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sábado, 19 de setembro de 2020

SESSÃO NOSTALGIA/ESPECIAL - Vedetes do Brasil, “Tem Bububú no Bobobó"

Por Muciolo Ferreira

mucioloferreira2013@gmail.com

Corpo exuberante e um pouco de talento, necessariamente não era preciso ser bonita. Bastava ser "gostosa" para atrair os homens. Eram esses os atributos de uma girl para se tornar na vedete de "teatro rebolado", a estrela principal dos teatros de revistas brasileiros, cujo apogeu ocorreu nas décadas de 1940, 1950 e até o início dos anos 1960. Icônicas, Angelita Martinez, Anilza Leoni, Carmem Verônica, Dercy Gonçalves, Dorinha Duval, Elvira Pagã, Esther Tarcitano, Íris Bruzzi, Luz Del Fuego, Mara Rúbia, Marly Marley, Renata Fronzi,  Sônia Mamede, Virgínia Lane, Wilza Carla e Zaquia Jorge, entre outras, souberam como ninguém incendiar o imaginário sexual dos homens e, algumas delas, influenciar a política e os costumes da época. As vedetes também ficaram famosas pelo poder e força que tiveram em mostrar nos palcos “quando o menos é mais", no caso o figurino.

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ANGELITA MARTINEZ (1931-1980)

Rainha das Vedetes 1958 - Foto: baudomago.com.br

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ANILZA LEONI (1933-2009)

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Anilza Leoni canta a música "Brigitte Bardot", de Miguel Gustavo, no filme "Bom Mesmo é Carnaval", direção de J.B. Tanko,  1962. https://www.youtube.com/watch?v=JkeE1u57Z10
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      Em minúsculos biquínis ou maiôs rebordados em paetês, miçangas e cristais, elas surgiam no palco ao som de uma orquestra, cenário luxuoso e um corpo de baile com outras girls, bailarinos e coristas. Como o próprio nome vedete sugere, tinham que cantar, dançar, interpretar e ter muito jogo de cintura para driblar com muito fair-play as cantadas e piadinhas que surgissem da plateia por algum engraçadinho mais afoito. Era aí que estava a diferença entre a vedete e uma atriz de teatro. A última já recebe o texto pronto, enquanto a outra tem que saber improvisar e sem constranger o público. A participação delas em cada espetáculo repercutia no dia seguinte na imprensa e na política, ditando modismo e influenciando a cultura popular com uma linguagem nacional, livre da indústria estrangeira dos musicais da Broadway.

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DERCY GONÇALVES (1907-2008)

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Imagem: teatrobr.blogspot.com

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ELVIRA PAGÃ (1920-2003)

Foto: revista O Cruzeiro.
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     Enquanto Virgínia Lane recebeu ao vivo do presidente Getúlio Vargas o título de “A Vedete do Brasil”, Mara Rúbia era ovacionada "Rainha das Escadarias", alusão   às suas chegadas triunfais nos palcos e em locais públicos onde houvesse alguma escada. Também foi apontada como o símbolo sexual da época em que atuou em oito espetáculos na Companhia de Teatro de Revista do produtor Walter Pinto. Todavia é Carmem Verônica quem as colegas de profissão são unânimes ao afirmar ter sido a vedete do corpo mais perfeito.

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LUZ DEL FUEGO (1917-1967)

Foto: aventurasnahistoria.uol.com.br
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MARA RÚBIA (1919-1991)

Capa da  revista Manchete, 07/11/1953.

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     Pessoas extremamente desejadas por 10 entre 10 homens, as vedetes brasileiras souberam aproveitar o auge da fama. Ganharam muito dinheiro nos shows que fizeram no Brasil e no exterior ou de quem tivesse disposição e muita grana para iniciar um romance. Até hoje não se tem notícia de casos em que alguma delas tivessem morrido na miséria os nos corredores dos hospitais públicos. Zaquia Jorge, por exemplo, ganhou tanto dinheiro que aos 30 anos de idade já tinha o seu próprio Teatro de Revista no subúrbio de Madureira. Morreu tragicamente aos 33 anos, no auge da beleza e do sucesso, por afogamento, na praia da Barra da Tijuca.

      O início da derrocada do Teatro de Revista começou com a popularização da televisão e dos filmes estrangeiros. O gênero artístico brasileiro, que satirizava com humor os costumes da época e a política, agonizava sem patrocínios e plateia. A instalação do Regime Militar com uma censura rígida em todos os segmentos artísticos e culturais também contribuiu para a decadência e o esvaziamento dos teatros. E quando tudo parecia perdido, eis que é montada em plena ditadura militar o espetáculo "Les Girls", estrelado por um time de travestis de primeira linhagem, com Rogéria, Valéria e outras. O espetáculo percorreu todo o país no melhor estilo do Teatro de Revista. Aportou até aqui, no Recife, no Teatro de Santa Isabel. Os travestis sempre se espelharam na atriz americana Marilyn Monroe e nas vedetes como suas ídolas. Souberam tirar proveito disso usando o nome de algumas delas, a exemplo de Eloína e Brigite Blair, com muito talento e disposição para correr da polícia e driblar a censura. Não tendo muito apoio, devido ao preconceito e à perseguição crucial da polícia, tanto Rogéria, Valéria e Marquesa, estrelas do “Les Girls”, tiveram de sair do pais e buscar trabalho na França, Espanha e Alemanha.

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VIRGÍNIA LANE (1920-2014)

Imagem: salalatinadecinema.blogspot.com
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Virgínia Lane canta "Sassaricando", marchinha composta por Luís Antônio, Zé Mário (Jota Junior) e Oldemar Magalhães, o maior sucesso do carnaval de 1952. https://www.youtube.com/watch?v=mFnj0WZLQUE
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ZAQUIA JORGE (1924-1957)

Foto: riodejaneirodehontem.blogspot.com
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Joel de Almeida canta o samba "Madureira Chorou", de Carvalhinho e Júlio Moreira, sucesso do carnaval de 1958, composto em  homenagem à Zaquia Jorge. 
https://www.youtube.com/watch?v=mcTLbXZ7lt8&list=RDeEQit02Iiw8&index=15
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     A atriz Leila Diniz, no auge da carreira, montou uma revista musical num teatro de Ipanema intitulado “Tem Banana na Banda", mas ficou poucos meses em cartaz. Cláudia Raia também montou o espetáculo "Não Fuja da Raia", com razoável sucesso. Nenhuma dessas, porém, conseguiu tanto fascínio e sedução como as pioneiras. O poder e sedução que exerciam nos homens esvaziaram muitas contas bancárias e cofres numa época em que donzelas de famílias de bem sussurravam ao pé do ouvido das matriarcas: "Mamãe, Quero ser Vedete". Cai o pano.

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Notas do Editor

1 -  A inspiração do Muciolo Ferreira para escrever esta matéria surgiu após ele ter assistido na TV Cultura ao documentário "Mamãe, Quero ser Vedete”, produzido por Neyde Veneziano, escritora e pesquisadora do tema.

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2 - “Tem Bububú no Bobobó” é o título de uma revista musical de Walter Pinto, Luís Iglezias, J. Maia e Max Nunes, protagonizada por Virgínia Lane, Walter D’Ávila e José Vasconcelos, encenada no Theatro Recreio, Rio de Janeiro, em outubro de 1959, e depois no Theatro Paramount, São Paulo.

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3 - Em 1960, um dos grandes sucessos do Carnaval foi a marchinha "É Bububú no Bobobó", de Armando Cavalcanti e Ivo Santos, na voz de Marlene (1922-2014). Imagens: Mercado Livre. Vide:  https://www.youtube.com/watch?v=-md1huEnBHI

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4 - Das dezesseis vedetes pioneiras citadas, apenas três estão vivas: Carmem Verônica, Dorinha Duval e Íris Bruzzi. Em 2011, muitos anos depois do fim dos teatros de revista, o jornalista Muciolo Ferreira teve a sorte e o privilégio de conhecer pessoalmente Virgínia Lane, “A Vedete do Brasil”, num show do Polo de Carnaval da Cinelândia, Rio de Janeiro. No alto dos seus 91 anos de idade, envolta em plumas, boá vermelho, paetês, maiô comportado e chapeuzinho preto no estilo dos sapateadores da Broadway,  Virgínia Lane ainda empolgava o público cantando “Sassaricando”, com orquestra e coral.***** “Sa-sassaricando! / Todo mundo leva a vida no arame! / Sa-sassaricando! / A viúva, o brotinho e a madame! / O velho na porta da Colombo / é um assombro! Sassaricando /// Quem não tem seu sassarico, / sassarica mesmo só! / Porque sem sassaricar / esta vida é um nó!

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Daslan Melo Lima / daslan@terra.com.br  
WhatSapp: (81) 9-9612.0904 
PASSARELA CULTURAL, edição número 752, semana de 20 a 26 de setembro de 2020 / Timbaúba, PE, Brasil.
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16 comentários:

Anônimo disse...

Sempre estou de olho na SESSÃO NOSTALGIA de PASSARELA CULTURAL. Adoro! Dessa vez, fiquei surpreso com o tema dedicado às Vedetes do Brasil, as pioneiras, e não às Misses, a alma desta secção.
Muito emocionado, pois sou bisneto de uma delas. Nossa família, apenas por uma questão de timidez e de preservação da intimidade, nunca gostou de fazer revelações sobre sua identidade.
Parabéns!!!
L.
Petropólis?Rio

Anônimo disse...


Obrigado, amigo Daslan, pelo espaço e a oportunidade dos mais jovens conhecerem um pouco a trajetória dessas mulheres fantásticas.
Elas desafiaram os costumes vigentes, sendo vanguardistas de uma nova era que nascia nos palcos, nas ruas e num género artístico brasileiro pós o Estado Novo.

Muciolo Ferreira

Anônimo disse...


KKKKKK
Encontrei Vedetes no lugar do espaço das Misses do passado.
Ameeeeiiii!!!
Sou da velha guarda e lendo a matéria, cantei Sassaricando e chorei.

Stella Albuquerque de Natal, Rio Gra. do Norte

Unknown disse...

Amei a matéria.
Muciolo tem um excelente texto.
Que bom recordar as vedetes dos anos dourados, algumas um pouco antes.
Parabéns pela iniciativa.
Afetuoso abraço. Joseli Lacerda

Anônimo disse...


Miss é perfumaria. Vedetes têm histórias, inclusive que deixavam os endinheirados pobres.
As vedetes eram belas como as misses da época de glamour.

Wilton Condé
Relações Públicas,Jornalista e Cerimonialista
Recife - Pernambuco

Anônimo disse...


Parabéns, Muciolo!
A matéria ficou muito boa e se encaixou muito bem com as fotos.
João Aurélio - Recife.

Anônimo disse...

Que DELÍCIA de matéria VOCÊ gestou, Muciolo.
De talento incontestável, como as "gostosas" que nomina.
Favor aproveitar o espaço que Daslan cedeu e nos favorecer com mais preciosidades iguais a essas.
Beijos e PARABÉNS pela verve!

Paulo d"Arce
Recife, PE

Anônimo disse...


As vedetes sempre me encantaram, desde criança.
Não é coisa de ter sido um tarado mirim, precoce, mas eu via nas páginas de O Cruzeiro a seção de Stanislaw Ponte Preta que publicava fotos das “Certinhas do Lalau”, que na maioria eram as vedetes dos anos 60.

Roberto Lima /jornalista/Recife.

Anônimo disse...


Muciolo, querido, eu achei maravilhoso o trabalho de pesquisa e o texto em si.
Importante o esclarecimento da diferença entre o trabalho de atriz e o de vedete.
As vedetes citadas foram mulheres que souberam tirar o melhor e dar o melhor para o seu público.

Eu adorei!

Lina - Recife

Anônimo disse...


Muito bom.
Wilza Carla foi vizinha de minha mãe, no ed. Safira, em Copacabana.
Dercy foi minha amiga, fez uma galinha aqui nesse apartamento nadando em óleo porque não gostava de cozido 🤣😂🤩

Fátima Bahia
Jornalista
Recife, PE

DASLAN MELO LIMA disse...

COMENTÁRIO VIA E-MAIL
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Viajei nas palavras gostosas da matéria, tão gostosas como as vedetes que foram citadas.
Meu pai tinha um álbum de recortes com todas elas.

Julio Silva (de Juazeiro da Bahia, em trânsito por Aracaju)

Anônimo disse...


Muciolo, seu texto sobre as vedetes está fantástico.
Você relembrou uma época, do século passado, quando falar de sexo era tabu. Mas as vedetes, audaciosas, brilhavam e sabiam seduzir a plateia, principalmente, masculina.

Parabéns, Muciolo.

Elizabeth Porto, jornalista, Recife.

Anônimo disse...


Respondendo ao comentário de João Aurélio sobre a boa matéria de Muciolo Ferreira:
Boas matérias são feitas por bons jornalistas/articulistas/escritores - como Muciolo Ferreira, para bons leitores - como nós. 😘

Fátima Bahia
Jornalista
Recife - PE

Anônimo disse...
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Anônimo disse...


Muciolo Ferreira: Parabéns!
É tão maravilhoso recordar e conhecer com mais detalhes essas mulheres lindas e de corpo escultural! Que já não existe mais no mundo!
Hj, td é superficial e retocado de BOTOX!
Parabéns amigo pela matéria 👏👏

Tânia Spinelli, de Washington - Distrito de Colúmbia/USA.

Anônimo disse...


Reportagem es-pe-ta-cu-lar!
Gostaria que acrescentassem o link para a marchinha carnavalesca gravada por Marlene para o Carnaval de 1960.
https://www.youtube.com/watch?v=-md1huEnBHI

Julio/ pernambucano radicado em Toronto, Canadá, há 20 anos.