Editorial do jornal Diario de Pernambuco, Recife, PE,
25/08/2017 - Imagens reproduzidas da internet.
O Brasil tem muito o que aprender quando se trata de tolerância e
preconceitos de naturezas diversas. Dois casos ocorridos esta semana, um
nacional e outro local, servem como balizadores do ódio que é disseminado e
agora potencializado em redes sociais de relacionamento na internet e em
aplicativos de celulares. O primeiro diz respeito à Miss Brasil 2017, a
recém-eleita piauiense Monalysa Alcântara, vítima de recorrentes ataques
racistas após receber a coroa no concurso de beleza desbancando outras 26
concorrentes. Universitária e modelo de 18 anos, a terceira negra eleita no
país em 60 edições do Miss Brasil foi chamada de “plebeia”, “empregadinha” e
houve até quem desejasse a morte para ela antes do Miss Universo.
Em Pernambuco, a fúria de muitos se voltou contra o casal formado por
Taynan dos Prazeres e Yudi dos Santos, o primeiro transsexual-pai de
Pernambuco. Os dois moram em São Lourenço da Mata e são pais de Ariel, um bebê
de um mês que ganhou nome agênero, ou seja neutro, e que será criado dentro da
mesma filosofia. Segundo eles, Ariel será orientado sem binarismo para que no
futuro possa escolher ser e viver como mulher ou homem.
Não só a notícia, dada com exclusividade nas páginas do Diario de
Pernambuco e tratada como indicativo de um fenômeno social que começa a ser
visto no mundo, mas os próprios personagens se transformaram em alvo de
centenas de ataques verbais. A família da criança diz ter se sentido intimidada
diante de tamanha reação negativa dos leitores.
O tema é dos mais delicados. Até mesmo entre simpatizantes e militantes
da Comunidade LGBT surgiu divergência sobre o futuro que está sendo construído
para Ariel. Compreende-se. Aceita-se. Debates sobre excessos, valores,
sexualidade, gênero e sobre o futuro que queremos e teremos são opiniões
moldagem para o novo mundo, que está aí e não se pode negar.
Tanto no caso de Ariel quanto no caso de Monalysa o que não é aceitável
é a falta de respeito para com os outros. Até que ponto a divergência e a
contrariedade diante de algo com o qual não se apoia dão livre passagem para
que um cidadão provoque ou ataque o outro como bárbaros embrutecidos?
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