Por Muciolo Ferreira
mucioloferreira2013@gmail.com
Corpo exuberante e um pouco de talento, necessariamente não era preciso ser bonita. Bastava ser "gostosa" para atrair os homens. Eram esses os atributos de uma girl para se tornar na vedete de "teatro rebolado", a estrela principal dos teatros de revistas brasileiros, cujo apogeu ocorreu nas décadas de 1940, 1950 e até o início dos anos 1960. Icônicas, Angelita Martinez, Anilza Leoni, Carmem Verônica, Dercy Gonçalves, Dorinha Duval, Elvira Pagã, Esther Tarcitano, Íris Bruzzi, Luz Del Fuego, Mara Rúbia, Marly Marley, Renata Fronzi, Sônia Mamede, Virgínia Lane, Wilza Carla e Zaquia Jorge, entre outras, souberam como ninguém incendiar o imaginário sexual dos homens e, algumas delas, influenciar a política e os costumes da época. As vedetes também ficaram famosas pelo poder e força que tiveram em mostrar nos palcos “quando o menos é mais", no caso o figurino.
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ANGELITA MARTINEZ (1931-1980)
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ANILZA LEONI (1933-2009)
Em minúsculos biquínis ou maiôs rebordados em paetês, miçangas e cristais, elas surgiam no palco ao som de uma orquestra, cenário luxuoso e um corpo de baile com outras girls, bailarinos e coristas. Como o próprio nome vedete sugere, tinham que cantar, dançar, interpretar e ter muito jogo de cintura para driblar com muito fair-play as cantadas e piadinhas que surgissem da plateia por algum engraçadinho mais afoito. Era aí que estava a diferença entre a vedete e uma atriz de teatro. A última já recebe o texto pronto, enquanto a outra tem que saber improvisar e sem constranger o público. A participação delas em cada espetáculo repercutia no dia seguinte na imprensa e na política, ditando modismo e influenciando a cultura popular com uma linguagem nacional, livre da indústria estrangeira dos musicais da Broadway.
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DERCY GONÇALVES (1907-2008)
Imagem: teatrobr.blogspot.com
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ELVIRA PAGÃ (1920-2003)
Enquanto
Virgínia Lane recebeu ao vivo do presidente Getúlio Vargas o título
de “A Vedete do Brasil”, Mara Rúbia era ovacionada "Rainha das
Escadarias", alusão às suas chegadas
triunfais nos palcos e em locais públicos onde houvesse alguma escada. Também
foi apontada como o símbolo sexual da época em que atuou em oito espetáculos na
Companhia de Teatro de Revista do produtor Walter
Pinto. Todavia é Carmem Verônica
quem as colegas de profissão são unânimes ao afirmar ter sido a vedete do corpo
mais perfeito.
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LUZ DEL FUEGO (1917-1967)
MARA RÚBIA (1919-1991)
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Pessoas extremamente desejadas por 10 entre 10 homens, as vedetes brasileiras souberam aproveitar o auge da fama. Ganharam muito dinheiro nos shows que fizeram no Brasil e no exterior ou de quem tivesse disposição e muita grana para iniciar um romance. Até hoje não se tem notícia de casos em que alguma delas tivessem morrido na miséria os nos corredores dos hospitais públicos. Zaquia Jorge, por exemplo, ganhou tanto dinheiro que aos 30 anos de idade já tinha o seu próprio Teatro de Revista no subúrbio de Madureira. Morreu tragicamente aos 33 anos, no auge da beleza e do sucesso, por afogamento, na praia da Barra da Tijuca.
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VIRGÍNIA LANE (1920-2014)
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Notas do Editor
1 - A
inspiração do Muciolo Ferreira para escrever esta matéria surgiu após ele ter
assistido na TV Cultura ao documentário "Mamãe, Quero ser Vedete”,
produzido por Neyde Veneziano, escritora
e pesquisadora do tema.
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2 - “Tem Bububú no Bobobó” é o título de uma revista musical de Walter Pinto, Luís Iglezias, J. Maia e Max Nunes, protagonizada por Virgínia Lane, Walter D’Ávila e José Vasconcelos, encenada no Theatro Recreio, Rio de Janeiro, em outubro de 1959, e depois no Theatro Paramount, São Paulo.
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4 - Das dezesseis vedetes pioneiras citadas, apenas três estão vivas: Carmem Verônica, Dorinha Duval e Íris Bruzzi. Em 2011, muitos anos depois do fim dos teatros de revista, o jornalista Muciolo Ferreira teve a sorte e o privilégio de conhecer pessoalmente Virgínia Lane, “A Vedete do Brasil”, num show do Polo de Carnaval da Cinelândia, Rio de Janeiro. No alto dos seus 91 anos de idade, envolta em plumas, boá vermelho, paetês, maiô comportado e chapeuzinho preto no estilo dos sapateadores da Broadway, Virgínia Lane ainda empolgava o público cantando “Sassaricando”, com orquestra e coral.***** “Sa-sassaricando! / Todo mundo leva a vida no arame! / Sa-sassaricando! / A viúva, o brotinho e a madame! / O velho na porta da Colombo / é um assombro! Sassaricando /// Quem não tem seu sassarico, / sassarica mesmo só! / Porque sem sassaricar / esta vida é um nó!
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16 comentários:
Sempre estou de olho na SESSÃO NOSTALGIA de PASSARELA CULTURAL. Adoro! Dessa vez, fiquei surpreso com o tema dedicado às Vedetes do Brasil, as pioneiras, e não às Misses, a alma desta secção.
Muito emocionado, pois sou bisneto de uma delas. Nossa família, apenas por uma questão de timidez e de preservação da intimidade, nunca gostou de fazer revelações sobre sua identidade.
Parabéns!!!
L.
Petropólis?Rio
Obrigado, amigo Daslan, pelo espaço e a oportunidade dos mais jovens conhecerem um pouco a trajetória dessas mulheres fantásticas.
Elas desafiaram os costumes vigentes, sendo vanguardistas de uma nova era que nascia nos palcos, nas ruas e num género artístico brasileiro pós o Estado Novo.
Muciolo Ferreira
KKKKKK
Encontrei Vedetes no lugar do espaço das Misses do passado.
Ameeeeiiii!!!
Sou da velha guarda e lendo a matéria, cantei Sassaricando e chorei.
Stella Albuquerque de Natal, Rio Gra. do Norte
Amei a matéria.
Muciolo tem um excelente texto.
Que bom recordar as vedetes dos anos dourados, algumas um pouco antes.
Parabéns pela iniciativa.
Afetuoso abraço. Joseli Lacerda
Miss é perfumaria. Vedetes têm histórias, inclusive que deixavam os endinheirados pobres.
As vedetes eram belas como as misses da época de glamour.
Wilton Condé
Relações Públicas,Jornalista e Cerimonialista
Recife - Pernambuco
Parabéns, Muciolo!
A matéria ficou muito boa e se encaixou muito bem com as fotos.
João Aurélio - Recife.
Que DELÍCIA de matéria VOCÊ gestou, Muciolo.
De talento incontestável, como as "gostosas" que nomina.
Favor aproveitar o espaço que Daslan cedeu e nos favorecer com mais preciosidades iguais a essas.
Beijos e PARABÉNS pela verve!
Paulo d"Arce
Recife, PE
As vedetes sempre me encantaram, desde criança.
Não é coisa de ter sido um tarado mirim, precoce, mas eu via nas páginas de O Cruzeiro a seção de Stanislaw Ponte Preta que publicava fotos das “Certinhas do Lalau”, que na maioria eram as vedetes dos anos 60.
Roberto Lima /jornalista/Recife.
Muciolo, querido, eu achei maravilhoso o trabalho de pesquisa e o texto em si.
Importante o esclarecimento da diferença entre o trabalho de atriz e o de vedete.
As vedetes citadas foram mulheres que souberam tirar o melhor e dar o melhor para o seu público.
Eu adorei!
Lina - Recife
Muito bom.
Wilza Carla foi vizinha de minha mãe, no ed. Safira, em Copacabana.
Dercy foi minha amiga, fez uma galinha aqui nesse apartamento nadando em óleo porque não gostava de cozido 🤣😂🤩
Fátima Bahia
Jornalista
Recife, PE
COMENTÁRIO VIA E-MAIL
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Viajei nas palavras gostosas da matéria, tão gostosas como as vedetes que foram citadas.
Meu pai tinha um álbum de recortes com todas elas.
Julio Silva (de Juazeiro da Bahia, em trânsito por Aracaju)
Muciolo, seu texto sobre as vedetes está fantástico.
Você relembrou uma época, do século passado, quando falar de sexo era tabu. Mas as vedetes, audaciosas, brilhavam e sabiam seduzir a plateia, principalmente, masculina.
Parabéns, Muciolo.
Elizabeth Porto, jornalista, Recife.
Respondendo ao comentário de João Aurélio sobre a boa matéria de Muciolo Ferreira:
Boas matérias são feitas por bons jornalistas/articulistas/escritores - como Muciolo Ferreira, para bons leitores - como nós. 😘
Fátima Bahia
Jornalista
Recife - PE
Muciolo Ferreira: Parabéns!
É tão maravilhoso recordar e conhecer com mais detalhes essas mulheres lindas e de corpo escultural! Que já não existe mais no mundo!
Hj, td é superficial e retocado de BOTOX!
Parabéns amigo pela matéria 👏👏
Tânia Spinelli, de Washington - Distrito de Colúmbia/USA.
Reportagem es-pe-ta-cu-lar!
Gostaria que acrescentassem o link para a marchinha carnavalesca gravada por Marlene para o Carnaval de 1960.
https://www.youtube.com/watch?v=-md1huEnBHI
Julio/ pernambucano radicado em Toronto, Canadá, há 20 anos.
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