UMA VIDA É MUITO POUCO
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Daslan Melo Lima
Recebí da educadora Eliane Souza, professora da Escola Estadual Padre Teófanes Augusto de Araújo Barros, de São José da Laje-AL, um e-mail onde ela diz: Estou entrando em contato para dizer-lhe que vamos homenageá-lo na II Amostra de Ciência e Cultura, com o tema "Vida e Obras de Escritores Alagoanos". A turma do 2º ano do Ensino Médio vai mostrar a vida e a obra dos 15 alagoanos mais conhecidos por nós daqui de São José da Laje, tais como Graciliano Ramos, Teotonio Vilela, Ledo Ivo, Jorge de Lima, Djavan... Gostaria de contar com os seus poemas e crônicas para apresentarmos no evento. Por isso, estou enviando este e-mail para solicitar sua permissão com relação à divulgação do seu trabalho, assim como obter fotos e material que serão de grande serventia para os alunos, pois os mesmos estão buscando fontes bibliográficas para apresentar na amostra. Desde já, fico muito agradecida e ao mesmo tempo faço o convite para que esteja em nossa terra nos dias 1º e 02 de dezembro. Agradeço por tudo, principalmente pela sua existência lajense. Atenciosamente, Eliane Souza, Professora da Escola Padre Teófanes - São José da Laje, Alagoas.
São José da Laje, a cidadezinha alagoana onde nasci, já foi tema de muitas inspirações para meus poemas e crônicas. Um famoso ditado diz que "em sua terra ninguém é poeta".Sempre discordei da frase e o reconhecimento em vida pelas coisas que escrevo inunda minh'alma de emoção.
"Desde já agradeço por tudo e principalmente pela sua existência lajense" - diz a professora Eliane Souza. São José da Laje foi construída em cima de um mágico leito de pedras, daí a origem do nome da cidade e do gentílico lajense. Somos eternos aprendizes, mas vivi em São José da Laje os anos mais importantes da minha vida, aqueles que servem de base para a formação do caráter e da personalidade. Sou grato aos Mistérios da Vida e da Morte por minha existência lajense. Uma vida é muito pouco. Mil vidas que eu possa ainda viver neste planeta de provas e expiações, gostaria que DEUS me desse São José da Laje como berço.
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Timbaúba-PE, 05/11/2011.
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Timbaúba-PE, 05/11/2011.
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MINHA ÚLTIMA CRÔNICA DE OUTUBRO DE 2011Daslan Melo Lima
Diante de mim, a tela do computador, onde digitarei a minha última crônica do mês de outubro de 2011. Com a mesma rapidez com que chegou, o décimo mês do ano está indo embora. Faço uma pausa e vou para a frente do espelho. Fico satisfeito com a imagem que ele reflete, apesar das marcas que os outubros deixaram em meu rosto. Sei que estou mais sábio com as lições da caminhada, mas isso o espelho não reflete. Sorrio para ele e volto a digitar minha última crônica de outubro de 2011.
Um frio e uma presença estranha me envolvem. Paro de digitar. Algumas lágrimas escorrem pelo meu rosto. Em silêncio, pergunto ao menino que um dia eu fui quantos outubros ainda viverei. Como ele não responde, contento-me em fazer planos apenas para mais um ano, até outro 17 de outubro, quando farei aniversário.
E com um sorriso nos lábios e o coração inundado de fé em DEUS, o homem que sou termina aqui sua última crônica de outubro de 2011.
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Timbaúba-PE, 29/10/2011
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COM OS AMANTES DE OUTUBRO ( E DE TODOS OS MESES )
Daslan Melo Lima
Ele geme, e cheira, e toca, e possui. Ela sussurra, e gosta, e pega e se entrega. Ela geme, e cheira, e toca, e possui. Ele sussurra, e gosta, e pega e se entrega.
Fui mais um alquimista que lutou, chorou, pelo avesso se virou e vários engimas não decifrou. Desisti de perder muito tempo com as perguntas sem respostas.
Convivi com enigmas chorando meu pranto, que era mais pranto no silêncio do meu canto. Convivo com os mistérios da vida e da morte cantando meu canto, que é mais canto nos mágicos momentos de encanto. E se choro meu pranto com os amantes de outubro (e de todos os meses), também canto meu canto, nesta roda de desencanto e encanto.
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O apito, a estação, um trem de passageiros. Imagens fortes da minha infância alagoana em São José da Laje. Parodiando "Encontros e Despedidas", a bela música de Milton Nascimento e Fernando Brant, todos os dias era um vai e vem, a vida se repetia na estação. Tinha gente que chegava para ficar. Tinha gente que vinha e queria voltar. Tinha gente que ia e queria ficar. Tinha gente que vinha só olhar. Tinha gente a sorrir e a chorar. E assim chegar e partir eram só dois lados da mesma viagem.
Hoje, em São José da Laje, não se ouve mais apito, a estação está em ruínas e o trem só existe em meus sonhos.
Também já não há mais trens de passageiros em Timbaúba, minha adotiva terra pernambucana, apenas um melancólico trem de cargas que passa eventualmente.
O menino que um dia eu fui adora ver o trem timbaubense passar. Em pensamento, ele restaura a estação de São José da Laje, trás ela para Timbaúba, e de mãos dadas com o homem que sou mergulha na sabedoria da bela canção. “O trem que chega é o mesmo trem da partida / A hora do encontro é também despedida / A plataforma dessa estação é a vida desse meu lugar / é a vida desse meu lugar.”
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Timbaúba-PE, no 15º dia de outubro de 2011.
É OUTUBRO OUTRA VEZ *****
É outubro outra vez, um mês muito especial para mim, pois foi em uma tarde alagoana de São José da Laje, no dia 17 de outubro de um ano que se foi, para sempre se foi, que nasci.
Durante muito tempo, a minha relação com o décimo mês do ano foi marcada por conflitos. Envolvido com os mistérios da vida e da morte, e com mil perguntas sem respostas, eu não via sentido celebrar aniversário.
Amadureci. Mudei com o tempo, para alegria do menino que um dia eu fui. Hoje, sinto-me bem com a chegada de outubro, mesmo sabendo que envelheço e morro a cada ano.
E porque é outubro, canto a minha canção. São versos que, antes de terem sido escritos, foram vividos até as últimas conseqüências, com corpo, alma e coração.
Durante muito tempo, a minha relação com o décimo mês do ano foi marcada por conflitos. Envolvido com os mistérios da vida e da morte, e com mil perguntas sem respostas, eu não via sentido celebrar aniversário.
Amadureci. Mudei com o tempo, para alegria do menino que um dia eu fui. Hoje, sinto-me bem com a chegada de outubro, mesmo sabendo que envelheço e morro a cada ano.
E porque é outubro, canto a minha canção. São versos que, antes de terem sido escritos, foram vividos até as últimas conseqüências, com corpo, alma e coração.
MINHA CANÇÃO DE OUTUBRO
Daslan Melo Lima
Seja bem-vindo, meu amado mês de outubro.
Pode contar meus desamores e desilusões.
Com o silêncio e o vento, aprendi a lhe amar,
mesmo com a ausência de amores e ilusões.
Seja bem-vindo, meu amado mês de outubro.
Foi com você que vim cunprir uma jornada.
Atravessei tempestades, sonhos e pesadelos,
até amadurecer com as lições da caminhada.
Seja bem-vindo, meu amado mês de outubro.
Há fé em minhas mãos de esperança.
Ajuda-me a espalhar sabedoria ao nosso redor,
até que o abismo seja diluído em lembrança.
Seja bem-vindo, meu amado mês de outubro.
Por um mundo melhor colabora o meu coração.
Deus colocou este sorriso no meu rosto
e deu-me harmonia para cantar esta canção.
EU E AS GARÇAS
Daslan Melo Lima
Todas as tarde, dezenas de garças passam voando no céu do bairro onde moro, em Timbaubinha, zona norte de Timbaúba. Quando o relógio se aproxima das 17 horas, elas vêm das zonas sul e oeste em direção à zona rural do distrito de Queimadas. Sempre que estou em casa, vou para a calçada admirar o belo espetáculo.
Gostaria que os meus braços também tivessem as funções de asas. Que maravilha seria poder voar! Mas é melhor assim, não ter asas para voar. Compenso a falta delas com os meus pensamentos. Eles voam mais rápido e vão mais longe do que as garças. Ultrapassam o céu em busca de respostas para o sentido da minha caminhada, e com a graça de DEUS voltam em harmonia.
Abençoadas sejam estas garças que todas as tardes me oferecem de graça abençoados momentos de graças.
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SOLIDÃO É MUITO MAIS QUE ISTO
Daslan Melo Lima
Há uma grande diferença entre estar só e se sentir só. Você pode ter alguém ao lado, dividindo a mesma casa e a mesma cama todos os dias, e mesmo assim se sentir só. Você pode se sentir bem, apenas acompanhado de você mesmo, sem uma companhia, e se sentir só com gente ao redor. Quem tem excelentes definições sobre o assunto é Fátima Irene Pinto, poetisa mineira. Ela diz o seguinte:
Solidão não é a falta de gente para conversar, namorar, passear ou fazer sexo. Isto é carência. Solidão não é o sentimento que experimentamos pela ausência de entes queridos que não podem mais voltar. Isto é saudade.
Solidão não é o retiro voluntário que a gente se impõe às vezes para realinhar os pensamentos. Isto é equilibro. Tampouco é o claustro involuntário que o destino nos impõe compulsoriamente para que revejamos a nossa vida. Isto é um princípio da natureza.
Solidão não é o vazio de gente ao nosso lado. Isto é circunstância.
Solidão é muito mais que isto. Solidão é quando nos perdemos de nós mesmos e procuramos em vão pela nossa Alma.
O fato de uma pessoa morar só e sempre ser vista só não significa, necessariamente, que ela sofra de Solidão. Por experiência própria, concordo plenamente que Solidão é muito mais que isto. Solidão é quando nos perdemos de nós mesmos e procuramos em vão pela nossa Alma.
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Timbaúba-PE, na noite do último sábado de setembro de 2011, enquanto estou só, circunstancialmente só.
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MANITO, UM GAROTO QUE COMO EU AMAVA OS BEATLES E OS ROLLING STONES
Daslan Melo Lima
Como dói ver a carruagem do tempo passar atropelando e levando tantas coisas boas que foram referências em nossas vidas. O menino que um dia eu fui ficou triste, muito triste, ao saber da morte de Manito, saxofonista do conjunto Os Incríveis, uma legenda da jovem guarda.
Antônio Rosas Seixas, o Manito, faleceu no dia 09 deste mês. Ele estava com câncer na laringe e se tratava desde 2006. Natural da Espanha, nascido em 03/04/1944, Manito, antes de Os Incriveis, fez parte do grupo The Clevers. Depois dos Incríveis, montou o grupo "Som nosso de cada dia", e em 1970 gravou um disco solo, O Incrivel Manito.
Nas festas aonde vou, quando tocam músicas dos anos 60, danço e canto, mas choro em silêncio pelas perdas que a minha geração já enfrentou. Da próxima vez que eu escutar “Era Um Garoto que como eu amava aos Beatles e os Rolling Stones”, um dos maiores sucessos de Os Incriveis, mais uma lágrima se somará a outras e outras, por Manito e por todos os garotos que como eu amava os Beatles e os Rolling Stones.
Era um garoto que como eu amava os Beatles e os Rolling Stones. / Girava o mundo sempre a cantar as coisas lindas da América. / Não era belo, mas mesmo assim havia mil garotas a fim./ Cantava Help and Ticket to ride, oh! Lady Jane and
Yesterday. / Cantava viva à liberdade, mas uma carta sem esperar / da sua guitarra o separou, fora chamado na América. / Stop! Com Rolling Stones! Stop! com Beatles songs! / Mandado foi ao Vietnã, brigar com os vietcongs./ Tá-tá...tá-tá... /// Era um garoto que como eu amava os Beatles e os Rolling Stones. / Girava o mundo mas acabou, fazendo a guerra do Vietnã. / Cabelos longos não usa mais, não toca a sua guitarra e sim / um instrumento que sempre dá a mesma nota ra-tá-tá-tá. / Não tem amigos, não vê garotas, só gente morta caindo ao chão. / Ao seu país não voltará, pois está morto no Vietnã. / Stop! Com Rolling Stones! Stop! Com Beatles songs. / No peito um coração não há, mas duas medalhas sim./ Tatá-ratatá...Ra-tá-tá-tá tá-tá
Yesterday. / Cantava viva à liberdade, mas uma carta sem esperar / da sua guitarra o separou, fora chamado na América. / Stop! Com Rolling Stones! Stop! com Beatles songs! / Mandado foi ao Vietnã, brigar com os vietcongs./ Tá-tá...tá-tá... /// Era um garoto que como eu amava os Beatles e os Rolling Stones. / Girava o mundo mas acabou, fazendo a guerra do Vietnã. / Cabelos longos não usa mais, não toca a sua guitarra e sim / um instrumento que sempre dá a mesma nota ra-tá-tá-tá. / Não tem amigos, não vê garotas, só gente morta caindo ao chão. / Ao seu país não voltará, pois está morto no Vietnã. / Stop! Com Rolling Stones! Stop! Com Beatles songs. / No peito um coração não há, mas duas medalhas sim./ Tatá-ratatá...Ra-tá-tá-tá tá-tá
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Timbaúba-PE, no terceiro sábado frio e chuvoso de setembro de 2011.
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