Daslan Melo Lima
Foi no livro Prosa Breve, uma coletânea de crônicas do
jornalista pernambucano Jorge Abrantes (1917-1961), editado pela
Associação da Imprensa de Pernambuco, Recife, PE-1976, que encontrei o texto
abaixo. Para enriquecer mais esta Sessão Nostalgia, inseri imagens das misses citadas na deliciosa crônica com legendas esclarecedoras. O texto do Jorge Abrantes foi originalmente publicado na secção “Boa Tarde", no jornal Diário da Noite, Recife, PE, em 05 de fevereiro de 1952.
A MISS
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Marie Delphine Caillet, a Didi Caillet (1907-1982), Miss Paraná, Vice-Miss Brasil 1929.
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“A casa mais bonita que vi em Caiubá foi a de Didi Callet, hoje viúva de um dos grandes industriais do mate”. Isto escreveu
Rubem Braga em uma das crônicas que nos está mandando do Paraná. E aquele nome fez-me
recuar à infância e a uma fase específica da vida social brasileira e do mundo.
1929. Vitrolas. Agonia do cinema mudo. Concursos de beleza. Houve um em Galveston
– e incluí esse nome em minha geografia. Era uma praia como Palm Beach, mas
isso já me lembrava um tipo de tecido em voga para homens. É claro que eu não participava
ativamente dessas coisas, mas minha memória anotava as referências mais importantes.
Assim fazem as crianças que, incapazes ainda de assimilar a essência de uma
época, decoram-lhe as etiquetas: nomes de personalidades dominantes, ditos, marcas,
fórmulas – todo um material de futuras lembranças.
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Ingeborg von Grinberger, da Áustria, e não da Hungria, como foi citada na crônica de Jorge Abrantes, candidata ao título de Miss Europa 1930.
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Olga Bergamini de Sá, Miss Distrito Federal (Rio de Janeiro), eleita Miss Brasil 1929, disputou o título de Miss Universo 1929, realizado em Galveston, Texas, Estados Unidos.
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Yolanda Pereira, Miss Rio Grande do Sul, Miss Brasil, eleita Miss Universo 1930 no concurso internacional de beleza realizado no Rio de Janeiro.
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Lembro-me vagamente das fotografias
das misses de um concurso internacional de beleza. E dos nomes. Havia uma
Ingeborg, da Hungria.... Um desses concursos realizou-se no Brasil. E a vencedora
uma brasileira. Gaúcha. Bergamini no nome. E eu associava seu nome ao de um
prefeito do Distrito Federal: Adolfo Bergamini.
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Didi Caillet, Miss Paraná, Vice-Miss Brasil 1929 e Rainha dos Estudantes 1931, fotografada no Baile Oficial de Carnaval do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Revista A Noite Ilustrada, 12 de fevereiro de 1932.
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Num dos concursos nacionais,
preliminares desses maiores, surgiu certa vez esse nome: Didi Callet (na minha memória
era Caillet). Longínqua beleza paranaense. Pinheiros... Todos os outros nomes
escaparam. Este ficou. E agora Rubem Braga o restitui. É viúva de um dos
grandes industriais do mate. Não havia metade em minha lembrança. Nem viuvez nela.
Era uma miss. E eu um pobre menino curioso. Que colecionava nomes. Que eram – que
são – o esquisito perfume de uma época.
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Quando comprei o livro "Prosa Breve" há dois meses, num "sebo" recifense, não pensei que encontraria uma crônica falando sobre misses. Mas que bom que encontrei, graças à sensibilidade de Jorge Abrantes, um menino nascido em São José do Egito, sertão pernambucano, e criado no Recife, que colecionava nomes. "Que eram – que são – o esquisito perfume de uma época."
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Um comentário:
Lindas fotos na Sessão Nostalgia dessa semana. Fiquei com vontade de ler esse livro. Vou procurar no Estante Virtual. Abraços, Daslan e ótima semana pra nós.
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