Daslan Melo Lima
Era junho de 1958. Um desastre de avião ocorrido em Curitiba, Paraná, tinha deixado oito sobreviventes, entre eles o deputado estadual Lerner Rodrigues. Entre os mortos estavam o senador Nereu Ramos, o deputado Leoberto Leal e o governador catarinense Jorge Lacerda. A Seleção Brasileira de Futebol fazia uma excelente campanha na Copa do Mundo, nos estádios da Suécia.
Embora esses assuntos fossem de interesse para a população brasileira, as misses estavam em primeiro lugar. Misses na capa de uma revista era sinônimo de recorde de vendas. E como prova disso, eis Adalgisa Colombo, Miss Distrito Federal (Rio de Janeiro), na capa da Manchete, número 323, ano 6, de 28/06/1958. A chamada de capa "Vaiada Adalgisa Chorou" ganhou mais destaque do que o desastre aéreo e a Copa do Mundo. A revista faz parte do meu acervo e está com marcas inevitáveis de seis décadas de existência.
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Adalgisa chorou vitória e vaias
Porque foi vaiada pelo público ao ser eleita Miss Distrito Federal 1958, Adalgisa Colombo chorou ao receber a faixa no Maracanãzinho e saiu correndo para o camarim, dizendo que "se tivesse sido derrotada estaria me sentindo como hoje, em que um júri me deu a vitória."
O público vaiou Adalgisa porque preferia Ivone Richter, Miss Riachuelo, segunda colocada. Quando Adalgisa fazia pose na passarela, a pedido dos fotógrafos, era vaiada. Assim que Ivone Richter dela se aproximava, o público aplaudia, pretendendo dizer: "Essa sim!"
Ao entrar no camarim, depois de eleita, e ouvindo muita gente dizer que o resultado fora "uma autêntica marmelada Colombo", Adalgisa recebeu uma anágua jogada (depois ela soube) por uma das candidatas derrotadas. Ela quis reagir, mas um repórter a segurou e disse: "Adalgisa, você agora é Miss Distrito Federal !"
Com os olhos em lágrimas e vermelhos, desde que foi proclamada vencedora até voltar para casa, de madrugada, Adalgisa deixou-se fotografar demoradamente no Maracanãzinho e disse depois da vitória que ficara emocionada e "não esperava a péssima recepção que tive. Foi falta de educação de muita gente". Rebatendo os que chamavam o concurso de marmelada Colombo, Adalgisa disse: "Não pedi nada a ninguém. A programação do concurso foi perfeita. Não contava, inclusive, com a vitória, porque esperava que Miss Riachuelo, que considero linda, fosse a vencedora". Adalgisa disse que só duas ou três das vinte e seis candidatas não a trataram bem depois da vitória.
"Adalgisa sofre forte crise de choro quando, vitoriosa, foi muito vaiada."
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Entre fortes aplausos
"Ivone Richter, do Riachuelo, era a preferida do público. Recebeu o segundo lugar com a maior elegância e esportividade entre fortes aplausos." ***** Detalhe: O sobrenome de Ivone na revista foi escrito como Ritcher, mas editei aqui como Richter, o correto. A propósito, a Miss Riachuelo 1958 é mãe da atriz Alexandra Richter.
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"As duas favoritas Ivone e Adalgisa tiveram sorrisos diferentes. Além da faixa, Adalgisa Colombo ganhou um anel de platina francesa, com duas pérolas, branca e cinza."
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Um erro na chamada do Top 5
Da esquerda para a direita,
Denise Leyraud, Miss Fluminense Futebol Clube, sexto lugar; Ivone Richter, Miss
Riachuelo, segundo lugar; Adalgisa
Colombo, Miss Botafogo de Futebol e Regatas, primeira colocada; Avani Maura
Fonseca, Miss Clube Militar, quarto lugar; e Mirna Abi-Saber, Miss Clube de
Regatas Vasco da Gama, quinto lugar. ***** Erraram na chamada do Top 5. O que
aconteceu? Chamaram Denise Leyraud, a sexta colocada, e esqueceram de chamar a
terceira, Ivone Gonçalves, Miss Clube da Aeronáutica. "Miss Aeronáutica, terceira colocada, não foi anunciada no final do concurso, tendo sido Miss Clube Militar chamada em seu lugar. O público já havia saído quando o erro foi percebido. Resultado: Miss Aeronáutica não posou para todos os fotógrafos no palco e teve de posar no camarim, só para alguns."
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Depois daquela noite de 14 de junho de 1958, Adalgisa Colombo venceu o concurso Miss Brasil, enfrentando outra vez a insatisfação da maioria do público presente ao Maracanãzinho, que torcia pela pernambucana Sônia Maria Campos, segunda colocada. Também ganhou visibilidade internacional, ao conquistar o segundo lugar no Miss Universo 1958. Nascida no Rio de Janeiro em 11/01/1940, Adalgisa faleceu em 18/01/2013, na mesma cidade que a projetou para a fama, deixando seu nome como um ícone da beleza brasileira.
Estamos a um passo do Miss Brasil 2018, a ser realizado no dia 26 deste mês, no Rio Center. Também a um passo da Copa do Mundo, que começa no dia 14 do próximo mês, na Rússia.
Não é proibido sonhar. Penso no concurso Miss Brasil sendo realizado no Maracanãzinho. Fantasio as revistas de maior circulação no País colocando a vencedora na capa, deixando em segundo plano as notícias sobre corrupção na política brasileira.
Imagino as histórias de um tempo que se foi ecoando nas madrugadas silenciosas do Maracanãzinho. Histórias como a de Adalgisa Colombo recebendo uma anágua jogada por uma das candidatas derrotadas. Ela querendo reagir, mas um repórter a segurando e dizendo: "Adalgisa, você agora é Miss Distrito Federal !"
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Outras secções SESSÃO NOSTALGIA sobre o assunto:
- Concurso Miss Distrito Federal 1958,
- Ivone Richter, Vice-Miss Distrito Federal 1958
2 comentários:
Já estou de volta e a sua disposição.
Adalgisa é sempre vista com saudade e tristeza naquela foto, da MGB 1958, chorando.
Esteja em paz, Gisah.
Um abraço a você e Muciolo.
J. Botafogo
Alo Daslan!
Que legal rever essas reportagens fantásticas da época de ouro do Miss Brasil. E com fotos antológicas, marcantes. Só Daslan para trazer de volta os bons tempos do concurso. Bom ter de volta também o expert na matéria, J.Botafogo, dono de um precioso acervo fotográfico das misses de antigamente, além de ser um profundo conhecedor de histórias dos bastidores que fariam tremer até a Torre Eiffel, se reveladas.
Quanto a Adalgisa Colombo, apesar de todas as polêmicas geradas com sua eleição no Miss Distrito Federal e Brasil, na minha modesta opinião foi a mais classuda e elegante miss eleita até hoje. Depois da Gisah (com a permissão do J. Botafogo) só Lúcia Peterlle chegou perto.
Abraços ao Daslan, ao J. Botafogo e demais amigos.
Muciolo Ferreira
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