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SEJA BEM-VINDO ! SEJA BEM-VINDA! VOCÊ ESTÁ NO BLOG PASSARELA CULTURAL, cujas postagens, na maioria das vezes, são postadas aos sábados e domingos. Nossa trajetória começou em 02/07/2004, com o nome de Timbaconexão, como coluna sociocultural do extinto site de entretenimento Timbafest. Em 12/10/2007, Timbaconexão migrou para blog com o nome de PASSARELA CULTURAL, quando teve início a contagem de visitas. ***** Editor: DASLAN MELO LIMA - Timbaúba, Pernambuco, Brasil. ***** Contatos : (81) 9-9612.0904 (Tim / WhatsApp). E-mail: daslanlima@gmail.com

sábado, 28 de julho de 2018

Em nome das coisas simples


              Quem foi que disse que é necessário gastar muito para dar um presente a um amigo? Quem foi que deixou de vivenciar momentos maravilhosos onde a simplicidade superou o glamour? A disputa eterna entre o Ter e o Ser faz muitas vítimas: pessoas que valorizam as coisas matérias de maneira exacerbada.  
           Fiquei apaixonado por umas pulseiras verdes e amarelas que encontrei num banco de feira. Ideais para usar durante o período da Copa do Mundo.  Preço de cada uma? Apenas R$ 1,50 (um real e cinquenta centavos). Comprei duas para mim e algumas para presentear amigos. Jamais esquecerei o brilho nos olhos de alguns quando receberam o mimo, o olhar brilhando de contentamento e algumas lágrimas tentando cair.
         Vamos ouvir o que têm a dizer três celebridades da literatura sobre o assunto:  
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Khalil Gibran (1883-1931), poeta e filósofo libanês:
“A simplicidade é o último degrau da sabedoria”
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Manoel Bandeira (1886-1968), poeta brasileiro nascido no Recife, Pernambuco:
“Quero a delícia de poder sentir as coisas mais simples”
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Leon Tolstói (1828-1910), escritor russo
“Não há grandeza quando não há simplicidade. ”
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        Em nome da beleza das pequenas coisas, guardei minhas pulseiras numa caixa repleta de recordações. Quinquilharia, para uns, e ouro, para outros.  
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- Daslan Melo Lima

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DE OLHO NO PASSADO - Manchete, ano 27, nº 1373, 12 de agosto de 1978

LOUISE, O BEBÊ DE PROVETA - Sorridentes e orgulhosos, Lesley e John Brown exibiram a filha que desejaram durante nove anos e cujo nascimento só foi possível graças a um verdadeiro milagre da ciência. Nos próximos meses outras clientes do cientista Robert Edwards e do ginecologista Patrick Steptoe darão à luz bebês de proveta. 
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REMINGTON PORTÁTIL - Propaganda da máquina de datilografia portátil da marca Remington. 
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CACÁ DIEGUES: "XICA DA SILVA, PADROEIRA DO BRASIL" - Agora são duas Joanas d'Arc a disputar as telas da capital francesa, a clássica, de Dreyer, e a outra, negra, exuberante e tropical, de Carlos Diegues, que está em Paris para o lançamento de seu "Xica da Silva". Disse ele: "Assim como Joana d'Arc foi durante muitos anos uma personagem marginal da história da França, sendo redescoberta e recuperada por Michelet, acho que Xica da Silva pode muito bem ser a padroeira do Brasil, na medida em que ela tem as características básicas de uma possível civilização brasileira: sensualidade, anarquia consciente, força popular, criação e imaginação. Toda esta festa barbara que caracteriza nosso modo de ser." 
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MISS UNIVERSO 1978. AFRICANA E LOURA - Mais de 500 milhões  de pessoas viram pela TV a vitória de uma poetisa de 18 anos na passarela de Acapulco, México. Depois que a representante de Trinidad-Tobago, a negra Janelle Comissiong, ganhou , em 1977, o título mundial da beleza, o concurso de Miss Universo reservava uma surpresa aos seus aficionados: a vitoriosa deste ano é Margaret Gardiner, uma linda loura da África do Sul. 

Poucas horas após receber coroa, cetro e o prêmio de 50.000 dólares, a bela poetisa de 18 anos, da cidade do Cabo, declarou "que não é racista, mas não se pode entregar o poder aos negros, assim de uma vez". As declarações refrescaram bastante o clima do concurso, arriscado a se transformar em "tempo quente", por causa das declarações antipáticas do Movimento Nacional de Mulheres, organização feminista do México, decididamente contra a festa.

No luxuoso Centro Acapulco às margens do Pacífico, o público aplaudiu demoradamente a primeira colocada e a segunda, a americana Judi Andersen, de Honolulu. Mais de 500 milhões de pessoas viram o espetáculo pela televisão, em 50 diferentes países. E se a a brasileira Suzana Araújo dos Santos não foi classificada impressionou a todos por sua doçura e simpatia.  A coroa que Miss Universo 1978 ajeita na cabeça significa contratos, viagens - um futuro de Cinderela. 

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DE TIMBAÚBA PARA O MUNDO - Cláudio Fonsêca: “meu próximo show será melhor do que o anterior”


>>>> Timbaubense criado em Ferreiros, ele sonha ser reconhecido em todo o território nacional.

        
      Cláudio Fonsêca é o nome artístico de Edinaldo Pedro da Silva, nascido no dia 18/02/1984, em Timbaúba, um dos doze filhos do pedreiro Luiz Pedro da Silva e Severina Inácio da Silva, prendas do lar. Criado em Ferreiros, estudou até a sétima série na Escola Emiliano Pereira Borges.
      Começou a cantar aos 16 anos de idade. Morou em Carpina, PE,  e viveu um tempo em Fortaleza. Casado com Tatiana Marques Trajano, mãe do seu filho João Pedro, três anos. Também é pai de outro garoto, o Kayque Trigueiro, 11 anos, fruto do seu primeiro casamento. Foi por Kayque que Claudio retornou às raízes. “Meu filho é um menino sensível e estava precisando muito da minha presença ao seu lado. Larguei tudo em Fortaleza para ficar mais perto dele, que já arranca aplausos como cantor”, confessa.

         
Pingue pongue com Cláudio Fonsêca

Cantor: Marquinhos Maraial, minha grande inspiração.
Cantora:  Alcione
Música que adora cantar: “Ponta de Faca”, de Vicente Nery. 
O que mais o gratifica como cantor: Ver o povo feliz
Um motivo de decepção: Saber que a violência se alastra. Fui assaltado há três anos em Camutanga
Religião: Tenho muita fé em Deus. Minha ligação é com Ele. 
Santo de devoção: Santa Ana.  
Sonho de consumo:  Não quero ser o melhor. Quero fazer o melhor. Sempre tenho em mente que o próximo show será melhor do que o anterior. 
As músicas que você canta e que despertam maior emoção: Oceano, Tortura de Amor e Camas Separadas
Programa de TV: Fantástico.  
Uma frase: O dia de amanhã pertence a Deus
Um motivo de alegria: Está com saúde e ter a consciência tranquila.  
O que a vida lhe ensinou: Fazer o bem é a melhor coisa do mundo.

         O artista já gravou doze cds, um dvd e atuou como vocalista de várias bandas, tais como Forró Dois Corações, Garota Dourada, Forrozão Nega Maluca, Forrozão Sonho Real, Balaio de Gato e Grupo Alta Tensão.  Ele canta todos os ritmos e tem muito cuidado em permanecer fiel às letras, observando a concordância e pronúncia. Para conservar a voz versátil, grave-agudo-médio, não toma bebidas geladas, não fuma e não ingere bebida alcoólica. Para aliviar o cansaço vocal, gargareja um copo americano de água morna, sal e vinagre.
        Um sonho? Emocionado ele respondeu, concluindo nossa entrevista: “Daslan, sonho fazendo sucesso nacional. Tenho certeza que Deus vai me proporcionar a graça de ser reconhecido em todo território brasileiro”.
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Serviço: Contatos para apresentações: (81) 9.9327.8099 (Claro) e (81) 9.9481.4841, Tim/Whatsapp.
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Matéria originalmente postada no jornal CORREIO DE NOTÍCIAS, em março/2017, aqui atualizada, conforme a página de COMPORTAMENTO da revista TIMBAÚBA EM FOCO, junho/2018, edição 86. 

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SESSÃO NOSTALGIA - "A beleza é um acordo entre o conteúdo e a forma." (Ibsen)

Daslan Melo Lima

                     Seis imagens de misses, em nostálgico preto e branco, intercaladas com citações de autores famosos sobre beleza, eis a inspiração que tive para produzir a Sessão Nostalgia desta semana. Com você, prezado leitor, prezada leitora, alguns minutos para reflexão.  

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"Podemos viajar por todo o mundo em busca do que é belo, mas se já não o trouxermos conosco, nunca o encontraremos." 
- Ralph Waldo Emerson (1803-1882), poeta americano.

Lia Guimarães Pires de Castro
Miss Ceará, quarto lugar no Miss Brasil 1957
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"Uma mulher bonita não é aquela de quem se elogiam as pernas ou os braços, mas aquela cuja inteira aparência é de tal beleza que não deixa possibilidades para admirar as partes isoladas."
- Sêneca (4 a.C. - 65), filósofo romano

Magda Pfrimer
Miss Goias 1958 e Miss Brasília 1960
Vice-Miss Brasil e representante brasileira no Miss Beleza Internacional 1960
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"A beleza ideal está na simplicidade calma e serena."
- Goethe (1749-1832), escritor alemão.

Aizita Nascimento
Miss Renascença, sexto lugar no Miss Guanabara 1963
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"Uma coisa bela persuade por si mesma, sem necessidade de um orador."
- William Shakespeare (1564-1616), escritor e dramaturgo inglês

Vera Lúcia Couto Santos
Miss Guanabara, Vice-Miss Brasil, 
terceiro lugar no Miss Beleza Internacional 1964
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"Que grande dom de Deus é a beleza! É preferível tê-la ao dinheiro: pois a riqueza não dá beleza, mas com beleza se conquista a riqueza."
- Giuseppi Belli, poeta italiano. (1791-1863)

Ana Cristina Ridzi (1947-2015)
Miss Guanabara, Miss Brasil 1966
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"Ama a beleza; é a sombra de Deus no universo." 
- Gabriela Mistral, poetisa chilena (1889-1957)
Irene Saez
Miss Venezuela, Miss Universo 1981
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             A frase que serve de título para esta matéria, autoria de Ibsen (1828-1906), dramaturgo norueguês, encerra uma verdade: "A beleza é um acordo entre o conteúdo e a forma." Mas vejam o que disse o ator e diretor inglês Charles Chaplin (1889-1977): "A beleza existe em tudo - tanto no bem como no mal. Mas somente os artistas e os poetas sabem encontrá-la."
                  A escritora cearense Raquel de Queiroz (1910-2003) escreveu um dia: "Tudo são dons, dons gratuitos, que se recebem da fonte de todos os dons. Valerão eles menos por isso? E a beleza, entre os dons, é o mais alto de todos: o maior elogio que se pode fazer a uma realização, a uma paisagem, a um poema, é dizer que são belos. Por que a beleza é a coroa que os completa. Nem a virtude se concebe sem beleza, nem a divindade... Porque a beleza é como um selo de Deus." O texto, completo e primoroso, está lá, em "Carta a Emília, Miss Brasil", uma pérola publicada na  revista O Cruzeiro, em julho de 1955, tema da Sessão Nostalgia de 23/03/2013,  disponível neste link:
   
                            
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sábado, 21 de julho de 2018

Copa do Mundo de 2018, aprendendo com a chuva




          A França, com a maioria dos seus jogadores negros como as noites sem Lua, sagrou-se Campeã da Copa do Mundo de 2018. A Croácia, com seus jogadores brancos como a Lua, tornou-se Vice. 
         Na cerimônia de encerramento da Copa do Mundo, nada me pareceu mais belo do que a chuva caindo sobre as cabeças desprotegidas de autoridades, campeões, vice-campeões, fotógrafos, etc. Indiferente às etnias, a chuva abençoada deu às nações uma lição de convivência.


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Fotos: Mattias Hangst/Getty Images
Crônica:  Daslan Melo Lima

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DE OLHO NO PASSADO - Manchete, nº 432, ano 8, 30 de julho de 1960


JOAN CRAWORD ADOROU O RIO - A célebre estrela não perdeu um minuto sequer das 24 horas que passou no Rio de Janeiro. Ainda a bordo do luxuoso transatlântico, no qual está fazendo um cruzeiro turístico, Joan Craword revelou ao repórter que estava ansiosa para conhecer a cidade. Antes, porém, foi convidada a tomar um cafezinho brasileiro, no Touring Club, que fez como se fosse uma pessoa qualquer. Desfazia-se a impressão que muitos tinham da veterana atriz: a mulher arrogante e fechada que se esperava encontrar era uma mulher simples e solícita.
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EM CABO FRIO: BALEIA À VISTA - Os baianos já pescavam longos e pesados cetáceos no tempo do Brasil Colonial. Qual a melhor explicação para o cardume de baleias que acaba de aparecer na altura de Cabo Frio? Elas são originárias do Oceano Atlântico e há duas versões sobre a sua existência nas águas brasileiras. A primeira é de que os cetáceos fogem das geleiras durante o inverno e procuram as correntes do Atlântico: umas se aproximam da costa do Brasil e outras da costa africana. A segunda versão é de que as baleias preferem reproduzir em  águas mais temperadas, razão pela qual, quando voltam às águas geladas, levam os filhotes.
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GINA MACPHERSON, MISS BRASIL 1960 - Sorrindo da derrota em Miami, Gina voltou ao trabalho. Bonita no seu vestido amarelo e sapatos azul-claro, Gina desceu no Galeão com o melhor dos sorrisos. Amuada com a sua má colocação no concurso, em Miami? Nada disso. E sua mamãe ainda está feliz. "Eu ficaria apreensiva se minha filha continuasse a viver nessa roda viva de compromissos para festas e esticadas em boates". 
"Portuguesas!" Foi a exclamação de Miss Brasil, que devia vir acompanhada de Miss Portugal. Mas esta perdeu o avião. E as moças com trajes típicos recepcionaram Gina, que ficou desvanecida pela homenagem.
Todo mundo queria saber como se encontra seu namoro com o jovem americano de Miami. "Foi um mero flerte, nada sério, continuo comprometida com um oficial da armada inglesa, agora em Londres." Mas os repórteres insistiram no seu caso com o americano. "Bem, bonito ele é!"  
E agora, Gina, o que vai fazer? "Voltarei calmamente para o balcão de recepcionista, como antes. Minha vida não se alterará em nenhum ponto, apesar de todas as emoções novas que vivi." 
Gina Macpherson, Miss Guanabara, Miss Brasil e semifinalista (Top 15) no Miss Universo 1960. Beijo do papai feliz com a volta da sua querida filha para os fins de semana na fazenda da família.  

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DE TIMBAÚBA PARA O MUNDO - Lúcio Cintra Valença, o inesquecível “sonhador”



>>>>> Natural de Garanhuns, amante da vida e da boa música, ele marcou época em Timbaúba com um famoso caldinho. 

       
  Foi na cidade de Garanhuns que nasceu Lúcio Cintra Valença, no dia 15 de abril de 1932, filho de Manoel Cintra Valença e Maria Cintra Valença. Trinta anos depois, Lúcio veio morar em Timbaúba, a fim de trabalhar no armazém de secos e molhados de propriedade do seu primo Heronildes Fontes Cintra. Nas idas e vindas que a vida se nos apresenta, conheceu a jovem Maria José Freire de Araújo, uma timbaubense conhecida por Zita ou Zezita, com quem casou em 03 de junho de 1965.
        Lúcio e Zita tiveram dois filhos, Luciane de Araújo Valença e Lúcio Cintra Valença Filho, esposo de Maria Lucineide de Oliveira Valença. Lúcio Filho e Lucineide deram ao casal Lúcio e Zita três netos: Lúcio Cintra Valença Neto, Lucas Eduardo de Oliveira Valença e Luiz Augusto de Oliveira Valença.
      Nos meados dos anos 1960 e início da década de 1970, Lúcio Cintra Valença abriu seu próprio negócio, voltado para um bar e empório (comércio diversificado e mercadorias), com o  nome de Imaculada Conceição, denominação pouco conhecida, pois o que o tornou um estabelecimento afamado foi o célebre caldinho de camarão, o caldinho do Lúcio.
       Amante da vida e da boa música, admirador e fã incondicional da Banda Musical 1º de Novembro, a tradicional “Pé de Cará”, Lúcio decorou e assobiava uma música pela qual era apaixonado: o dobrado “O Sonhador”, de Oswaldo Passos Cabral (*Taperoá, BA, 05/02/1900. +Rio de Janeiro, RJ, 1º/08/1991).  Vide:  https://www.youtube.com/watch?v=jgb3IzZKoNg
      Lúcio Cintra Valença faleceu no dia 23 de março de 2017, deixando um legado inestimável de fé e coragem.  
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     “Sede fortes e corajosos; não temais, nem vos atemorizeis diante deles; porque o Senhor vosso Deus é quem vai convosco. Não vos deixará, nem vos desamparará.” -  Deuteronômio, 31:6
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Fontes:
Jeová Barboza de Lira Cavalcanti/Lúcio Filho

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SESSÃO NOSTALGIA - Quintino Medeiros em entrevista exclusiva: "Marta Jussara da Costa teria sido uma maravilhosa Miss Universo. Valéria Bohn foi a Miss Rio Grande do Norte mais injustiçada da história do Miss Brasil"


Daslan Melo Lima


              Esta semana, mais uma pausa no resgate das histórias das nossas Misses, a fim de dar lugar a uma entrevista com outro leitor assíduo desta secção. Ele é Quintino Medeiros, graduado em História pela UFRN-Universidade Federal do Rio Grande do Norte e Mestre em História, Cultura e Sociedade  pela UFCG-Universidade Federal de Campina Grande, pesquisador, professor universitário, natural de São João do Sabugi, Rio Grande do Norte.
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PASSARELA CULTURAL – Como começou a sua paixão pelas misses?
QUINTINO MEDEIROSPenso que algumas coincidências fortuitas contribuíram para isso. Uma delas: em 1976, a Miss Rio Grande do Norte foi Eliane Maria Rocha de Azevedo, do município de Jardim do Seridó, cuja mãe era natural da minha cidade, São João do Sabugi. 

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Eliane Maria Rocha de Azevedo, Miss Rio Grande do Norte 1976, falecida no dia 26/04/2018, data em que estaria celebrando 60 anos de idade. 
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Um primo dela era meu colega de escola e presidia o Grupo de Adolescentes vinculado à Igreja Católica, do qual eu também participava. Para arrecadar recursos para o grupo, foram feitos concursos de beleza em 1977 e 78, em que as crianças e adolescentes competiam, mas também coordenavam, tudo sendo feito por elas, sem a participação de adultos. Eu ajudava na confecção dos trajes típicos, pois tinha habilidades para a produção de adereços e, assim, fui adentrando no chamado “universo-miss”. Ainda: em 1979, quando eu tinha 13 anos de idade, Marta Jussara da Costa foi eleita Miss Brasil, o que trouxe bastante visibilidade para esses certames no Rio Grande do Norte, com muitas matérias sendo veiculadas na imprensa falada e escrita do Estado. 

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Marta Jussara da Costa, Miss Rio Grande do Norte, Miss Brasil, quarto lugar no Miss Universo 1979.
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Lembro-me que, em minha cidade, uma moça vestida com maiô, manto, cetro, faixa e coroa desfilou em carro alegórico na parada cívica de Sete de Setembro, representando Marta Jussara. Colecionei todas as reportagens sobre a Miss Brasil 1979 e passei a juntar tudo o que encontrava sobre o assunto, constituindo um considerável acervo. A partir daí, simultaneamente, passei a realizar esses eventos em minha cidade e, certo tempo depois, a conduzir representantes municipais aos concursos regionais e estaduais.
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PC – Quais as suas misses inesquecíveis?                                   
QM – Minhas misses inesquecíveis são:

Neli Cavalcanti Padilha, Miss Rio Grande do Norte, quinto lugar no Miss Brasil 1964. 
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Vera Lúcia Couto dos Santos, Miss Guanabara, Vice-Miss Brasil, terceiro lugar no Miss Beleza Internacional 1964.
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Martha Vasconcellos, Miss Bahia, Miss Brasil, Miss Universo 1968.
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Marta Jussara da Costa, Miss Rio Grande do Norte, Miss Brasil, quarto lugar no Miss Universo 1979.
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Adriana Alves de Oliveira, Miss Rio de Janeiro, Miss Brasil, quarta colocada no Miss Universo 1981. Três anos depois, Adriana foi eleita Miss Brasil Mundo e ficou entre as semifinalistas (Top 7) do Miss Mundo 1984.  
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Ilma Julieta Urrutia Chang, Miss Guatemala, semifinalista (top 10) no Miss Universo 1984, primeira colocada no Miss Beleza Internacional 1984.
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Aishwarya Rai, Miss Índia, Miss Mundo 1994.
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PC – Qual a garota mais injustiçada do Miss Rio Grande do Norte?


QMLiz Fernandes, em 2008, fez a melhor entrevista do Top 5, e tinha excelentes qualidades estéticas, mas parou no Top 3. Penso que deveria ser a Miss Rio Grande do Norte ou a sua vice naquele ano.
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PC – Uma Miss Rio Grande do Norte que teria sido uma maravilhosa Miss Brasil.

QMValéria Bohn, em 1997.  Foi vice no Miss Brasil, perdendo para Nayla Micherif, e depois fez sucesso como modelo.
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PC – Uma Miss Brasil que teria sido uma maravilhosa Miss Universo.

QM – Marta Jussara da Costa, Miss Brasil 1979.
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PC – Qual a Miss Rio Grande do Norte mais injustiçada do Miss Brasil?


QM – Valéria Bohn, Miss Rio Grande do Norte 1997.
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PC – Qual a brasileira mais injustiçada do Miss Universo?

QM – Leila Schuster, Miss Brasil 1993.
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PC – Fale um pouco da sua experiência como produtor de concursos de beleza em sua cidade.
QMEsse tem sido um hobby muito caro, porém realizador. Moro num município potiguar muito pequeno, localizado no sertão do Seridó, sem empresas e instituições interessadas em patrocinar esse tipo de efeméride. Chamo de passatempo exatamente porque a minha relação com o mundo-miss dá-se por afinidade, gosto e idealismo, sem profissionalização nem busca de rendimentos financeiros. Para a realização dos certames locais, invisto recursos meus, peço a colaboração dos amigos e conterrâneos, além de contar com o apoio de uma equipe de voluntários que sua a camisa e se doa muito. Enquanto isso, o custeio das participações de representantes locais em certames regionais e nacionais é inteiramente feito com recursos próprios, com o auxílio de um ou de outro amigo de boa vontade. De qualquer modo, apesar dos prejuízos materiais, os ganhos intangíveis têm sido consideráveis: a autoestima despertada em jovens sertanejas; a oportunidade que possibilito às mesmas; as histórias de superação que as vejo protagonizarem.
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PC – Quais as críticas construtivas que faria à coordenação do Miss Rio Grande do Norte?

QM O concurso Miss Rio Grande do Norte deu um salto de qualidade com a entrada de George Azevedo na coordenação, a ponto de obter excelentes classificações das representantes potiguares na última década, o que fez o Estado ser mais respeitado no espaço habitado por misses e missólogos. Ficou mais moderno, dialogando com o mundo da moda e obtendo maior visibilidade. Sei que isso tudo se deu com o enfrentamento de muitas dificuldades, porque o lugar dos potiguares é pobre de recursos e patrocínios para esse tipo de empreendimento. Mas, ao mesmo tempo em que louvo o êxito alcançado, creio que as fórmulas – mesmo as de sucesso – precisam ser frequentemente alteradas, balançadas, renovadas, para que as janelas abertas permitam entrar novos ares, refrescando o ambiente. Confesso que, às vezes, imagino uma reviravolta partindo de dentro do concurso, trazendo um revival inovador ou uma novidade antiga, por mais contraditórios que esses conceitos possam parecer.
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PC – Quais as críticas construtivas que faria à Bee Emotion? Que sugestões daria para que o Miss Brasil voltasse a atrair o interesse da população brasileira, tal como acontecia nos áureos tempos do concurso?
QM É muito difícil, talvez impossível, fazer com que os concursos de miss no Brasil voltem a possuir o público que atraía em seu auge, entre os anos 1950 e 1960. A sociedade brasileira mudou muito, ao mesmo tempo em que a indústria cultural orientou-se mormente para o futebol, a música, a novela, et cetera. É possível refletir que os concursos estéticos foram se engessando, à medida que o mundo pareceu avançar; quando se percebeu, as misses estavam muito mais associadas ao passado do que ao presente, incapazes de atrair a atenção de públicos mais jovens. Nas últimas décadas, com a maior visibilidade do Miss Brasil na televisão, como também com a emergência da internet, mostra-se a possibilidade de uma retomada de público e de importância para os concursos de beleza. O ideal seria que tal se desse num diálogo entre tradição e modernidade, mantendo-se certos liames e ampliando-se a vista para outros horizontes. Um ponto crucial seria, a meu ver, democratizar a participação, barateando (valor simbólico) ou extinguindo (custo zero) as taxas de inscrição nos certames de nível estadual: os concursos estaduais precisam ser bastante competitivos e representativos da diversidade brasileira, acessível a todas as moças interessadas, não somente às que dispõem de recursos pecuniários. Enquanto a beleza continuar sendo apanágio de certas regiões, de determinados Estados, deste ou daquele biótipo, deste ou daquele segmento social, o povo brasileiro – rico e diverso – não se sentirá representado nem chamado a apoiá-la.
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PC – A última brasileira eleita Miss Universo foi a baiana Martha Vasconcellos, em 1968. A que você atribui o jejum de meio século?
QM É difícil fazer uma análise desse jejum. Talvez o problema não possa ser encontrado somente nos nossos defeitos e vícios, mas ainda nas qualidades e virtudes dos outros países, nossos concorrentes. Até a década de 1960, o Miss Brasil era um dos principais concursos de beleza do mundo e as misses brasileiras eram reverenciadas em todas as competições estéticas internacionais. A década de 1970 iniciou o nosso calvário: a revista O Cruzeiro deixou de existir (reduzindo-se a divulgação do Miss Brasil), os escândalos levaram ao descrédito, outros focos de interesse apareceram na mídia. A década de 1980 foi o máximo da decadência: o concurso nacional foi bregalizado, adquirindo o formato de show de calouros, chegando ao cúmulo da decadência com a não realização do Miss Brasil em 1990, e a consequente ausência no Miss Universo. Ao mesmo tempo, nesse contexto dos anos 1970-80, apareceram no cenário mundial outras “power houses”, como Venezuela, Filipinas e Porto Rico. Penso que colhemos os frutos dessas duas décadas, mas o século XXI parece apontar que estamos próximos de uma nova consagração.
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PC – Você incentivaria uma garota da sua família para disputar um título de Miss?
QM Sim, desde que assessorada por uma boa coordenação e acompanhada por profissionais bem intencionados. Feito assim, ser miss é uma experiência como outra qualquer, rica e cheia de possibilidades.
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PC – Você tem algum problema em ser chamado de missólogo? O que nos diz desse termo? 
QMDe modo algum. Sei que, para muitos, ter o seu nome associado ao mundo-miss parece criar certo embaraço ou constrangimento, o que, sem dúvida, advém dos muitos problemas havidos nesse âmbito ao longo do tempo, em todos os níveis (municipal, estadual, nacional), mas também à pecha de prática cafona, ultrapassada e antimoderna que foi atribuída aos concursos em muitos lugares e nos últimos tempos. De minha parte, valorizo a vivência que tenho nessa área, principalmente a experiência humana de auxiliar no crescimento de outros seres humanos, aprendendo a lidar com êxitos e frustrações, e fazendo isso com honestidade e compaixão. Ao mesmo tempo, como historiador, sei que os concursos de beleza surgiram na esteira da pseudo-ciência da eugenia, que tanto mal causou à humanidade: por isso, sou um ferrenho defensor do abraço aos novos padrões, à diversidade de cores e formas das cabeças e dos corpos coroados. Como pesquisador, me interesso pelos temas ligados à moda e à beleza: em meu mestrado, estudei sobre a imitação da moda francesa no sertão potiguar dos anos 1950 e adentrei pelas narrativas dos concursos de beleza. Avento a possibilidade de investigar sobre os certames estéticos no doutorado. Eu estudo sobre isso. Sim, sou missólogo.
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PC -  A Miss Espanha que vai disputar o próximo Miss Universo é uma mulher trans. O que você tem a dizer sobre o assunto?
QM - O tema é bastante delicado, por abordar uma questão polêmica da atualidade, que é a transição entre gêneros. Acredito que se os concursos de beleza se aferrarem somente à tradição, podem se cristalizar e virar folclore, fragmento do passado em sobrevida, sempre carente de gestos de proteção. Os problemas de hoje não são os de ontem, por isso as respostas a esses desafios têm que ser atuais. Em nome de uma adequação dos certames aos novos tempos, faz-se necessário haver concessões às novas demandas, promovendo aberturas, flexibilizando os padrões, democratizando os acessos.
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PC – Deixe uma mensagem para os leitores de PASSARELA CULTURAL.
QM Foi uma satisfação atender ao convite do amigo Daslan Melo Lima e compartilhar as minhas ideias com os leitores e desfilantes desta Passarela Cultural. Este é um espaço maravilhoso de informação e diálogo, construído por um genuíno amante da estética, vertida e buscada nos concursos de misses. Que bebam, nesta página virtual, do conhecimento que se necessita para amar as coisas belas, estudando-as e procurando entendê-las sem ranço nem proselitismo. 

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São João do Sabugi, no Rio Grande do Norte, a cidade natal do nosso entrevistado, foi fundada em 1832. Fica a 293 Km de distância da capital Natal. O município foi criado em 1948, quando se deu a emancipação política. A  população é de 6.218 habitantes, pelo censo do IBGE/2015. Foto:  correiodoserido.com.br
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          Ao Quintino Medeiros,  o meu muito obrigado pelas respostas dadas, uma entrevista, sem dúvida, que enriquece os arquivos da Sessão Nostalgia de PASSARELA CULTURAL.  

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