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sábado, 18 de abril de 2015

SESSÃO NOSTALGIA - Gessy Gesse, a morena flor de Vinícius de Moraes

Daslan Melo Lima

      Enquanto Roberto Macêdo nos conduzia em seu carro, da praia de Patamares para o centro de Salvador, na tarde chuvosa do dia 10, após termos almoçado com Martha Vasconcellos, Miss Bahia, Miss Brasil e Miss Universo 1968, o foco das nossas conversas era Misses. No veículo, eu,  Fernando  Machado (jornalista pernambucano, do Recife);  Genaro Oliveira Pires (educador baiano, de Paulo Afonso) e  Oscar Bastos Pereira (profissional da área de saúde, de Goiânia, GO), convidados para o lançamento da biografia de Martha, obra escrita pelo Roberto e lançada na noite anterior no Palácio da Associação Comercial da Bahia.
        “ A Miss Pernambuco Dione Oliveira foi injustiçada no Miss Brasil 1959”, afirmou Fernando. ***** “O que você achou de Larissa Costa, Miss Brasil 2009?”, perguntou Oscar ao Roberto, que não hesitou em responder: “Eu fui assistir ao Miss Universo 2009 e presenciei pessoas aplaudindo e pedindo autógrafos a Larissa. Muito linda!"  ***** Garantiu Oscar: “Eu vou estar com Ieda Maria Vargas em Gramado, na próxima semana. Ela está se recuperando de uma queda onde fraturou um braço”.  ***** De repente, perguntei ao Roberto: “Por onde anda Gessy Gesse?”  Bem humorado, Fernando interferiu: “Você quis dizer Jesse James, o cowboy americano?” Risos. Genaro contou que viu um dia Gessy Gesse no aeroporto, antes de embarcar num voo para Brasília, e que não se aproximou porque não quis interromper a conversa dela com o escritor Ariano Suassuna (1927-2014). ***** "Isso vai terminar numa Sessão Nostalgia", prometi ao pessoal.
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         Se pesquisarmos no Google o nome Gessy Gesse, vamos encontrar que se trata de uma atriz, produtora cultural, ex-esposa do poeta Vinicius de Moraes (1913-1980).  Não há nada fazendo alusão sobre seu passado de Miss, mas Gessy Gesse, nome artístico de Gessy Rozenda de Deus, foi terceira colocada no Miss Bahia 1956, ano em que o título ficou com Sônia Santiago Mamede, não confundir com a atriz, comediante e vedete Sônia Mamede (1936-1990).               


          Gessy Gesse nasceu em Salvador, no bairro de Santo Antonio Além do Carmo, em 16/01/1939, aparada no colo de sua avó materna, que era índia Tupinambá. O pai era um homem muito rígido. Gessy recebeu muitas punições por suas inúmeras travessuras, porém nunca chorou na frente dele. Compreendeu a dureza de seu pai como resultado da própria vida dele. Filho de uma índia Tupinambá que com duas irmãs tinham sido levadas para cortar cana em Santo Amaro da Purificação e foi estuprada aos 13 anos pelo "Senhor do Engenho". Faleceu de parto, no canavial. Suas duas irmãs (tias de seu pai) fugiram com a criança e vieram parar em Salvador. Com a vida dura que teve seu pai se tornou a pessoa rigorosa e intransigente que a educou com firmeza. Prometeu, quando crescesse, se permitir todo o tipo de liberdade.
      O amor de sua avó por um índio chamado Gesse, com quem nunca teve oportunidade de se relacionar, gerou o pedido de que a criança que estava por nascer tivesse esse nome. Quando seu pai a foi registrar, o escrivão grafou seu nome como Gessy. Era uma marca de sabonete e produtos de higiene famoso na época. Ela revela o quanto odiou esse nome, até que, quando iniciou sua vida artística, adotou o nome de Gessy Gesse que lhe pareceu mais sonoro e apropriado ao pedido original. Quando pequena, sofria bullying ao ser comparada, pelos seus colegas, ao sabonete Gessy. 
      Aos 16 anos casou com seu primeiro marido, que conheceu em um pronto socorro em um dia de carnaval por ter "cortado o pé" na avenida. Como passaram da hora de voltar para casa, ela e as irmãs sabiam que a surra era certa. Para se livrar da punição, provocou o corte no pé para que com a justificativa do atendimento no pronto socorro seu pai abrandasse o coração. De fato ela não apanhou, mas as irmãs foram punidas. Casou-se para se livrar das surras do pai e ter uma vida mais independente. No dia do casamento seu pai advertiu o marido: "Você vai levar uma Jararaca". Deste casamento, teve dois filhos.
      Resolveu ir conhecer o Rio de Janeiro onde dois amigos baianos moravam e seguidas vezes a convidavam para visitá-los. Era Maria Bethânia e Caetano Veloso. Bethânia a convidou para uma festa de homenagem à Vinicius de Morais. Gessy disse que não queria ir por que "festa de intelectual é coisa chata". Cedeu ao convite, resolvida a ficar por pouco tempo, mas ao ser percebida por Vinicius, ele fez de tudo para conhecê-la, iniciou-se um troca-troca de olhares, com direito a sinalizações com o copo de whisky na mão e bilhetinhos.
      Gessy e Vinicius casaram no Uruguai em 1970 e três anos depois na Bahia, no ritual cigano, com direito a corte no pulso (com muito cuidado pois Vinicius era diabético), troca de sangue e muitas margaridas brancas, a flor que ambos gostavam. Os padrinhos de Vinicius foram Jorge Amado (1912-2001) e Zélia Gattai (1916-2008). Os de Gessy foram Alta Rosa e o mestre Calá.
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Gessy Gesse trabalhou nos filmes Sol sobre a lama (1963), de Alex Viany (1918-1992); Senhor dos Navegantes (1963), de Aloiso T. de CarvalhoO Santo Módico (1964), de Robert Mazoyer (1929-1999); e  Caveira, my friend (1970) , de Álvaro Guimarães
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          Vinicius de Moraes compôs para ela as músicas Morena Flor, Samba de Gesse Regra Três, além do Soneto de Luz e Treva.


MORENA FLOR
Morena flor me dê um cheirinho / Cheinho de amor / Depois também me dê todo esse denguinho / Que só você tem /// Sem você o que ia ser de mim / Eu ia ficar tão triste / Tudo ia ser tão ruim / Acontece que a Bahia fez você todinha assim / Só para mim. ***** https://www.youtube.com/watch?v=pDTHCur2Euc
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SAMBA DE GESSE
Até parece / Que eu conhecia sempre você / Que me aparece / Quando eu não via jeito de ser  /// A gente esquece / Que a gente muda de bem-querer / Ah, se eu pudesse / Tinha esperado só por você  /// Quando amanhece / Eu ao meu lado vejo você / Eu digo em prece / Que a vida é linda como você  /// Eu que era louco / Eu que era triste / Deixei de ser / Até parece / Que só existe eu e você. ***** https://www.youtube.com/watch?v=k3emS9W5RDY
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REGRA TRÊS
Tantas você fez que ela cansou / Porque você, rapaz / Abusou da regra três / Onde menos vale mais /// Da primeira vez ela chorou / Mas resolveu ficar / É que os momentos felizes / Tinham deixado raízes no seu penar / Depois perdeu a esperança / Porque o perdão também cansa de perdoar /// Tem sempre o dia em que a casa cai / Pois vai curtir seu deserto, vai / Mas deixe a lâmpada acesa / Se algum dia a tristeza quiser entrar / E uma bebida por perto / Porque você pode estar certo que vai chorar.***** https://www.youtube.com/watch?v=dVO6ZOb45oA
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SONETO DE LUZ E TREVA
Itapuã. Para a minha Gesse, e para que ilumine sempre a minha noite  -

Ela tem uma graça de pantera
No andar bem-comportado de menina. 
No molejo em que vem sempre se espera
Que de repente ela lhe salte em cima. 

Mas súbito renega a bela e a fera
Prende o cabelo, vai para a cozinha
E de um ovo estrelado na panela
Ela com clara e gema faz o dia.

Ela é de capricórnio, eu sou de libra
Eu sou o Oxalá velho, ela é Inhansã
A mim me enerva o ardor com que ela vibra

 E que a motiva desde de manhã. 
- Como é que pode, digo-me com espanto 
A luz e a treva se quererem tanto...
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Dinâmica, de bem com a vida, a atriz vem se dedicando nos últimos anos à produções e coordenação de projetos sociais e culturais. 

      Não sei o lugar que as lembranças do Miss Bahia 1956 ocupam em seu coração, Gessy Gesse, mas de uma coisa tenho certeza, de que as recordações de sua vida  ao lado de Vinícus de Moraes estão em primeiro lugar, tanto que você escreveu um livro sobre o assunto.  Tanto que o título desta crônica não poderia ser outro, Gessy Gesse, a morena flor de Vinícius de Moraes.

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Saiba mais clicando nestes links: 
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Entrevista de Gessy Gesse no programa Perfil & Opinião, TVE, novembro de 2013.


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7 comentários:

Anônimo disse...

Eu jamais teria conhecimento de que a baiana Gessy Gesse teria sido Miss se não fosse este blog.

Adooooreiiii!

C. Rocha de Floripa

Roberto Macêdo disse...

Daslan, farei esta bela crônica chegar a Gessy. Ela estava convidada para o lançamento da biografia e só não foi por conta do dilúvio! Abraço,

Roberto Macêdo

Anônimo disse...

Daslan,

Agora me reportei àquela tarde chuvosa em Salvador. Após o almoço com MARTHA VASCONCELLOS (Miss Universo 1968), já no carro de Roberto Macedo, conversávamos de forma entusiasta: risos, memórias, alegrais...Eu, vc, Oscar, Fernando e Roberto (Heliana já tinha pegado o vôo dela). Isto td após almoçarmos com ELA = MARTHA MARIA CORDEIRO DE VASCONCELLOS, a baiana que encantou o universo em 68. Agora bateu uma saudade...saudades de tds vcs. Abração! (Genaro Oliveira, da Bahia)

MHM disse...

Crônica muito boa... Desconhecia estes fatos de Gessy Gesse.. Muito legal guardar essa memoria e viver a boa nostalgia...

Anônimo disse...

Gente gostei muito de saber a história de minha tia e o grande poeta pois n tenho contato com ela e n conheci ele

Unknown disse...

Amei...minha tia sempre muito linda...

Joseberto Cruz disse...

Rapaz, que traço bacana vc deu no papel. Parabéns Daslan, eu tenho pesquisado sobre a vida do casal ultimamente, para entender melhor essa paixão de Vinicius por essa baiana admirável. O livro dela deve esclarecer, afinal, o fim do relacionamento. Um conto de fadas que povoa a imaginação de todos que amam a poesia de Vinicius e na qual ele encaixou Gesse tão bem. Era amor, é amor, continuará sendo... como as tardes de Itapoã...