Daslan Melo Lima
Para muitos brasileiros, era ela, Dione Brito de Oliveira, Miss Pernambuco, e não Vera Regina Ribeiro, Miss Distrito Federal, quem deveria ter saído do Maracanãzinho, naquela noite de 20/06/1959, com o manto, a faixa, o cetro e a coroa de Miss Brasil 1959. Dione Oliveira foi a segunda colocada e ganhou o direito de viajar a Londres para representar o Brasil no concurso Miss Mundo.
Em 1º/08/1959, a revista Mundo Ilustrado, uma das mais importantes publicações brasileiras da época, colocou Dione Oliveira na capa, embora a chamada fizesse referência ao concurso Miss Universo, que estava sendo realizado em Long Beach. A reportagem sobre as preliminares do Miss Universo tinha seis páginas. A matéria sobre Dione Oliveira tinha quatro páginas e sete fotos mostrando o seu retorno à cidade de Caruaru.
Abaixo, na íntegra, o texto da revista Mundo Ilustrado, reportagem de Vivone Ítalo e fotos de João Mendes.
EM CARUARU DIONE JÁ É MISS MUNDO
DIONE TEM NOME TROCADO:
DEVIA CHAMAR-SE DIACUÍ, A FLOR DOS CAMPOS
Caruaru engalanou-se para receber sua bela filha que representará o Brasil, em Londres, no próximo certame de Miss Mundo, em outubro do corrente ano. Quase todos os seus 80 mil habitantes foram às ruas para ovacionar a moça que projetou, ainda mais, a segunda cidade pernambucana no cenário nacional.
O jardim Siqueira Campos e a Avenida Rio Branco eram os pontos máximos da concentração popular. Ali foi armado um palanque para que Dione Oliveira saudasse seus amigos caruaruenses. Seu pai, Sr. Dirceu Valença Oliveira, e o prefeito da cidade, Sr.João Lira, a estavam esperando no palanque. O prefeito entregou a Dione a chave simbólica do município. Dione governou Caruaru por um dia e meio.
A uns quinhentos metros do centro da cidade aguardava a comitiva da Vice-Miss Brasil um exército de lambretistas uniformizados, os Falcões Alvinegros e Dragões Alvirrubros, que seriam os batedores do desfile. Dione, em carro aberto, percorreu quase toda a cidade fundada por João Rodrigues do Nascimento. Seu carro era o último.
À sua frente, também em carros abertos, iam Miss Bahia, Srta. Maria Eutímia, e representantes dos maiôs Catalina. Muitos fogos, confetes e serpentinas saudaram a volta de Dione a sua terra natal. Aos gritos de “Dione já é Miss Mundo” o povo acompanhou-a até o Hotel Centenário, onde lhe foi oferecido um banquete.
Em virtude das festividades, foram adiados dois comícios políticos. Caruaru está em campanhas eleitorais.
“Eu deveria ter batizado Dione de Diacuí, porque minha filha é mesmo uma flor dos campos”, disse emocionado o pai de Miss Pernambuco no discurso que fez no banquete, ao qual estavam presentes figuras da sociedade local, imprensa de vários estados, familiares, representantes dos maiôs Catalina, Germainne Monteil Produtos de Beleza, que maquiou Dione desde o concurso de Miss Brasil, e Lóide Aéreo, que transportou todas as misses, de Norte a Sul, ao concurso de Miss Brasil, no Rio de Janeiro. Tomaram parte no ágape 44 pessoas.
O Clube Intermunicipal de Caruaru recepcionou Dione e sua comitiva em sua sede provisória. Fazia parte do programa, além do baile, um desfile, em “avant-première”, de Dione Oliveira, com maiô de prata, ofertado pela Catalina, o mesmo que será usado em Londres.
Assim que Dione assomou à passarela (onde conquistou o título de Miss Caruaru) todos, de pé, aplaudiram-na, delirantemente. Dione pisou firme e dominadora, arrancando lágrimas dos mais emotivos. Desfilou, também, com o vestido que Marcílio Campos idealizou para ela, por ocasião do concurso de Miss Brasil, no Maracanãzinho. O Intermunicipal ofertou-lhe um riquíssimo colar de pérolas. É a primeira vez que o Clube faz uma Miss Pernambuco e, segundo seus diretores, fará as próximas.
Na manhã seguinte a todas essas festividades, dia em que Dione teria que voltar ao Recife, em trânsito para o Rio de Janeiro, onde a esperam cursos de retórica e inglês, patrocinados pelo Lóide Aéreo Nacional, que promoveu a ida a Pernambuco de grande parte da comitiva de Dione, a reportagem de MUNDO ILUSTRADO antecipou-se às homenagens que a Municipalidade havia reservado para as poucas horas que ainda iria permanecer em Caruaru, tirando-a do hotel logo às 8 horas.Dione foi levada a pontos pitorescos da progressista cidade do interior pernambucano e para a fazenda Normandia, bem afastada da cidade, de propriedade do Sr.Pietro Carneiro, para efeito de fotografias. O pai de Dione não gostou de seu desaparecimento. “Minha filha não mais irá a Londres. os senhores raptaram minha Dione”, disse o Sr.Dirceu Valença Oliveira à reportagem, quando Dione voltou à Caruaru.
Prosseguiu: “ Imagine-se o que o povo da cidade irá dizer e comentar quando souber que Dione esteve num carro, sozinha, com vários homens, para ser fotografada por diversos cantos da cidade e fora dela.”
O velho Dirceu não entendia bem nossa missão. Homem do interior, não está acostumado com o que se faz na cidade. Explicamos ao pai de Dione que estávamos em plena função do nosso trabalho, e que nada havia de mais que pudesse colocar em jogo a reputação da sua filha. A muito custo nos entendeu, e ficou o dito pelo não dito.
Dione irá mesmo a Londres, mas que passamos maus bocados, lá isso passamos. O homem telegrafou, até, a Recife, noticiando sua decisão. Mandou um desmentido.
Dione Oliveira representou muito bem o Brasil no concurso Miss Mundo 1959, embora não tenha sido classificada. Morando hoje na Alemanha, onde morre de saudades do Brasil, Dione com certeza vai ler esta Sessão Nostalgia e se emocionar com esta página a ela dedicada.
Na Caruaru de hoje, com quase 300 mil habitantes, quarenta e nove anos depois, o nome de Dione, a flor dos campos, é citado com orgulho e cultuado como uma lenda, a lenda viva da Miss Mundo Brasil 1959.
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Um comentário:
xpto1955Dione Brito de Oliveira, filha do ex-prefeito de São Bento do Una PE, Dirceu Valença de Oliveira, representou um clube de Caruaru no concurso de Miss Pernambuco logrando pleno êxito. Muito são-bentense do Una achou que Dione renegou seu berço natal, mas ela na verdade, como representante do Intermunicipal de Caruaru, no certame, era, de fato, uma caruaruense perfilhada, além do fato de essa cidade do Agreste pernambucano ser mais conhecida do que a nobre e mui leal cidade de São Bento do Una, berço de gente inteligente e criativa como Gilvan Lemos, Leone Valença, Liu Pacheco, Alceu Valença, Clávio e Alfeu de Melo Valença, Valdemir Cadete, Ben, Amtônio de Lica, Adauto Paiva, Sebastião Cintra, Jaime Costa, Doutorzinho, Expedito Lima, Tunu. das Dores do Açougue e tantos outros que o espaço, por ser exíguo, não dá para homenagear.
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