, que transmitiam qualquer pelada vagabunda como se fosse
uma partida memorável: um lance chinfrim, sem emoção alguma, era narrado com
berros, choro e ranger de dentes. Veio a transmissão ao vivo pela televisão e o
fascínio dos jogos escutados pelo rádio foi esmagado pela pobre mesmice de
nosso surrado esporte bretão. Os
concursos de miss tiveram o mesmo destino das transmissões de futebol pelo
rádio: pertencia a um mundo mais ingênuo e tiveram seu charme reduzido pela
luz ofuscante da dura realidade. Dir-se-ia que os desfiles das meninas bonitas
e de pernas torneadas, em maiôs Catalina inteiriços, anos-luz antes do fio
dental, eram a expressão da cultura da penumbra, assim como as crônicas de Nelson
Rodrigues, o amor, o sorriso e a flor da
bossa nova, a Grapete, a Romiseta, as chanchadas da Atlântida, as
colunas em curva que Oscar Niemeyer desenhou para o Palácio da Alvorada, os
gols de Pelé, os dribles de Mané Garrincha e o tal do tapa que nosso beque
Bigode teria levado do uruguaio Obdúlio Varela e que redundaria no gol de
Gighia e na perda fatídica do campeonato mundial de 1950.
Hoje vivemos a era do sol a pino. Tudo
está exposto e acabaram-se os mistérios ocultos em sombras; os seios das meninas, seus pelos
pubianos e, sobretudo, o vale que prenuncia a protuberância da curva e suas nádegas. Que
lugar haveria para uma sonhadora leitora de O Pequeno Príncipe, de Antpine de
Saint-Exupéry, neste universo da exposição vulgar de tudo? Onde achar espaço
para publicar definições como a “terra é azul”, do astronauta russo Iuri Gagarin,
no reino do pó de Fernandinho Beira-Mar? Em pleno reinado da cultura de ejaculação
precoce dos vídeoclipes, como perder tempo com desfiles intermináveis em maiô e
frases feitas de mocinhas casadoiras falando dos seus sonhos juvenis? Mas é a
mais pura e singela verdade que já foi muito importante discutir as duas
polegadas a mais por causa das quais a baiana de olhos do mar de Caymmi, Martha
Rocha, teria perdido o titulo de Miss Universo, lenda semelhante àquelas do
tapa de Obdúlio em Bigode, do atacante com o canhão nos pés que matou o irmão
goleiro batendo um pênalti ou a que dava conta do nascimento do cantor
Agostinho dos Santos no bairro de Zé Pinheiro, em Campina Grande.
Eeste texto introdutório não seria justo se não lembrasse a relação que havia
entre os Diários e Emissoras Associados
e os celebérrimos desfiles. Pincipalmente a revista O Cruzeiro, que era uma
espécie de Rede Globo daqueles “anos dourados”. Wills resgata tudo isso, salpicando
denuncias (contra o preconceito que
muitas vezes tirava, a seu ver, as misses dos estados nordestinos da disputa final
nacional) e “causos” engraçados. Palmas
para as misses, o livro e o Wills.
__________Condensação da introdução de José Nêumanne.
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OS DOZE CAPÍTULOS DO LIVRO
OS DOZE CAPÍTULOS DO LIVRO
Imagens raras, curiosidades e alguns assuntos polêmicos desflam no doze capítulos do livro Elas só citavam O Pequeno Príncipe. I - Candidatas nordestinas são figuras decorativas nos concursos
de Miss Brasil; II - Apesar de muito criticado, o concurso de Miss Brasil
permanece sempre em moda; III - Concurso de miss volta aos seus dias de glória no
Brasil; IV - Martha Rocha e
Vera Fischer: as nossas duas mais famosas misses; V - Depois da TV Tupy e do Sbt, o concurso é realizado agora
pela TV Bandeirantes; VI - Primeira Miss Paraíba era casada, de família muito rica e
tinha uma filha; VII - Curiosidades, gafes, brigas, protestos e emoções no concurso de Miss Paraíba; VIII- Jurados, indefinições de critérios e as reações antagônicas
do público; IX - Margarida Vasconcelos sempre foi apontada como a eterna
Miss Paraíba; X - Não atendeu convite de Chateaubriand e perdeu a chance de
ser Miss Brasil; XI - Quem eram e de onde vieram as jovens vencedoras do
concurso de Miss Paraíba; XII – Paraibanas eleitas misses ao longo dos 80 anos de
existência do concurso.
Várias curiosidades focalizadas no livro serão utilizadas em futuras sessões nostalgia. Prometo, imbuído de uma das citações famosas de O Pequeno Principe: Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.
EPÍLOGO
O livro do Wills Leal é uma produção independente, sem selo de editora. Seus telefones para contato: (083) 3246.1166 e (083) 9302.3181.Várias curiosidades focalizadas no livro serão utilizadas em futuras sessões nostalgia. Prometo, imbuído de uma das citações famosas de O Pequeno Principe: Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.
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