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sábado, 31 de maio de 2008

SESSÃO NOSTALGIA - Ana Maria Costa Caldas, Miss Pernambuco, a história do 4º lugar no Miss Brasil 1964

Daslan Melo Lima


Ana Maria Costa Caldas, Miss PE 1964 - Foto: revista Fatos & Fotos

        A propósito da classificação de Ana Maria Costa Caldas, Miss Pernambuco, em quarto lugar, no Miss Brasil 1964, recebi um e-mail do jornalista Mucíolo Ferreira, onde ele diz:
O que os jornais quiseram realmente dizer ao afirmarem que "O público estranhou a ausência da Miss Pernambuco...", quando este mesmo público - conforme as revistas - aplaudiu as três primeiras colocadas? Das duas, uma: o repórter que escreveu a matéria não soube reproduzir corretamente a reação do público ou não teve inteligência suficiente para interpretar a decepção da platéia com o quarto lugar conferido a pernambucana Ana Maria Costa. Qual é a sua opinião?
      Vou esclarecer o assunto, com base nas revistas da época. Ubiratan de Lemos escreveu em O CRUZEIRO, de 08/08/1964:




Ana Maria Costa Caldas, Miss Pernambuco 1964. 
Fotos: Indalécio Wanderley, O Cruzeiro, 08/08/1964. 


MISS PERNAMBUCO - BONITA DE CORPO INTEIRO - Para os pernambucanos que a conheciam e estavam acostumados a vê-la como recepcionista da VASP, em Recife, a colocação de Ana Maria Caldas entre as finalistas do Concurso Miss Brasil 1964 não foi surpresa. Mas, para a grande parte do imenso público que se encontrava no Maracanãzinho na noite da eleição,a colocação de Ana Maria em 4ºlugar foi uma grande e desagradável surpresa.Porque a queria em 2 º lugar. E por isso houve vaias no Júri quando foi anunciada a decisão.
Ana Maria Caldas, cujas proporções, traduzidas em números, deram um cálculo perfeito de beleza, é morena doce, recatada, do tipo ingenuidade. Não tem namorado. Gosta do azul, de piscina, de livros simples. No Concurso, tinha uma candidata para Miss Brasil nº. 1: a mulata Vera Lúcia, de quem foi a maior fã. É Carioca da Tijuca, mas, desde os 3 meses de idade,vive em Recife, onde aprendeu a gostar de frevo,que ela dança com corpo,sangue e alma de pernambucana.

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      A revista MANCHETE escreveu que na noite do concurso Ana Maria estava com uma “intensa erupção alérgica no rosto – nervos?” fato que poderia ter lhe prejudicado, mas leiam o que diz a revista FATOS & FOTOS,de 11/07/1964:

O público não concordou com a colocação de Miss Pernambuco em 4º lugar, vaiando demoradamente os membros do júri, que se basearam nas seguintes razões de ordem técnica para preferir Miss Guanabara:

-Vera Lucia tem mais 2 centímetros de altura do que Ana Maria Caldas, cuja altura – 1,68 – não é a ideal para a passarela de Long Beach.

- Miss Guanabara tem 93 cm de busto, que está mais próximo das medidas da Vênus de Milo, enquanto Miss Pernambuco ultrapassa esse limite com 95 de busto.

- Vera tem 20 de tornozelo e Ana Maria 22, o que representa uma desvantagem para esta última num concurso internacional de beleza.

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      Resumindo: hoje, quando lemos algo sobre o concurso Miss Brasil 1964,só se fala no “duelo “ Ângela Vasconcelos X Vera Lúcia. Ninguém comenta o “duelo” Vera Lúcia x Ana Maria. A eleição de Ângela Vasconcelos,Miss Paraná, uma carioca que residia em Curitiba desde os 15 anos de idade,como Miss Brasil 1964, agradou a todos. Segundo FATOS & FOTOS, "50 mil espectadores,no Maracanãzinho,foram unânimes em aplaudir a decisão do júri que consagrou Miss Paraná". Todavia, a segunda colocação dada à bela mulata Vera Lúcia Couto Santos,Miss Guanabara,não agradou. O público queria Ana Maria Costa Caldas,Miss Pernambuco, para o segundo lugar e ela acabou em quarto lugar,conforme expliquei no parágrafo anterior. "O mesmo público que impôs a eleição de Miss Guanabara voltou-se contra ela na decisão final de Miss Brasil", destacou bem FATOS & FOTOS.

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      Espero que tenha satisfeito a curiosidade do jornalista Mucíolo Ferreira. E espero que Dona Ana Maria Costa Caldas, hoje residindo em São Paulo, casada, feliz, mãe de duas filhas lindas,leia essa Sessão Nostalgia. Pernambuco jamais esqueceu aquela morena maravilhosa do bairro recifense de Iputinga, a Aninha Carioca”, que quase foi eleita vice-Miss Brasil 1964.

sábado, 24 de maio de 2008

SESSÃO NOSTALGIA - Maria Isabel de Avelar Elias, Miss Sergipe, Miss Brasil Mundo 1964

Por Daslan Melo Lima
Maria Isabel de Avelar Elias nas capas das revistas O Cruzeiro e Fatos & Fotos
               Era uma quinta-feira, 27 de novembro de 1945, na cidade de Alfenas, sul de Minas Gerais , distante 379 km de Belo Horizonte, quando uma garotinha nasceu, para alegria de uma jovem senhora e de um respeitado e prestigiado funcionário do Banco do Brasil. Aquela menina recebeu o nome de Maria Isabel de Avelar Elias e estava predestinada a ser eleita a quarta mulher mais bela do mundo de 1964.  Dezenove anos depois, quando a família morava em Aracaju, cidade para onde o seu pai havia sido transferido, aquela garotinha, agora uma jovem linda, inteligente, simpática e cheia de classe e charme, aceitou convite para disputar o Miss Sergipe. Foi eleita em 20/06/1964, no Iate Clube Sergipe, clube que representava, derrotando quatro concorrentes : Miss Clube dos Diretores Lojistas, Elza Góes Lisboa; Miss Universitários, Alda Maria Simonetti Maia (eleita Miss Pernambuco no ano seguinte); Miss Lagarto, Lídia Margarida Fontes e Miss Vasco Esporte Clube, Brasilina Chagas.


O Top 3 do Miss Brasil 1964. Da esquerda para a direita: Vera Lúcia Couto Santos, Miss Guanabara, segunda colocada; Angela Vasconcelos, Miss Paraná, primeiro lugar; e Maria Isabel de Avelar Elias, Miss Sergipe, terceira colocada. ***** Foto: revista Manchete.

Marisa Isabel em traje de banho. Foto: Manchete
          Vencida a fase estadual, eis Maria Isabel no Maracanãzinho, na noite de 04/07/1964, diante de um júri exigente e de um público numeroso, na disputa do Miss Brasil, ao lado de 23 misses. Na comissão julgadora estavam: Pomona Polotis, Tônia Carrero, Acioly Neto, Mitzi de Almeida Magalhães, Oscar Santamaría, Edite Piano Guimarães, Leão Veloso, Eda de Luds, Hélio Beltrão, Edílson Varela e Justino Martins
     A comissão deveria apontar apenas oito finalistas, mas por exigência de Tônia Carrero, que tinha gostado muito de Ana Maria Carvalhedo, Miss Ceará, foi eleita mais uma. Por ordem de classificação, as nove finalistas foram as representantes de Paraná (Ângela Tereza Pereira Reis Neto Vasconcelos); Guanabara (Vera Lúcia Couto Santos); Sergipe (Maria Isabel de Avelar Elias); Pernambuco (Ana Maria Costa Caldas); Rio Grande do Norte (Neli Cavalcanti Padilha, a preferida de Ângela Vasconcelos); Estado do Rio (Cecília Rangel Martins da Rocha); Rio Grande do Sul (Rosa Maria Gallas); Minas Gerais (Marília de Dirceu Silva, dona de um rosto que lembrava muito o da atriz italiana Sofia Loren); e Ceará (Ana Maria Carvalhedo).



Maria Isabel em traje típico-Foto: Manchete
          Na generosa edição sobre o concurso, a revista Fatos & Fotos, de 11/07/1964, comentou:


           “Qualquer uma delas tinha classe para representar o Brasil. Nunca houve tantas candidatas com tantas chances para arrebatar o título. 50 mil espectadores, no Maracanãzinho, foram unânimes em aplaudir a decisão do júri que consagrou Miss Paraná. Quando os jurados apontaram o nome de Ângela Teresa Vasconcelos - uma carioca que reside há 15 anos no Paraná – como a representante máxima da beleza brasileira em 1964, houve um delírio no Maracanãzinho. Vera Lúcia Couto Santos, Miss Guanabara, e Maria Isabel Avelar Elias, Miss Sergipe, foram as outras duas grandes vencedoras. O público estranhou a ausência de Miss Pernambuco, Ana Maria Costa Caldas.
           “Antes do desfile, a maior torcida era a de Miss Guanabara. Quando Miss Paraná desfilou com seu vestido justo, bordado de pedrarias, encontrou uma rival. A eleição de Vera Lúcia Couto Santos, Miss Guanabara, para o segundo lugar, estabeleceu polêmica entre o público. Mas Maria Isabel Avelar Elias, Miss Sergipe, agradou em cheio para o terceiro lugar. Miss Paraná teve 96 pontos, na contagem final. A segunda colocada, Miss Guanabara, 79, e a terceira, Miss Sergipe, 70. Maria Isabel ficou satisfeita com o terceiro lugar. “Se eu tivesse no júri, também votaria em Ângela e Verinha.” – disse ela.”


          No domingo, 05/07/1964, quando a revista O Cruzeiro promoveu o Baile da Coroação da Miss Brasil no Santapaula Quitandinha Clube, em Petrópolis, prestigiado por 3 mil pessoas, em depoimento a Hélcio Jose, publicado em O Cruzeiro, de 1º/08/1964, Maria Isabel de Avelar Elias declarou:


          “Meu sonho era conhecer a Europa. Parece que me preparei. Há 4 anos estudo inglês, não com acento oxfordiano, porém no Instituto Brasil- Estados Unidos. Agora vou cadenciá-lo britanicamente. Outro sonho meu é ser pintora. Terminado este reinado de sonho e encantamento, vou ingressar, quando voltar para Aracaju, na Escola de Belas Artes. E seguir meu Normal (estou no 2º ano), cursar Filosofia – quero estudar línguas neolatinas - prosseguir nos estudos de piano e acordeão, frequentar o Iate Clube, vir ao Rio passar minhas férias (como o faço habitualmente) e finalmente concluir o conhecimento completo de todas as capitais brasileiras: já viajei por todos os estados, à exceção do Amazonas.”

          Dona de uma beleza doce e tranqüila, Maria Isabel tinha 1,70m de altura, 92 cm de busto, 92 cm de quadris, 59cm de cintura, 59cm de coxa, 21 cm de tornozelo, olhos castanhos, cabelos longos e um sorriso meigo e simples. Fotografava muito bem, tanto que foi eleita a Miss Fotogenia do Miss Brasil. Adorava doce de coco sergipano e levou para Londres seu traje típico de vaqueiro, eleito o mais belo do Miss Brasil. Fazer e manter amizades eram o seu forte e se tornou amiga da gaúcha Ieda Maria Vargas, Miss Brasil e Miss Universo 1963, e de Maria Tereza Boblitz, Miss Maranhão. Do seu modo, com muita tranqüilidade, preparou-se intensamente para o Miss Mundo. Em uma bela casa situada na praia da Atalaia, tomava banho de mar e piscina, fazia sauna e exercícios físicos e relaxava indo com o pai e a mãe para assistir no cinema os filmes policiais que adorava.

O Top 5 do Miss Mundo 1964 - Da esquerda para a direita, Miss Nova Zelândia, Lyndal Ursula Cruikshank, quinto lugarMiss Taiwan, Linda Lin Su-hsing (terceira colocada); Ann Sidney, Miss Reino Unido (primeiro lugar); Ana Maria Soria, Miss Argentina (segunda colocada); e Maria Isabel de Avelar Elias, Miss Brasil, quarto lugar.

          Para satisfação de 100 milhões de brasileiros, população estimada no primeiro ano da ditadura militar, em 12/11/64, 15 dias antes de completar 19 anos de idade, Maria Isabel de Avelar Elias conquistava um honroso quarto lugar no Miss Mundo, em Londres. Foi a melhor colocação até então conseguida por uma brasileira naquele concurso. Concorrendo com 41 candidatas, perdeu apenas para Ann Sidney, Miss Reino Unido (primeira colocada); Ana Maria Soria, Miss Argentina (segunda), e Miss Taiwan, Linda Lin Su-hsing (terceira colocada).


          Maria Isabel de Avelar Elias, a mineira de Alfenas que levou o nome de Sergipe, o menor estado nordestino, para o mundo, deve guardar com carinho as edições das revistas onde foi capa, como as que ilustram esta matéria, O Cruzeiro, de 1º/08/1964, e Fatos & Fotos, de 03/10/1964. E ao mostrá-las aos seus descendentes, com aquele mesmo sorriso simples e doce de outrora, imagino que, com saudades e orgulho, deve falar assim: - Esta sou eu, a quarta mulher mais bela do mundo de 1964.

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sexta-feira, 16 de maio de 2008

SESSÃO NOSTALGIA - Geórgia Quental, Miss Rio Grande do Norte 1962

Daslan Melo Lima

      
Naquele 1962, um rosto iluminado por dois lindos olhos azul-esverdeados deixava marcas na história do Miss Brasil: o rosto de Geórgia Quental,  Miss Rio Grande do Norte 1962.
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        Rio de Janeiro, noite fria e chuvosa do sábado, 16 de junho de 1962, véspera da final da Copa do Mundo. A seleção brasileira de futebol jogaria no dia seguinte contra a da Tchecoslováquia, no Chile. Mas naquela noite, as atenções dos brasileiros estavam concentradas unicamente no Maracanãzinho. Lá estavam 30 mil pessoas, gente simples, donas-de-casa, estudantes, operários, mas também figuras da alta sociedade , grandes empresários, políticos influentes, ministros , embaixadores... 
          A festa teve início com 23 jovens em trajes de gala, desfilando na famosa passarela em forma de ferradura, ao som da música “Cidade Maravilhosa.” Na comissão julgadora, a figura linda de Martha Rocha, Miss Brasil e vice-Miss Universo 1954, e do juiz internacional de beleza Vincent Trotta, assustado com a intensa vibração e animação da platéia, que ele denominou de dinamite tremenda. Para Vincent Trotta, as favoritas eram Eva Maria Arismende, Miss Rio Grande do Sul, a quem ele deu o voto de primeiro lugar, e Julieta Strauss, Miss São Paulo, que recebeu o seu voto para o segundo lugar.
      Desde o início, os aplausos maiores foram para Maria Olívia Rebouças Cavalcanti, baiana de Itabuna, a grande vitoriosa da noite. O mesmo público que aprovou a escolha de Maria Olívia ficou decepcionado com a colocação dada a Geórgia de Lucca Quental, Miss Rio Grande do Norte. Ela era uma das manequins mais belas e famosas do país e ficou apenas em sétimo lugar, quando todos juravam que ela ficaria entre as três primeiras colocadas. As oito finalistas foram, por ordem de classificação: Maria Olívia Rebouças Cavalcanti (Bahia), Julieta Strauss (São Paulo), Vera Lúcia Saba (Guanabara), Eva Maria Arismende (Rio Grande do Sul); Elizabeth Ramos Daniel (Espírito Santo); Célia Maria Spinola Leite (Estado do Rio); Geórgia de Lucca Quental (Rio Grande do Norte) e Rita Nóbrega de Melo (Ceará, Miss Simpatia).
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      Geórgia Quental, gaúcha de Porto Alegre, nascida em 23/04/1939, aspirava ser Miss Brasil desde 1958, quando era manequim da Casa Canadá, no Rio de Janeiro, então capital do Brasil. Geórgia e sua colega de trabalho Adalgisa Colombo decidiram disputar o Miss Distrito Federal 1958. Mena Fiala, dona da Casa Canadá, resolveu apoiar apenas uma candidata e optou por Adalgisa, que há quatro anos se preparava para isso. Adalgisa Colombo foi eleita Miss Distrito Federal, Miss Brasil e vice-Miss Universo 1958.
      Em 1962, no auge da sua carreira como modelo e manequim, Geórgia Quental não tinha abdicado do sonho de ser Miss e resolveu enfrentar os preconceitos. A maioria das garotas candidatas não se conformavam em ter uma modelo profissional como concorrente. Muita gente entendia que a concorrência era desleal, que uma profissional das passarelas não podia disputar um título de Miss. Geórgia se defendia: Se outros países apresentam modelos, por que não podemos fazer o mesmo?
      Foi aí que, após ser impedida de concorrer ao Miss Brasília pelo Iate Clube, aceitou convite para disputar o Miss Brasil pelo estado do Rio Grande do Norte.
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      O jornalista Ubiratan de Lemos deu o seguinte depoimento à revista O CRUZEIRO,de 30/06/1962 :
Geórgia Quental, sem dúvida uma das mais belas, manequim, exagerou os passos profissionais. E obteve, por isso, a sétima colocação. Pisou tão bem a passarela que os aplausos foram muitos. Seu vestido era de tule branco em ráfia. Sapatos e luvas brancos. Estola azul-turquesa, que ela desceu dos ombros aos braços, frente ao júri.
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Em entrevista exclusiva à revista FATOS & FOTOS, de 30/06/1962, Geórgia Quental declarou :

Disseram, no meio da semana, que o júri não me colocaria entre as três primeiras por motivos que nada tinham a ver com minha plástica.


Diziam que os juízes estavam com medo que eu fosse me portar mal nos Estados Unidos ou na Inglaterra. 

Vivem dizendo que sou maluca, que não tenho responsabilidade. De certo, acharam que eu não ia aparecer nos programas marcados para a Miss Brasil. Mas isso é absolutamente injusto. 

Não estou revoltada. Fiquei triste só porque me classifiquei atrás de Miss Estado do Rio, Miss Espírito Santo e Miss Rio Grande do Sul.


      A revista FATOS & FOTOS fez a seguinte observação:
Ao contrário do que se esperava, porém, Geórgia não criou nenhum caso. Soube perder como muitas não sabem ganhar. Chorou um pouquinho, sim. Mas logo disfarçou, discretamente.


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      Naquele 1962, no domingo, 17 de junho, o Brasil derrotou a Tchecoslováquia, por 3 x 1,e conquistou o bi-campeonato mundial de futebol. Naquele 1962, Maria Olívia Rebouças Cavalcanti trouxe de Miami o quinto lugar do Miss Universo, enquanto Julieta Strauss e Vera Lúcia Saba não foram classificadas no Miss Beleza Internacional e no Miss Mundo, respectivamente. 
          Naquele 1962, um rosto iluminado por dois lindos olhos azul-esverdeados deixava marcas na história do Miss Brasil: o rosto de Geórgia Quental, Miss Rio Grande do Norte 1962.

        
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sábado, 10 de maio de 2008

A PARTILHA


         
          Tenho nas mãos um velho livro chamado CONTOS PÁTRIOS, autoria de Olavo Bilac e Coelho Neto, com lições maravilhosas de educação moral e cívica, com desenhos de Vasco Lima, edição da Livraria Francisco Alves, 24ª edição, Rio de Janeiro, 1928. 
          Cresci ouvindo a minha mãe declamar textos inteiros de CONTOS PÁTRIOS. Era o seu livro preferido. Entre tantos contos, ela tinha predileção por A PARTILHA, uma comovente história de amor maternal. Trancrevo-o abaixo, na íntegra, respeitando a ortografia da época, nesse segundo domingo de maio de 2008, onde se festeja o Dia das Mães.

Cantava, e as lagrimas rolavam-lhe em dois fios ao longo da face magra e pallida. Soffria, mas, como era preciso que o pequenino adormecesse, cantava, indo e vindo, devagar, embalando nos braços a creança. O mais velho – tres annos - olhava-a risonho e,de quando em quando,cantarolava: “ Estou com fome, mamãe! Estou com fome..”
E o pequenito, insomne, muito esperto, a boquinha collada ao peito,sugava. “Estou com fome, mamãe...” : cantarolava o outro.
Ia alta a manhã; mas, se o sol alegrava o quintalejo, que tristeza em casa ! Viúva, tysica, desfigurada pela molestia e pela fome, timida demais para pedir esmolas, que havia de fazer a desgraçada? “Estou com fome, mamãe”; cantarolava o mais velho.
- Espera filho! Espera!

Como o pequenino adormecesse, a mãe foi pé ante pé, e deitou-o sobre um fofo colchão de pannos, a um canto da casa: e o mais velho, seguindo-a, cantarolava sempre: “Estou com fome, mamãe...”
- Não faças bulha, filho: espera. E, acenando-lhe, passou á cozinha. Mas que havia de fazer?
Ardia a derradeira acha: e a mãe, os olhos razos d ‘agua, poz-se a soprar a lenha para atear o lume, enquanto o filho,que se lhe agarrava ás saias, cantarolava: “ Minha maesinha... estou com fome”,- mas já contente, vendo que a chaleirinha fumegava.A ‘ mesa, porém, quando a mãe lhe apresentou a tigella e o pedacinho de pão da vespera, o pequeno fitou-a com espanto:
- Só café, mamãe?
- Só meu filho...
O pequeno, levando a colher á bocca, foi repellindo a tigella, com um beicinho, prestes a chorar.
-Não chores: olha que vaes acordar o maninho ! Espera !
E, desabotoando o corpinho,tirou o seio farto, pojado de leite e espremeu-o, trincando os labios descorados por onde as lagrimas corriam fio a fio, e, entregando a tigella ao filho:- Toma, e não faças bulha !
E o pequeno, arregalando os olhos, satisfeito: “Agora sim!” poz-se a cantarolar.
Baixinho, então, a mãe lhe disse: - E não peças mais, ouviste? o outro é para o maninho.- E foi, pé ante pé, espiar o filho que dormia.

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SESSÃO NOSTALGIA - Uma homenagem às mães das misses de ontem, de hoje e de sempre



         No passado, onde uma Miss estivesse, quase sempre, estava sua mãe, orgulhosamente acompanhando a filha, que para ela, independente da classificação nos certames, era a mais bela do mundo. Era a época em que as mães tinham livre acesso aos bastidores e das histórias de revoltas, lágrimas , sabotagens... Fui encontrar na revista Fatos & Fotos, de 1º/07/1971, a matéria prima para a Sessão Nostalgia da semana, em clima de Dia das Mães. 
          O editorial da citada Fatos & Fotos tem o seguinte título Se todas fossem iguais às mães das Misses, de Zevi Ghivelder. Na mesma edição, outro artigo sobre o assunto: Nós elegemos as mães das Misses, de João Luiz de Albuquerque, ilustrado por uma foto feita por Antonio Rudge. A imagem mostra oito senhoras, mães de algumas candidatas à coroa de Miss Gunabara  1971, ostentando com orgulho as cobiçadas faixas de suas filhas. Ambos os textos são primorosos e bem humorados. Senti que valeria a pena resgatá-los, como homenagem às mães das misses de ontem, de hoje e de sempre.

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SE TODAS FOSSEM IGUAIS ÀS MÃES DE MISSES 

         Quem circula pelo mundo dos espetáculos conhece dois tipos tradicionais de mãe: a da bailarina clássica e a da candidata a miss qualquer coisa. A primeira, ao que consta, é um tipo universal e tem sido assinalada através dos anos. A mãe da bailarina está assustadoramente presente quando a filha vai à aula de balé , quando ensaia e, no dia da estreia,   mal se conforma em ficar sentada na plateia, puxando a claque. Enquanto a filha se equilibra nas pontas,  faz intrigas, encuca as rivais da menina, corteja os coreógrafos, o diabo.


          A vantagem da mãe da bailarina é que ela pode torcer sempre baseada em dados concretos: a técnica e o talento de seu produto são medidos na hora, em função direta das virtudes das concorrentes. Não há muito o que errar, apesar das eventuais decepções. Já com a mãe da miss a situação fica dramática. Para ela, a filha é a mulher mais bonita do clube, da cidade, do país, ou do mundo, e está acabado. Como é possível medir critérios subjetivos de beleza? A mãe da candidata tem livre acesso aos bastidores dos concursos e, sem dúvida, sabe tirar vantagem disso. Também faz as suas intriguinhas e, enquanto a filha desfila na passarela, elabora planos a longo prazo - no mínimo, o lugar-comum de um rico casamento.

          Um caso a parte são as mães inconformadas com as derrotas de suas meninas. Para elas, o concurso continua pelo menos uma semana depois de encerrado. Elas procuram os repórteres para fazerem declarações “sensacionais” e algumas vão ainda mais longe. A história que se segue é verdadeira e aconteceu há alguns anos na redação de um vespertino carioca. Proclamadas no sábado as vencedoras de Miss Guanabara, ou de Miss Brasil, a mulher foi na segunda-feira ao jornal e pediu para falar com o chefe da reportagem. Estava irritadíssima. Sua filha era apontada como favorita e, na contagem de votos, não passara de um modesto sétimo lugar. E aquele mesmo jornal, que tanto tinha falado da menina, nem ao menos publicara a sua fotografia na longa matéria sobre o concurso. No auge da raiva, cercada pelo pessoal da redação, ela apontou o dedo para o chefe e gritou : 

          “ – Foi a maior injustiça do mundo ! Sétimo lugar eu não engulo de jeito nenhum ! O senhor sabe a beleza de busto que a minha filha tem ? Pois, olha: eu vou trazer a menina aqui só para o senhor ver os seios dela ! E vai ter que ver, ouviu? Vai ter que ver ! “ 

          E lá se foi, escadas baixo, os sonhos desfeitos, mas com a tristeza transformada em agressivo orgulho.


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NÓS ELEGEMOS AS MÃES DAS MISSES

          Elas são sempre eternas figuras esquecidas nos concursos de beleza. Se tudo já foi dito sobre a miss, desde seu nascimento, infância, namoro, eleição, consagração e casamento, porque não falar daquela que foi, afinal de contas, a responsável por tudo isso: a mãe da miss? Dentro do colorido mundo encantado dos concursos de beleza é ela, a mãe da miss, a figura mais esquecida. Quando lembrada, ela é sempre personagem de histórias de bastidores: ela está tentando esconder a bolsa de maquilagem de uma outra candidata, sujando de café com leite o vestido de gala da candidata mais bonita do concurso ou escondendo o cocar de penas da sempre morena e bela Miss Amazonas.


          É chegada a hora de acabar com essas injustiças. Viva a mãe da miss! De uma coisa podem estar certos: maternidade a parte, se não existisse a mãe da miss, o concurso de Miss Brasil já teria acabado há muito. Não venham com a história de que o sucesso do concurso está no público que lota o Maracanãzinho na grande noite, nem no dinheiro dos patrocinadores ou na promoção dada pela imprensa. Tudo isso junto, mais a transmissão para todo o Brasil via TV, não carregam nem a metade da força gerada por uma mãe de miss, ao reclamar contra alguma injustiça feita à sua filha.

          Afinal, quem preparou, desde a maternidade, aquela linda criancinha para ser miss? Quem ensinou desde a tenra idade bons modos à menininha? A não se descuidar do penteado, a saber posar com a pontinha do pé virado para fora, ”como a Adalgisa”, quem comprou, tão logo a menina aprendeu a ler, o “Pequeno-vocês-já-sabem-o-que?” Foi você, fui eu? Nada, foi ela, a mãe da miss. Ela quem incutiu na mente da linda criança a necessidade de vir a ser um dia, eleita Rainha da Beleza Brasileira e, quem sabe, até Universal? A mãe da miss, claro. Errada está a famosa psicóloga Edna van der Henst quando diz que as mães projetam nas filhas, sonhos e desejos frustrados. 
          Por isso tudo e, mais o álbum de fotografias que elas organizam logo que a futura miss nasce esta singela, porém, sincera, homenagem que presto a todas vocês, esquecidas mães das misses de todo este meu Brasil.

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domingo, 4 de maio de 2008

SESSÃO NOSTALGIA - Marta Garcia, a primeira Miss Brasília

Por Daslan Melo Lima

Marta Garcia, Miss Brasília 1959

           Sábado, 23 de maio de 1959. O Rio de Janeiro estava perdendo a condição de Distrito Federal, capital do Brasil, para Brasília, que seria inaugurada em 21 de abril do ano seguinte. Na noite daquele sábado, no Palace Hotel, Brasília vivia uma das primeiras grandes festas da sua história. Um público estimado em 3.500 pessoas aguardavam o desfile de 16 jovens que disputariam o cobiçado histórico primeiro título de Miss Brasília, num grande evento patrocinado pelos Diários e Emissoras Associados. Eram quatro goianas, duas amazonenses, três fluminenses, quatro cariocas, uma baiana, uma gaúcha e outra sergipana. Na comissão julgadora, figuras expressivas como: Edílson Cid Varela, gerente de O Jornal e Diário da Noite; Ziraldo, Chefe do Departamento de Promoções da revista O Cruzeiro e Milton Dávila, Chefe do Departamento Artístico de O Cruzeiro.

          As candidatas desfilaram em trajes de baile e maiô, penteadas por Hermílio, ao som de “blues” cadenciados executados pelo conjunto de Ari Mesquita. Eis o resultado do primeiro concurso Miss Brasília:

Da esquerda para a direita: Marcli Rosseti dos Guimarães, segundo lugar; Marta Garcia, primeira colocada; e Ivone Preussler, terceiro lugar.

Primeiro lugar: Marta Garcia, natural do Rio de Janeiro, professora particular de inglês, morena de olhos verdes, 1,70 de altura, 20 anos, praticante de vôlei e ballet e que já tinha passado uma temporada nos Estados Unidos. Marta foi muito aplaudida e recebeu a faixa das mãos de Carlos Medeiros, Procurador Geral da República. Ganhou de presente um maiô verde Catalina e um isqueiro de ouro. Posteriormente, o Dr.Israel Pinheiro, comandante dos trabalhos de construção de Brasília, que gostou muito da sua vitória, anunciou um espetacular prêmio para Marta Garcia : um terreno, onde seria construído um palacete com projeto de Oscar Niemeyer.
Segundo lugar: Marcli Rosseti dos Guimarães, uma das favoritas, morena, 1, 60 de altura, cabelos longos, corpo perfeito, professora de francês. Ela e Marta Garcia tinham disputado o Miss Clube Militar, no Rio de Janeiro, ocasião onde Marcli foi a primeira colocada e Marta a segunda. Depois do Miss Brasília, Marcli foi capa da revista Mundo Ilustrado como candidata do Clube Militar ao título de Miss Distrito Federal.
Terceiro lugar: Ivone Preussler, aeromoça, loura, gaúcha de Caxias do Sul;
Quarto lugar: Magda Renate Prfimer, loura,natural de Anápolis, Goiás, que teve o apoio da torcida local. Magda Prifmer tinha sido Miss Goiás no ano anterior. Em 1960, na condição de Miss Brasília , voltou a disputar o Miss Brasil e conquistou o segundo lugar, tendo sido nossa primeira representante em Long Beach, no recém criado Miss Beleza Internacional;
Quinto lugar: Eline Teresinha Contreiras Rangel,baiana.

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          Marta Garcia tinha uma personalidade muito forte. A revista Querida, da Rio Gráfica Editora, uma das maiores publicações femininas da época, outorgou-lhe o título de Miss Personalidade, em sua edição da segunda quinzena de julho de 1959. Sabem o porquê desse título? Após o Miss Brasil, a revista perguntou a várias concorrentes se tinha valido a pena ter sido Miss, se elas tinham concordado com o resultado e se tinham alimentado esperança de ter sido eleitas. Marta Garcia foi a única a admitir que esperava ganhar pelo menos o segundo lugar.


“Sei que vou parecer muito vaidosa mas, se não pensasse ter uma chance, porque, afinal, entraria no concurso? Sim,eu esperava ganhar o segundo lugar e fiquei um pouco revoltada de não ter sido incluída nas finalistas. Mais incrível, ainda, é que Miss Espírito Santo não tenha sido incluída ! Sinceramente, é uma grande injustiça que fizeram ! Não posso compreender a razão. Meus fans ficaram revoltados ! No Maracanãzinho mesmo, eles vaiaram o júri. Sabe que eu gostei do público?“


“ Não posso dizer quem teria incluído na lista das finalistas: não fiz parte do júri e todas as Misses eram uns amores, realmente formidáveis. Mas, já que insiste tanto :Vera (ela está muito bem no lugar), eu (sinto muito...), Miss Pernambuco ,Miss Espírito Santo e Miss Maranhão. Apesar de tudo, não me arrependo de ter entrado no concurso. Valeu a pena, principalmente pelo fato de ter sido a primeira Miss Brasília eleita. Adorei a casa e o terreno que ganhei em Brasília. Pretendo morar lá, assim que a casa estiver pronta. No começo ,meus pais não queriam que eu me candidatasse. Só aceitaram quando consegui convencê-los de que não poria os pés fora sem que a minha mãe me acompanhasse. Meu namorado não fez nenhuma objeção. Em resumo, do concurso,só não gostei do resultado; o resto, foi tudo ótimo. Correspondeu ao que eu esperava.”

          Concluindo a reportagem, o jornalista da revista Querida escreveu :“Com respostas assim tão francas, decidimos dar à simpática Marta Garcia o título de Miss Personalidade”.

          Em 1959, a carioca Vera Ribeiro, Miss Distrito Federal, foi coroada Miss Brasil e ficou com o quinto lugar no Miss Universo. O segundo lugar ficou com a pernambucana Dione Oliveira, aplaudidíssima, a segunda brasileira a disputar o Miss Mundo (A primeira foi Sônia Maria Campos, em 1958, também pernambucana). O terceiro lugar coube à baiana Maria Euthymia Manso Dias; o quarto a Teresinha Rodrigues, Miss São Paulo; e o quinto a Vânia Beatriz Diniz Gotlibi, Miss Minas Gerais. Em alguns sites, o resultado das colocações está equivocado. Na realidade, pelas pontuações recebidas, as colocações corretas foram as que citei. A revista Manchete, de 04/07/1959, divulgou o número de pontos das cinco finalistas. Vera Ribeiro, primeiro lugar, 57 pontos; Dione, 2º lugar, 47 pontos; Maria Euthymia, 3º lugar, 31 pontos; Teresinha, 4º lugar, 24 pontos; e Vânia Beatriz, 5º lugar, 20 pontos.

          Caso o pessoal da coordenação do concurso Miss Brasília esteja lendo esta Sessão Nostalgia, suplico que localizem Marta Garcia para receber as devidas homenagens em 2009, ano do cinquentenário do concurso. 
      Seria fantástico ouvir o apresentador perguntar a Marta Garcia ” Valeu a pena ter sido a primeira Miss Brasília ? Você esperava ganhar o Miss Brasil 1959? “ 
      Já podemos antecipar sua resposta franca : “ Valeu a pena ter sido a primeira Miss Brasília eleita! Vera Ribeiro estava bem no lugar de Miss Brasil , mas eu esperava ganhar o segundo lugar. Sei que vou parecer muito vaidosa mas, se não pensasse ter uma chance, porque, afinal, entraria no concurso ?”

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Crédito das imagens: Indalécio Wanderley, revista O Cruzeiro.
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Observação: 
Encontrei no blog do Raimundo Jr, Misses em Manchete, www.missesemmanchete.blogspot.com , a nota abaixo, a propósito de uma jovem que ostentou a faixa de Miss Brasília 1957, mas que não participou do Miss Brasil.
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Em 1957, Brasília estava ainda sendo construída, quando uma goiana nascida na cidade de Formosa, de nome Annita de Sousa Lopes chegava com toda a sua família para viver na nova capital do Brasil, que só seria inaugurada em 1960. 

Sua família morava no Núcleo Bandeirante quando surgiu a oportunidade de um certame onde ganharia aquela que vendesse mais votos; o dinheiro arrecadado se destinaria à construção da capela de madeira "Dom Bosco". Duas candidatas concorreram para ganhar o concurso e Annita acabou vencendo, pois foi a que vendeu mais votos. Hoje ela está com 68 anos e teve seis filhas. 
Fonte e foto: Correio Brasiliense.Colaboração de Antonio Carlos Gomes de Castro.




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