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quinta-feira, 25 de setembro de 2008

SESSÃO NOSTALGIA - Ingrid Schmidt, Miss Rio de Janeiro 1955, o perfume que ficou



          É de Ingrid Schmidt, acima, em foto pertencente ao acervo do Labhoi, Laboratório de História Oral e Imagem da Universidade Federal Fluminense, que falarei neste espaço especial. Ela morreu segunda-feira, 22 de setembro. Simpatia, beleza, classe, elegância, educação, inteligência e  desembaraço fizeram da eterna Miss Rio de Janeiro uma das favoritas ao título de Miss Brasil 1955.

           Primeiro do que tudo é preciso situar a figura de Ingrid Schmidt na madrugada de um sábado distante, 25 de junho de 1955. Eram 19 moças que sonhavam ser Miss Brasil e ocupar o trono da baiana Martha Rocha, famosa pelo segundo lugar conquistado no Miss Universo 1954. O grande salão do teatro mecanizado do Hotel Quitandinha estava lotado e o público aplaudiu delirantemente quando Paulo Porto e Lourdes Mayer anunciaram as cinco finalistas. Emília Barreto Corrêa Lima, Miss Ceará, oito pontos, primeiro luigar; Annete Stone, Miss Amazonas; Ingrid Schmidt, Miss Rio de Janeiro; e Ethel Chiaroni, Miss São Paulo, empatadas para o segundo lugar com dois pontos cada uma; e  Gilda Medeiros, Miss Pará,um ponto, terceiro lugar.


As cinco finalistas do Miss Brasil 1955, da esquerda para a direita: Miss Amazonas, Annete Stone; Emília Corrêa Lima, Miss Ceará; Ethel Chiaroni, Miss São Paulo;Ingrid Schmidt, Miss Rio de janeiro; e Gilda Medeiros, Miss Pará. (Foto O CRUZEIRO,09/07/1955).
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Ingrid Schmidit
Revista Manchete Esportiva, nº 2, 1955.

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          Ingrid Schmidt Grael, matriarca da família de maior sucesso do esporte olímpico brasileiro,  morreu na manhã de segunda-feira, 22 de setembro, vítima de câncer. Aos 70 anos, ela estava internada no Hospital Samaritano, no Rio de Janeiro, e há um ano convivia com problemas causados pela doença. O enterro foi na segunda, às 17 horas, no Cemitério Parque da Colina, no Alto de Pendotiba, em Niterói. A vida de Ingrid foi sempre ligada ao esporte. Ela foi campeã de tênis na juventude. Seu pai, Preben Schmidt, foi um dos pioneiros da vela no país e iniciou todos os seus filhos na modalidade. Os gêmeos Erik e Axel, irmãos de Ingrid, foram os primeiros brasileiros campeões mundiais da vela, em 1961, na classe Snipe.

          Em 2005, foi madrinha do Brasil 1, barco brasileiro que deu a volta ao mundo e terminou a Volvo Ocean Race na terceira posição. Por causa dos filhos, ela costumava brincar que era "A Maior Mãe do Esporte Olímpico Brasileiro".
          Ingrid teve três filhos: Axel (velejador ambientalista) e os campeões olímpicos Torben e Lars Grael. Torben Grael, 48 anos, é o maior medalhista olímpico do país e velejador com o maior número de medalhas do planeta: ele tem dois ouros (Atlanta-1996 e Atenas-2004), uma prata (Los Angeles-1984) e dois bronzes (Seul-1988 e Sydney-2000). Lars, 44 anos, conquistou duas medalhas de bronze olímpicas, em Seul-1988 e Atlanta-1996. Em 1998, sofreu um acidente e teve de amputar a perna direita. Foi secretário de Esportes em São Paulo e trabalhou no Ministério dos Esportes em Brasília. Voltou a velejar e foi vice-campeão mundial da classe Mini-Maxi, regra ORC, comandando uma tripulação de deficientes físicos.


Ingrid Schmidt, vice-Miss Brasil 1955 - Foto Manchete, 02/07/1955

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          Ingrid não se destacou na vela como seus irmãos ou como dois de seus três filhos. Mas sempre foi o espírito esportivo, o bom humor em pessoa, a contadora de histórias. Do drama de ter o marido, Coronel Dickson Grael, perseguido pela repressão que queria calá-lo sobre o episódio da bomba do Riocentro ao episódio da perda de uma das pernas de seu filho Lars, ela sempre conseguia tirar uma lição, uma história para contar sorrindo. Ela transmitia um carinho enorme pelos filhos, netos, noras e amigos. Era respeitada e amada por todos da vela, especialmente os contemporâneos de seus filhos. Em sua casa, as bandejas que serviam doces e salgados em festas, eram na verdade bandejas de premiações de campeonatos conquistados pelos filhos e até mesmo por seu pai. Usando a gente cuida mais, não fica com ferrugem e damos uma utilidade prática para elas, simplificava Ingrid, apontada por muitos como a mais bela Miss Rio de Janeiro de todos os tempos. 

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O texto abaixo, autoria de Lars Grael, foi publicado em seu blog, http://www.larsgrael.com.br


Ingrid Schmidt Grael - A Guerreira Viking

23/9/2008 - 14:07:48


Com muito pesar, comunico o falecimento da nossa mãe Ingrid Schmidt Grael aos 70 anos de idade no Rio de Janeiro.Filha do lendário engenheiro e velejador dinamarques Preben Schmidt, Ingrid foi irmã de Rolf, Margarete e dos Tri-Campeões Mundiais de Vela Axel & Erik Schmidt.Foi Miss Niterói; Miss Estado do Rio de Janeiro e segundo colocada no Miss Brasil. Na cerimônia de premiação no Palacio do Catete e na presença do Presidente Café Filho, conheceu o Coronel Dickson Melges Grael com quem contraiu matrimônio.

Mãe do velejador ambientalista Axel Grael, do maior medalhista do esporte Olímpico Brasileiro e da Vela Mundial Torben Grael e deste que escreve esta coluna. Avó de Trine, Marco, Martine, Nicholas e Sofia Grael, Ingrid sempre teve ainda como filho seu sobrinho Glenn Erik Haynes, filho de sua irmã precocemente falecida Margarete (Guida).

Sócia mais antiga do Rio Yacht Club (Niterói), Ingrid teve uma vida itinerante como esposa de militar. Viveu no Rio, São Paulo, Osasco, Belém, Brasília, Ingrid que tinha dupla nacionalidade Brasileira e Dinamarquesa, sempre teve suas raízes na cidade de Niterói/RJ, berço de sua família e aonde foi sepultada ontem.

Velejadora e grande incentivadora da carreira dos filhos na Vela, Ingrid era amante do Tênis, esporte que começou a praticar na fase adulta, mas que a levou a conquistar a Taça Itamaraty em Brasília nos anos 70. Ainda em Brasília, foi professora de inglês e posteriormente Diretora da Casa Thomas Jefferson. Ao retornar a Niterói, foi professora do Brasas e atuou no ramo empresarial de exportação e importação.

Torcedora ferrenha dos irmãos, filhos e netos na Vela, Ingrid foi madrinha de vários dos nossos barcos, e com destaque para o "Brasil 1" que dignificou a vela brasileira na última edição da Volvo Ocean Race; do veleiro clássico da classe 6 Metros Internacional "Marga" e do veleiro escola do Instituto Rumo Náutico (Projeto Grael) "Fuzzarca" uma de suas últimas aparições públicas.

Para nós, fica o vazio e a saudade daquele sorriso contagiante, daquela disciplina escandinava, daquele amor pela vida, daquele carinho materno...
Ingrid foi duas vezes Rainha dos Jogos da Primavera, título que se orgulhava da conquista, outrora extremamente relevante. Uma das vezes, o título foi eternizado em capa do Jornal dos Sports ao receber o troféu das mãos do Presidente Getulio Vargas no Estádio das Laranjeiras (Fluminense Football Club). 

Parece que Dª Ingrid escolheu a abertura da primavera para sua despedida...

Lars, Renata, Trine, Nicholas & Sofia Grael. 
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Ingrid Schmidt, Miss Rio de Janeiro 1955

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Ingrid Schmidt na passarela do Hotel Quitandinha. ( O Cruzeiro, 09/07/1955)

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            A primavera de 2008 começou oficialmente às 12h46min da segunda-feira, 22 de setembro. Ingrid Schmidt, Miss Rio de Janeiro, vice-Miss Brasil 1955, partiu para outra dimensão um pouco antes, às 10h30min, deixando o perfume de quem soube cumprir bem sua missão no planeta Terra.

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sábado, 20 de setembro de 2008

SESSÃO NOSTALGIA - Maria da Glória Carvalho e a porta na minha cara

Daslan Melo Lima


PRÓLOGO


      Junho de 1968, Rua José da Bomba, transversal da Estrada dos Remédios, bairro de Afogados, Recife, PE. Televisão era um sonho de consumo proibido para as famílias carentes como a minha, mas eu estava ali, curioso, na calçada de uma vizinha, assistindo ao programa onde um apresentador entrevistava várias candidatas ao título de Miss Guanabara.  Algumas pessoas que estavam ao meu lado na calçada, os chamados televizinhos, falavam alto e não havia condição de ouvir bem os diálogos. Fiquei bem juntinho da janela para ouvir melhor. Fiquei impressionado com uma morena esbelta chamada Maria da Glória Carvalho, Miss Monte Líbano. Ouvi quando o apresentador falou para ela, visivelmente traído pela admiração :
- Você sabia que vai longe ? Eu dou sorte às pessoas.
      De repente, as imagens em preto e branco começaram a chuviscar. A dona da casa ajeitou a antena para lá e pará cá e nada. Os televizinhos exageravam falando alto, a dona da casa perdeu a paciência e de repente PLÁ ! Era o som ensurdecedor da janela, quando a vizinha bateu a porta com toda força na minha cara.
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    MARIA DA GLÓRIA CARVALHO,
uma colecionadora de autógrafos foi eleita Miss Guanabara


      Junho de 1968, Maracanãzinho, Rio de Janeiro. Vinte e oito jovens desejavam o título de Miss Guanabara. As preferidas do público eram as Misses Monte Líbano, Radar, Botafogo, Paquetá e Renascença, que fizeram parte do grupo das oito finalistas, ao lado da Miss Telefônica e da Miss Sírio e Libanês. Miss Paquetá impressionou no teste de desembaraço ao afirmar que apreciava o talento de Omar Sharif, o dinheiro de Jorge Guinle, o lirismo de Chico Buarque e a humildade de Pelé.
      Ao ser anunciado o resultado do concurso, os aplausos foram unânimes para a primeira colocada, Maria da Glória Carvalho, Miss Monte Líbano. O púbico estranhou apenas a ausência de Ione Fernandes, Miss Renascença, entre as quatro finalistas, cabendo o segundo lugar a Regina Maria de Carvalho Melo, Miss Radar, e o terceiro a Tânia Drumond, Miss Botafogo.


A nova Miss Guanabara, que era grande colecionadora de autógrafos, agora atende aos colecionadores que a procuram. (Revista Manchete, 06/07/1968).


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MARIA DA GLÓRIA CARVALHO,
a segurança e a personalidade garantiram o terceiro lugar no Miss Brasil


      Maracanãzinho, Rio de Janeiro, 29 de junho de 1968. Vinte e cinco jovens desejavam o titulo de Miss Brasil. As Misses mais aplaudidas foram as representantes da Bahia, Minas Gerais, Estado do Rio e Paraná. E a comissão julgadora assim decidiu:
1º Lugar, Martha Maria Cordeiro Vasconcellos - Miss Bahia, representante brasileira no Miss Universo;
2º Lugar, Ângela Carmélia Stecca, Miss Minas Gerias, representante do Brasil no Miss Mundo;
3º Lugar, Maria da Glória Carvalho, Miss Guanabara, representante brasileira no Miss Beleza Internacional;
4º Lugar, Josemary Vasconcelos Corrêa, Miss Estado do Rio;
Semifinalistas: Maria do Pilar Matos Ferro, Miss Brasília; Delzi Captan, Miss Paraná; Evelize Brietzig, Miss Santa Catarina; e Mariluce Facci, Miss São Paulo.
     
Miss Estado do Rio, Josemary Corrêa, é a própria jovialidade. Sua juventude, em forma e espírito, contribuiu muito para a conquista do quarto lugar. O rosto perfeito e a plástica invejável colocaram-na logo entre as favoritas. (...) Maria da Glória considera que havia rostos mais belos do que o seu, mas atribui a colocação em terceiro lugar à segurança e personalidade de que deu provas. (Revista Manchete)


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MARIA DA GLÓRIA CARVALHO, 
Miss Beleza Internacional


      Nippon Budokan Hall,Tóquio, Japão, 09 de outubro de 1968. Quarenta e nove jovens desejavam o título de Miss Beleza Internacional. Maria da Glória Carvalho era uma das favoritas. Contra ela, apenas o fato de Martha Vasconcellos ter sido eleita Miss Universo. Isso poderia atrapalhar seus sonhos. Talvez não quisessem que outra brasileira vencesse mais um concurso internacional no mesmo ano. Mas a decisão da comissão julgadora foi quase unânime: Maria da Glória Carvalho foi eleita Miss Beleza Internacional com 12 pontos de vantagem sobre Annika Hemminge, Miss Suécia, segunda colocada.


      Com o primeiro lugar, Maria da Glória Carvalho recebeu 2 milhões de yens e uma coroa de pérolas, brilhantes e platina da Mikymoto. Ganhou muita fama e popularidade no Japão, onde trabalhou quatro anos como modelo e apresentadora de televisão, até que decidiu voltar definitivamente para o Brasil.

Não gostava que a chamassem Maria. Porque Maria todas podem ser, ou até ninguém, tenha o nome que tiver. Por isso, achou interessantíssimo quando, em Tóquio, um locutor anunciou o que imaginava ser seu nome: "Gurória". (José Rodolpho Câmara, revista Manchete, 07/11/1992)


       Maria da Glória Carvalho,  filha de Alberto Carvalho Filho e Célia Carvalho, nasceu no dia 15/08/1950, dia de Nossa Senhora da Glória. Ela foi casada com o empresário Tião Maia e depois com o publicitário Aquiles Limberti de Mora, falecido em 1984, pai do seu filho Carlos Alberto.


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EPÍLOGO

      Timbaúba, Pernambuco, 20 de setembro de 2008.  Eu e o silêncio diante do computador formatando esta matéria, resgatando histórias das minhas deusas e exteriorizando para o mundo os meus sentimentos através da Internet.  Quarenta anos depois, televisão já não é mais um sonho de consumo proibido para os garotos carentes como aquele que fui um dia. Em qualquer casebre existe um televisor e os televizinhos fazem parte do passado.
      Daquele top 3 lindo do Miss Brasil 1968, tive aproximação com duas Misses: Martha Vasconcellos e Ângela Stecca. Conversei com Martha Vasconcellos em 2000, na eleição da Miss Pernambuco, ocasião onde ela autografou várias fotos de um álbum de recortes, deu-me um beijo e deixou-se fotografar com simplicidade e tranqüilidade ao meu lado. Ângela Stecca é minha amiga no Orkut e sempre estamos trocando mensagens.
      Falta um contato com Maria da Glória Carvalho. Através do fantástico mundo da Internet, sei que a Miss Beleza Internacional 1968 vai ler esta matéria e espero que poste um comentário, por mais lacônico e simples que seja.
      O menino que fui um dia precisa disso, a fim de compensar de uma vez por todas aquele PLÁ ! O som ensurdecedor da janela, quando a vizinha bateu a porta com toda força na minha cara.

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sábado, 13 de setembro de 2008

SESSÃO NOSTALGIA - VERA MARIA BRAUNER , OS OLHOS AZUIS QUE DISSERAM NÃO A HOLLYWOOD

Daslan Melo Lima

          Agosto de 1961. VERA MARIA BRAUNER DE MENEZES tinha conquistado o título de segunda mulher mais bela do mundo no International Beauty Congress( Miss Beleza Internacional), em Long Beach, Califórnia, e estava visitando os estúdios da Warner Brothers. Os caçadores de talentos ficaram loucos por aquela jovem de olhos azuis e ofereceram propostas tentadoras para que ela se tornasse uma estrela de cinema. O galã Peter Brown, protagonista de “Lawman”(O Homem da Lei) a queria como leading-ladyMas os sonhos da linda garota eram outros. Ela queria voltar logo para o Brasil. Já tinha recebido um cheque de 4 mil dólares pelo segundo lugar e queria usar aquele dinheiro para melhorar a situação da família modesta. Estava feliz por ter chegado aonde chegou e tudo que desejava era saborear um churrasco, cumprir seus compromissos de Miss e depois casar com João Roger Damé, seu noivo e namorado desde os 12 anos de idade, recém aprovado em quarto lugar no concurso do Banco do Brasil.

As imagens que ilustram esta matéria são fotos-reproduções da revista MANCHETE, apenas uma delas, a de tom sépia, é de O CRUZEIRO.

VERA MARIA BRAUNER, Rainha da Quadra 1953

          Vera nasceu no dia 11/02/1942. Aos 11 anos de idade era considerada uma das meninas mais lindas de Pelotas. Durante uma festinha, regada a muitos doces e refrigerantes, foi coroada Rainha da Quadra, a mais bela garota da rua onde morava. Era o começo da glória. Aos 13 anos de idade, seu maior sonho era ser dentista. Mudou de idéia e passou a pensar em ser professora depois que soube que os estudantes de odontologia tinham aulas extraindo dentes de cadáveres.Aos 19 anos era eleita Miss Pelotas representando o Laranjal Praia Clube. Em seguida, venceu 15 candidatas na disputa pela coroa de Miss Rio Grande do Sul 1961.

VERA MARIA BRAUNER, Vice-Miss Brasil 1961

          Maracanãzinho, Rio de Janeiro, 17 de junho de 1961. Concurso Miss Brasil. Vera Maria Brauner era uma das favoritas. O resultado que apontou a mineira Stael Maria da Rocha Abelha como a nova Miss Brasil agradou em cheio as 25 mil pessoas presentes. Stael foi a mais aplaudida, seguida das Misses Guanabara, Rio Grande do Norte, Pará, Pernambuo, Rio Grande do Sul e Bahia. As finalistas, por ordem de classificação, foram:

Miss Minas Gerais, Stael Maria da Rocha Abelha,representante do Brasil no Miss Universo; 
Miss Rio Grande do Sul, Vera Maria Brauner de Menezes, representante do Brasil no Miss Beleza Internacional; 
Miss Guanabara, Alda Maria Coutinho, representante do Brasil no Miss Mundo; 
Miss Ceará, Elza Maria Lauriano dos Santos; 
Miss Bahia, Stella Maria Rocha Lima, 
Miss Pará, Filomena Maria Jorge Chaves, 
Miss Pernambuco, Maria Lúcia Santa Cruz;
Miss Rio Grande do Norte, Carmem Aurélia Rodrigues de Lima



Vera Maria é beleza escolástica, nascida em Pelotas, no Rio Grande do Sul, olhos azuis, cabelos castanhos. Ei-la em termos métricos: 1,70 de altura, 57 de peso, 56 de coxa, 21 de tornozelo, 94 de busto, 60 de cintura, 94 de quadris, e mais tudo aquilo que não pode ser medido, porque faz parte de sua irradiação pessoal. Cursa o 3° ano Normal. E gosta de missa aos domingos e de cinema em dias úteis. João Roger, o noivo, ficou mais nervoso que ela. Estava para arrebentar no Maracanãzinho. Apesar de ter desfilado uma única vez, quando debutou, foi grau 10 na passarela. Esteve garbosa como uma fragata, para repetir uma frase de Rachel de Queiroz. Foi espontânea, como se ninguém estivesse olhando os seus passos, nos 130 m de passarela. Revelou um detalhe de sua vivência no Maracanãzinho: sentia o queixo tremer no desfile. Trepidava tanto que não podia rir. Outras misses concordaram com Vera. Dia 14 de julho voará para Long Beach, onde seu tipo é sucesso total. O rosto, principalmente. (O CRUZEIRO, 1º/07/1961)

VERA MARIA BRAUNER, Vice-Miss Beleza Internacional 1961


          Para a imprensa americana, as favoritas ao título de Miss Beleza Internacional 1961 eram as representantes de Hong Kong, China, Madagascar, Panamá, Holanda, Itália, Luxemburgo e Israel. Mas a comissão julgadora decidiu assim:

Primeiro lugar, Miss Holanda, Constance (Stanny) van Baer; 
Segundo lugar, Miss Brasil, Vera Maria Brauner de Menezes;
Terceiro lugar, Miss Espanha, Maria Del Carmen Cervera Fernández, (quarta no Miss Europa e terceira colocada no Miss Mundo 1961); 
Quarto lugar, Miss Canadá, Edna Dianne MacVicar ; 
Quinto lugar, Miss Islândia, Sigrun Ragnarsdóttir.


          Para Vera, as mais belas eram as representantes da Islândia, Holanda, Espanha, Alemanha e Canadá, mas deixou claro que os jurados americanos primavam pela honestidade. Após a solenidade de coroação, alguns brasileiros que estavam presentes ao concurso resolveram promover uma festa. Pela legislação local, Vera era menor, ainda não tinha 21 anos de idade. Resultado: quando os relógios marcaram uma hora da madrugada, os americanos obrigaram-na a ir dormir.


          Quando estava em Los Angeles, Vera perdeu em um free-way duas peças do seu traje típico: o tabuleiro que usava como chapéu e os sapatos de baiana. Fiquei com uma enorme pena, porque ia guardar tudo como recordação dessa fase da minha vida.

VERA MARIA BRAUNER, Valeu a pena ser Miss

          Declarações de Vera Maria Brauner à MANCHETE, de 07/05/1966, ao ser indagada se vale a pena ser Miss:
Vale a pena, sim. São grandes as emoções, grande a expectativa, numerosas as alegrias.Comigo tudo aconteceu como num sonho maravilhoso, pois desde o começo ningúem acreditava nas minhas possibilidades. Eu própria achava que não tinha chance. Em Long Beach, depois de dias de grande incerteza, pois a imprensa da Califórinia não me incluía entre as finalistas, ganhei o segundo lugar. Foi uma grande vitória. Nessa noite, o meu noivo João Roger Damé, estava ao meu lado, orgulhoso de mim. Pouco depois, nos casamos, e hoje, quando pensamos nas peripécias do concurso, achamos que a nossa filhinha Danielle bem poderia, algum dia, ser também candidata a Miss Brasil.


Desabafo : Não compreendo porque motivo, ainda hoje, quando se fala em Miss Brasil daquele ano, mencionam o nome de Stael Abelha. Até mesmo no Maracanãzinho quando lêem a lista das que foram eleitas anteriormente, o nome de Stael vem em lugar do meu. Considero isto uma falta de consideração, não comigo, mas com o Rio Grande do Sul. Seria o mesmo que dizer que o Presidente da República, até 1965, foi Jânio Quadros, quando se sabe que Jânio também renunciou em 1961.

EPÍLOGO

          Stael Maria da Rocha Abelha, primeira colocada no Miss Brasil 1961, renunciou ao título após participar do Miss Universo, alegando que deixava o reinado por amor ao seu namorado, o político Múcio Ataíde. Stael Abelha não figurou entre as semifinalistas do Miss Universo, o mesmo acontecendo com Alda Maria Coutinho no Miss Mundo, cabendo a Vera Brauner a glória de ser a brasileira de maior destaque internacional em 1961.
          Após participar do Miss Beleza Internacional, Vera Maria Brauner conheceu Nova Iorque. Ao voltar ao Brasil, viveu emoções inesquecíveis: recebida com festas no Rio de Janeiro, desfile apoteótico em carro aberto por Pelotas e uma cerimônia em um programa de televisão, quando foi oficialmente coroada Miss Brasil 1961.
          Em junho de 1962, o Maracanãzinho em peso lhe aplaudiu ao desfilar pela última vez para coroar sua sucessora, a baiana Maria Olívia Rebouças Cavalcanti, e em janeiro de 1963 casou com João Roger Damé, seu grande amor.


Eis a resposta do seu noivo quando perguntaram em Long Beach como ele se sentia com uma namorada que era a segunda mulher mais bonita do mundo,uma resposta que fez o maior sucesso na imprensa internacional:

Eu já sabia que ela era bonita ! Eu sempre achei que ela era um amor!

          Com certeza, VERA MARIA BRAUNER, MISS BRASIL 1961, ainda hoje se emociona muito com essa linda declaração, palavras que expressavam valores mais importantes do que todas as propostas tentadoras recebidas de Hollywood.

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sábado, 6 de setembro de 2008

SESSÃO NOSTALGIA - VERA LÚCIA DE CASTRO, UMA MISS DO TEMPO DAS NORMALISTAS

Daslan Melo Lima

          Vinte e oito lindas garotas inscreveram-se no concurso Miss Guanabara 1967. Entre as favoritas ao título, por ordem alfabética, estavam:
Célia Cordeiro, Miss Sampaio Atlético Clube, pernambucana radicada no Rio de Janeiro, 18 anos, estudante do curso científico;
Liana Maurício de Andrade, Miss Country Club da Tijuca, poliglota, estudante de Direito e de Belas Artes, campeã de natação com 49 medalhas ganhas, considerada o mais belo rosto do concurso;
Solange Mara Thibau, Miss Várzea Country Club, uma bancária que tinha terminado o noivado e via o concurso como uma nova fonte de emoções;
Sônia Maria Aguiar, Miss Renascença, uma mulata de 19 anos que adorava pintura e Bossa Nova e sonhava ser professora;
Susana Pereira, Miss Esporte Clube Carioca, prima da gaúcha Iolanda Pereira, Miss Brasil e Miss Univeso1930;
Vanda Hegil, Miss Olaria, 21 anos, poliglota, orientadora pedagógica da Escola Miguel Couto.Vanda havia rompido o noivado e sonhava mostrar a Nara Leão ou Tom Jobim quatro canções que havia composto;
Vera Lúcia de Castro, Miss Motel Clube Bandeirante, normalista do segundo ano, 19 anos incompletos. Maior sonho: ser professora, ter muitos alunos e ser apresentada a Agnaldo Rayol, seu cantor preferido.


          Sete garotas, sete destinos. Na noite de 24/06/1967, eleição da Miss GB, faltava uma delas: Vanda Hegil, Miss Olaria, a favorita dos fotógrafos. Uma semana antes, Vanda Hegil suicidou-se pulando do apartamento 1004, situado na Avenida Copacabana, 820, onde morava com os pais. Durante o desfile, os fotógrafos e jornalistas apostavam na vitória de Solange Maria Thibau, Miss Várzea Country Club, que ficou em segundo lugar. Susana Pereira, Miss Esporte Clube Carioca, e Célia Cordeiro, Miss Sampaio Atlético Clube, não ficaram entre as oito semifinalistas. Coube a Sônia Maria Aguiar, Miss Renascença, a quarta colocação, e a Liana Maurício de Andrade, Miss Country Club da Tijuca, a terceira. O destino de receber a faixa de Miss Guanabara 1967 das mãos de Ana Cristina Ridzi, Miss Guanabara e Miss Brasil do ano anterior, e de aparecer nas capas das revistas brasileiras mais importantes da época, ficou para a linda normalista VERA LÚCIA DE CASTRO, Miss Motel Clube Bandeirante, 1,72 de altura, 62 quilos, 94 cm de busto, 62 de cintura e 93 de quadris, 57 de coxa e 21 de tornozelo.Todas as imagens que ilustram esta matéria foram reproduzidas da revista MANCHETE.


Conselho que Ana Cristina Ridzi, Miss GB e Miss Brasil 1966 deu a Vera Lúcia :Receba sempre, com carinho e simplicidade, as manifestações de simpatia do povo.

          VERA LÚCIA DE CASTRO nasceu às 11 horas do dia 30/12/1948, filha do Sr. Carlos de Castro e D.Maria do Rosário. Oriunda de uma família modesta, tinha duas irmãs, era muito católica e aos 12 anos fazia parte da congregação das filhas-de-maria da Igreja Santo Cristo.
Os refletores coloridos do Maracanãzinho ainda estavam acesos, mas Vera Lúcia Castro já pedia aos fotógrafos que a liberassem: - Quero ir falar,com mamãe, agora.
As lágrimas corriam livremente por seu rosto. Todos foram tocados pela emoção que vivia a modesta família, em cujo mundo jamais haviam existido jornalistas, fotógrafos, passarelas e luzes de reuniões sociais.
O vocabulário de Vera Lúcia não tem palavras difíceis. Ela é simples e direta, suas mãos são seguras e sua gesticulação contida. O sorriso é luminoso, carregado de alegria e sinceridade. Os cabelos são negros e bem lisos, os olhos francos. Quando soube da morte de uma colega, há alguns dias, ficou triste e chorou muito. Desde então, passou a falar menos do que antes. Somente às vésperas do concurso, com todo o corre-corre dos preparativos, ela voltou ao seu natural.
(Revista MANCHETE, 08/07/1967)


          VERA LÚCIA DE CASTRO foi a quarta garota chamada VERA a se eleger Miss do Estado da Guanabara. As outras foram: Vera Lúcia Saba (1962), Vera Lúcia Maia (1963) e Vera Lúcia Couto Santos (1964). O estado da Guanabara foi criado em 1960 e durante os quinze anos de sua existência teve destacada atuação no concurso Miss Brasil.

          Na noite de 1º de julho de 1967, no Maracanãzinho, Rio de Janeiro, VERA LÚCIA DE CASTRO colheu muitos aplausos. Era uma das favoritas e ficou entre as semifinalistas, ao lado de Miss Estado do Rio, Maria da Graça Kuri; Miss Minas Gerais, Maria Juliana Garcia da Costa; e Miss Santa Catarina, Ujara Gudrun Jatahy. Se dependesse da maioria do público, o título de Miss Brasil 1967 teria sido de Anísia Gasparina da Fonseca, quarta colocada. Miss Pará, Sônia Maria Ohana, e Miss Paraná, Wilza de Oliveira Rainato, ficaram com o terceiro e segundo lugares, respectivamente, cabendo a Carmen Sílvia de Barros Ramasco o manto, a coroa, a faixa e o cetro de Miss Brasil 1967.


          O curso Normal durava três anos e preparava as moças para a missão de ensinar nas escolas primárias. Antes do curso, elas enfrentavam oitos anos de estudo: quatro no primário e outros quatro no ginásio, sem falar no temido e rigoroso Exame de Admissão ao Ginásio. Ser normalista dava status e muitas jovens de famílias abastadas não almejavam lecionar, apenas queriam dizer com orgulho que se formaram em professoras. Casamento? Só depois de se formar.
          A canção NORMALISTA, de Benedito Lacerda e David Nasser, gravada por Nelson Gonçalves nos anos 50, imortalizou a figura da garota que fazia o curso Normal.

Vestida de azul e branco/Trazendo um sorriso franco/No rostinho encantador/Minha linda normalista/Rapidamente conquista/Meu coração sem amor./Eu que trazia fechado/Dentro do peito guardado/Meu coração sofredor/Estou bastante inclinado/A entregá-lo ao cuidado/Daquele brotinho em flor./Mas a normalista linda/Não pode casar ainda/Só depois que se formar/Eu estou apaixonado/O pai da moça é zangado/E o remédio é esperar.


          Independente da música, quando vejo uma garota de farda indo para alguma escola, lembro-me sempre da imagem de uma jovem carioca de olhar franco, cabelos negros e lisos, dotada de um sorriso amplo e luminoso, carregado de alegria e sinceridade : a imagem de VERA LÚCIA DE CASTRO, Miss Guanabara 1967, uma Miss do tempo das normalistas.

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