Daslan
Melo Lima
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Este é o terceiro e último capítulo da reportagem “Seriam as gaúchas as
mais lindas brasileiras?” escrita por um leitor gaúcho, assíduo
visitante desta secção, que prefere ser conhecido no mundo miss apenas
como Silveira/Pel. A matéria tinha sido enviada por ele para o site www.voy.com/185349.com , que não publicou o
texto. Silveira/Pel repassou o mesmo para mim, o qual , devidamente
autorizado pelo autor, foi dividido em três capítulos. O primeiro capítulo saiu
na edição de PASSARELA CULTURAL de 14 de julho, http://passarelacultural.blogspot.com.br/2012/07/sessao-nostalgia.html
e o segundo na semana passada. As minhas únicas intervenções no trabalho do
Silveira/Pel foram as inserções de imagens de algumas beldades citadas na
matéria. Acredito que todos concordam comigo: o texto do Silveira/Pel é uma pérola que enrique as crônicas sobre o mundo
miss, bem escrito, elegante, primoroso e lúcido.
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SERIAM AS GAÚCHAS AS MAIS LINDAS BRASILEIRAS? - Capítulo 3 - Final
Texto de Silveira/Pel
A grande maioria das Rainhas das Piscinas , bem como das misses de todo o
país, das primeiras décadas do Miss Brasil, eram beldades pertencentes a uma
classe média com mais acesso aos bens de consumo que lhes valorizavam a beleza.
Elas faziam parte de uma juventude dourada impregnada da vida glamurosa
das grandes divas do cinema norte americano, que elas se encantavam vendo
em películas filmadas em ambientes requintados, onde tudo lhes servia de
inspiração. Estas jovens, desde o aniversário de quinze anos já de salto alto,
sem essa do jeans e do tênis, muito cedo participavam de bailes, de desfiles
beneficentes, de concursos menores, enfim, de uma vida social bem mais intensa
e sofisticada, de forma que, quando chegavam ao Miss Brasil, já estavam
prontas, não precisavam de meses de preparação. Isto também ocorreu
praticamente com todas as beldades brasileiras das primeiras décadas do Miss
Brasil, que a maioria das vezes eram eleitas muito pouco antes do Miss Universo,
com tempo precário até para a preparação do próprio enxoval, e que logo partiam
para o exterior, o que não as impedia de ficarem, quase sempre, pelo menos
entre as quinze semifinalistas. E, aqui no Rio Grande do Sul, lembro-me, o
certame estadual chegava a ser realizado até uma semana antes do Miss Brasil.
Nesta última década em que voltei a acompanhar os concursos de miss, aqui no
estado, temos tido vitoriosas como Fabiane Niclotti, Natália Anderle, Ruth
Böch, Juceila Bueno, verdadeiras cinderelas a se alçarem repentinamente nesse
mundo cada vez mais complexo, competitivo e sofisticado de
miss. Rejane foi a precursora delas, e só não chegou ao título máximo por
enfrentar uma australiana de muito mais cancha. Mas ela rendeu tudo o que podia,
sendo ajudada, que isto seja ressaltado, por um suntuoso traje de gala da
figurinista da elite gaúcha, que lhe valorizou a beleza, ao contrário de
Fabiane, a quem enfiaram aquele vermelhão e, recentemente, de Juceila
que, com um preto muito feio, deve ter aí perdido pontos preciosos
no momento talvez decisivo para sua classificação. Quanto à Juceila, ainda foi
ignorado o lembrete de que, com um leve retoque na ponta do nariz, ela teria se
tornado muito mais competitiva. É o tabu contra as cirurgias plásticas, refiro-me
às necessárias e bem feitas, inexistente na Venezuela, e que contribuiu para lhe
conferir nesse mesmo Miss Mundo mais um título internacional.
Natália Anderle, Miss Rio Grande do Sul e Miss Brasil 2008. Foto: Divulgação.
Assim, as misses gaúchas mais recentes, não mais sendo sempre escolhidas entre
jovens já prontas, nem sendo a mais bela da cidade que representou, mesmo
assim, elas tem vencido o Miss Brasil com alguma frequência, apesar de suas
maiores limitações pessoais, além de não serem ajudadas convenientemente, tanto
naquilo que lhes dão para vestir, como no meio litro de silicone em cada seio
que colocados em Fabiane e em menor quantidade e desnecessariamente também em
Juceila, deixaram-lhes com a falsa aparência de gordas, quando fotografadas em
plano americano, aquele da cintura para cima. Apesar da maior falta de preparo
de nossas misses mais recentes, vale ressaltar, no entanto, o fato muito
positivo de os certames de beleza estarem se transformando em mais um veículo
de ascensão social para essas jovens de origem mais modesta.
E para o último Miss RS já realizado, o missólogo gaúcho nos brindou com mais
um punhado de belas candidatas, como poucas vezes a gente costuma ver nos
certames com vistas ao Miss Brasil. E, para comprovarmos isso, basta acessarmos
o voy Miss Rio Grande do Sul, de Ander. Mas não vou afirmar que este grupo de
bonitas concorrentes possa ser outro indício de que aqui estejam as mais belas
mulheres do Brasil. Afinal, muito bem se pode justificar este fato com o argumento
de estarem aqui, não as mais belas, mas o maior número de belas interessadas em
participar desse tipo de competição.
Também vou considerar como um ponto de vista meramente pessoal, ainda que
embasado em sua longa vivência profissional, em seu olho acurado de fotógrafo,
a afirmação de Marcos 56 de ter encontrado no RS as mais lindas brasileiras. Em
seu favor, ainda existe o fato dele não poder ser acusado de bairrista, como
costumam fazer comigo, quando simplesmente procuro defender certas misses
gaúchas, e como já o fiz com não gaúcha, goste ou não de suas belezas, de
agressões as mais pesadas que estas costumam ser alvo. Também não pactuo, na
controvérsia provocada por Marcos 56 com a maneira agressiva como foi
rechaçado o critério territorial usado por Marcos para fazer sua
constatação sobre as mais lindas do país. Por que não se poder usar este
critério estadual se, no território de muitas dessas antigas capitanias
coloniais, dessas províncias da época do Império, de muitos de nossos estados
brasileiros atuais, deram-se processos muito peculiares, muito próprios de
ocupação desses espaços, caso do RS? Também vou deixar como mais um bairrismo
nostálgico a declaração de um conterrâneo e velho amigo, com quem fiquei
embasbacado com a beleza das russas, colega dos tempos de colégio que há
décadas foi morar em capital brasileira fora do RS, de que tem ele prazer de
retornar à cidade natal, dentre outras razões, para se deleitar na admiração
das mulheres bonitas que costuma encontrar por aqui, ao acaso.
Ruth Böch, A Mais Bela Gaúcha 2009,
Miss Brasil Germany 2011 e Garota Verão Agudo 2011. O título de Miss Brasil Germany foi conquistado na noite de 14/05/2011, quando 26
descendentes de alemães disputaram o título. Os 14
jurados eram do consulado alemão e representantes de agências de modelo de São
Paulo e Rio de Janeiro, que após três desfiles - um com roupa vermelha, outro
com vestido de gala e o último com maiô - elegeram a representante da cidade de
Agudo, Ruth Böch, 18 anos. Além do título a bela ganhou uma viajem de oito dias
para a Alemanha, França e Holanda. Rute foi Top 5 no Miss
Rio de Janeiro 2011, representando Guapimirim.
Falta, por fim, uma reflexão sobre mais um indício de que estariam no RS as
mais belas brasileiras, isto quando Ander traz a informação de que são gaúchas
o maior número de garotas que trabalham nas agências de modelo brasileiras. Se
não quisermos concordar com Ander, até se poderia contra argumentar afirmando
que elas estão aí em maior número, simplesmente porque é no RS que estaria a
maioria das interessadas nesse tipo de trabalho. Mas surgiu então, nos replies
àquele banner de Marcos 56, um argumento considerado como definitivo, por quem
o esgrimiu, e por quem o apoiou entusiasticamente, com o qual não
concordo. Assim, para esses, se existem mais gaúchas trabalhando nas
agências de modelo do país, não é por serem as mais belas, mas porque são elas
que tem mais o perfil que a publicidade procura, pele, olhos e cabelos claros,
aliado ao biótipo herdado da colonização européia. Que, se o perfil vigente
fosse outro, elas certamente não seriam a maioria. E foi arrematada esta idéia
com outra afirmação, contundente para um replicante, de que “a mídia e a
cultura brasileira favorecem a beleza dita européia. E que isso acaba refletindo-se
nos concursos de beleza”. Por tudo isso, então, as gaúchas são as que costumam
aparecer em maior número.
A estas últimas argumentações conjugadas contra a tese de Ander, vou aqui
refutá-las reproduzindo texto de um replie meu que não chegou a ser publicado
naquele debate: “Não haverão de querer”, afirmava eu, “que a mídia, a cultura
brasileira, as agências de modelo e até os jurados dos concursos de
beleza se guiem em suas escolhas pelo ideal de beleza dominante em nossas
reservas indígenas, ou no que sobreviveu de nossos mocambos, ou o no interior
das florestas do Congo, ou nas savanas da África, ou no Butão, ou entre os
esquimós da América do Norte. É mais do que natural que todos aqueles segmentos
arrolados guiem-se pelos padrões de beleza feminina da cultura ocidental na
qual estamos inseridos, padrão este, diga-se de passagem, amplamente flexível,
que não exclui belas afrodescendentes, nem africanas, está aí Leila Lopes, Miss
Universo, além de inúmeras modelos negras em nossas agências, nem exclui
orientais, caso de Akiko Kojima, ou sua miscigenação, aí está Cesar Curti para
confirmar minhas colocações. Quanto à presença ainda reduzida de afrodescendentes nos concursos de beleza e nas agências de modelo aqui no Brasil,
isto é uma verdade que tem causas muito mais complexas do que a acusação
simplista de discriminação. Isto teria de ser assunto para uma reflexão
muito mais profunda e isenta de meros e demagógicos chavões.
Juceila Bueno, representante brasileira no Miss Mundo 2011. (Fotos: Divulgação).
E, pensando bem, embora seja uma questão instigante esta suscitada por Marcos
56, acho que não chega a ter maior relevância a definição de onde se localizam
as mulheres mais lindas do Brasil, ou onde estão em maior número, se é que não
se encontram equitativamente distribuídas por todo o território nacional.
Deixemos de lado tais questões, principalmente se a resposta a elas
servir para criar melindres. Mais importante é conseguir trazê-las em
quantidade e qualidade para os certames estaduais, e que estes sejam realizados
com isenção, com competência, de forma transparente, e que nós, seus
seguidores, não nos atiremos sobre candidatas que porventura nos desagradem com
preconceitos, com bizantinismos plenos de casuísmos oportunistas, com
prevenções e mesquinhas rivalidades regionais, nem despejando sobre elas nem
sobre os missólogos nossas neuroses, nossas mesquinhezas, nossa necessidade de
agredir, nossa falta do mais comezinho polimento. Tudo isso termina
afugentando ainda mais as verdadeiras beldades da participação em quaisquer dos
Miss Brasil, já que existem outros caminhos menos desgastantes e
muito mais gratificantes. Apreciadores dos concursos de belezas, vamos procurar
fazer da melhor forma nossa parte.
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Um comentário:
Acompanhei todos os capítulos desta série e adorei tudo que o Silveira/Pel escreveu.
Nota DEZ!!!!!
Antonio - Natal
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