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UMA CARTA DA LIGA DAS SENHORAS CATÓLICAS DE CURITIBA E TODAS AS CANDIDATAS AO TÍTULO DE MISS BRASIL 1961
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Em 03/08/1961, as senhoras Nilza Martinelli e Dalila de Castro Lacerda, respectivamente secretária e presidente da Liga das Senhoras Católicas de Curitiba, entidade que funcionava na Rua Mal. Floriano, 250, 11º andar, em Curitiba, Paraná, escreveram uma carta para D. Eloah Quadros, Primeira Dama do Brasil, nos termos abaixo. As fotos e os textos em negrito-itálico foram extraídos da revista O Cruzeiro.
A Liga das Senhoras Católicas de Curitiba, associação que representa a Mulher Cristã, solicita-lhe uma medida moralizadora sobre a maneira com que se apresentam as jovens que concorrem aos concursos de beleza, quando se expõem da maneira mais deprimente e aviltante, em diminuição ao nosso valor, para um apreciamento não do belo mais sim do ridículo comprometendo a educação das novas gerações e influindo no futuro das nossas filhas e netas.
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Reprodução do original da carta |
Pouca gente entendeu por que o Presidente Jânio Quadros apertou um botão no Planalto contra a ingenuidade do maiô em concurso de beleza. O certo é que o lápis dourado do Presidente, propondo-se a reformular a moral das passarelas, provocou um coral de protestos femininos.
É massudo o livro dos argumentos pró-maiô. Também expressivo, nos setores sociais conservadores, é o apoio ao decreto presidencial que riscou as vitrinas da beleza do mapa dos concursos. Acotovelam-se as opiniões entre o maiô e o Presidente. De um lado, a Liga das Senhoras Católicas de Curitiba, sob a liderença de Dona Dalila Lacerda, que pediu e obteve do Presidente a proibição. De outro, os civis e militares de códigos morais menos ortodoxos – os que remam com a época, os compreensivos. Os que votam no maiô citam logo o exemplo americano. Pois até o hermético puritanismo de Tio Sam adota o maiô tranquilamente.
Concurso de beleza em Miami, Long Beach e Atlanta tem prefácio de hino nacional e sermão de padre. Se Long Beach prefere o saiote – curto e transparente, provavelmente mais sex - , não o faz por desaprovação ao maiô. Mas simplesmente porque quis ser diferente dos outros concursos. Quis dar nota estridente na passarela da Califórnia. Os americanos não aprovam os biquínis e parabiquínis, porque estes não melhoram o julgamento da plástica em relação ao maiô de saia tipo Maracanãzinho.
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Ubiratan de Lemos, repórter de O Cruzeiro, ouviu 10 personalidades : Vincent Trotta, Martha Rocha, Thereza Souza Campos, Mr. Blum, Herbert Moses, Terezinha Morango, Jorge Frias de Paula, Vera Brauner, Paulo Azeredo e Adalgisa Colombo. Nenhuma delas via imoralidade nos maiôs usados nos concursos e desaprovaram a atitude do Presidente Jânio Quadros.
Vicent Trotta, deão dos juizes de Long Beach, confessou :A beleza é pura. E inacreditável a proibição! Seria o caso de proibir, também, o uso de maiôs nas praias públicas por uma simples questão de lógica. As praias e as passarelas pertencem ao público. Que seria de uma praia sem uma bela mulher de maiô?
Jorge Frias de Paula, Presidente do Fluminense, foi categórico : Acho que esse problema de moralidade e imoralidade é uma coisa íntima. Eu não percebo o imoral no maiô.
Paulo Azeredo, do Botafogo, foi mais além : O público de passarela é de torcida, e não um fauno desvairado. A torcida é pura. E o entusiasmo, competitivo.
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Da esquerda pata direita: Neyla Loureiro Nery, Miss Amazonas; Sônia Maria de Souza Duailibe, Miss Maranhão; Daisy Maria Couto Boavista, Miss Piauí; e Inês Gomes Pessoa, Miss Paraíba.
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Jânio da Silva Quadros governou o Brasil por pouco tempo, de 31 de janeiro de 1961 a 25 de agosto de 1961. Renunciou, alegando que "forças terríveis" o obrigavam a esse ato. Assumiu o vice, João Goulart, e nossas misses poderam continuar desfilando nas passarelas com os seus maiôs.
Alguém já afirmou que "ninguém ofereceu mais lições de esperança e desilusão aos brasileiros do que Jânio Quadros". Parodiando a frase, eu afirmo que NINGUÉM OFERECEU MAIS LIÇÕES DE BELEZA E SONHOS AOS BRASILEIROS DO QUE AS NOSSAS MISSES.
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Um comentário:
Essa matéria de O Cruzeiro é muito boa e retrata bem aquela época. Imagine se essas senhoras vissem hoje que todas as modelos, misses, atrizes saem nuas nas páginas de revistas como Playboy, e ninguém vê nada demais, liberdade é tudo e paz é melhor ainda. "É proibido proibir", já dizia Caetano.
Abraços,
Raimundo Junior
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