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sábado, 7 de agosto de 2010

SESSÃO NOSTALGIA - Regina Maria Rosemburgo, Miss Lagoinha Country Club 1958

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Daslan Melo Lima



          Maracanãzinho, Rio de Janeiro, 12 de junho de 1958. Adalgisa Colombo, Miss Botafogo, foi eleita Miss Distrito Federal sob protestos e vaias, pois a preferida do público era Ivone Richter, Miss Riachuelo. Adalgisa Colombo, que tinha sido Miss Cinelândia e era manequim da Casa Canadá, ousou driblar as orientações e valeu-se de truques para valorizar seu tipo, tais como: usou Óleo Johnson nas pernas em lugar de pancake para dar brilho e sensualidade às pernas; deu uma cavadinha no maiô para evidenciar a sexualidade e prendeu o cabelo, penteando-o em estilo coque, para valorizar o pescoço.
“...Mesmo assim o Miss Distrito Federal teria sido mais animado com a presença de Regina Rosemburgo, a Miss Lagoinha, que infelizmente desistiu na véspera por problemas particulares. Era a futura Regina Léclery (...) Com Regina, teria havido maiôs ainda mais cavados ou sabe-se lá que outros truques.”  (Feliz 1958, O ano que não terminou, Joaquim Ferreira dos Santos-Editora Record-Rio-1997.

REGINA ROSEMBURGO, DO LEME A PARIS

Regina Maria Rosemburgo. Capa da revista O Cruzeiro, 08/11/1958
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Regina Maria Rosemburgo. Capa da revista Fatos & Fotos, 31/03/1962
O poeta Vinicíus de Moraes (1913-1980) e Regina Maria Rosemburgo Léclery . Foto: Revista Fatos & Fotos, 23/07/1973.
           Aos quinze anos, ela era uma garota típica de Copacabana, alegre e descontraída, dividindo-se entre a liberdade da praia e os limites de um apartamento. Aos vinte, segundo suas próprias palavras, foi “jogada pelos colunistas no estranho mundo da alta sociedade”. Pouco depois, o casamento com o milionário Wallace Simonsen, a fortuna, a fama, a filha, tudo acontecendo muito rapidamente na vida de uma moça que já então se definia como “uma nova versão de Cinderela”.
          Dois anos de casamento, a separação, repetidas voltas ao mundo, amizade com os Kennedy, os Patiño, os Rothschild, os Rubirosa, através dos quais conheceu o que viria a ser o seu segundo marido, Gérard Léclery, rico industrial francês. A vida de Regina Léclery, ex-Simonsen, nascida  Rosemburgo, daria um livro.  
Revista Fatos & Fotos, 23/06/1973
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Gérard e Regina Léclery com o fruto do seu casamento: a filha Georgiana, de três anos de idade. Reprodução de imagem. Foto: Marisa Alves de Lima, revista Realidade, maio 1973.
Regina Léclery. Reprodução de foto feita por Marisa Alves de Lima, revista Realidade, maio 1973.
           Regina Rosemburgo nasceu no Leme. Trabalhou como recepcionista em banco. Foi Charm-Girl, Miss Lagoinha Country Club – “aquelas frescuras todas”, com as definiu depois. Casou-se em 1963 com o milionário Wallinho Simonsen e passou a freqüentar o Jet-Set. Em outubro de 1963, o casal passou com John Kennedy, em sua propriedade de Palm Beach, o último week-end da vida do presidente: na sexta-feira seguinte ele seria assassinado.
          Amiga de Salvador Dali, Roger Vadim, Jane Fonda, Marisa Berenson e Gunther Sachs, Regina teve o bom gosto de não esquecer as amizades antigas e obscuras. Bom gosto que se revelou próximo do bom senso: apesar de ser uma mulher que tem tudo para suscitar inveja, Regina é uma pessoa da qual ninguém fala mal. Separou-se em 1966, quando já conhecia Gérard Léclery, dono da maior indústria de calçados da França. Mas só se casou com ele em 1968, depois de uma perseguição de dois anos e meio, que admite ter sido árdua, mas que começou da maneira mais desinteressada possível: ao ser apresentada ao futuro marido, achou que ele não passava de um dos secretários de Gunther Sachs. Atualmente, Regina Maria Rosemburgo Léclery tem casas na França, na Suiça e na Barra da Tijuca, além de um apartamento em Paris. Tinha um grande iate, ancorado permanentemente em Taiti, mas ele pegou fogo. Seu marido acaba de inaugurar, no Rio, uma fábrica de sapatos, Clerina. Ela acaba de filmar com Nélson Pereira dos Santos, Who is Beta? (Quem é Beta?), um science fiction que, em francês , se chamará Pás de Violence Entre Nous (Nada de Violência Entre Nós). Os que viram o filme dizem que ele é bom. Mas Regina faz questão de afirmar que não se acha uma grande atriz.” 
Texto de Daniel Más (1943-1989), revista Realidade, maio 1973.
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Regina Léclery. Reproduções de imagens. Fotos: Marisa Alves de Lima, revista Realidade, maio 1973.
           "Eu era muito amiga do Gláuber Rocha. Ele escreveu Deus e O Diabo lá em casa. Nós trabalhamos juntos, eu que ia fazer o filme. Meus amigos, na época, eram Paulo César Sarraceni, Cacá Diegues, Nélson Pereira dos Santos, Luís Carlos Barreto, Joaquim Pedro. Gláuber estava se separando da primeira mulher, a Helena Ignês. A atual, a Tosinha, ele conheceu comigo. Nós fomos fazer um curso de cinema na Católica, em 1961. Aliás, a única vez que eu entrei numa faculdade na minha vida com Gláuber para fazer esse curso de cinema. E a Rosinha estava lá. Mas aí eu me casei com o Wallinho Simonsen e não fiz mais o filme. A gente era bem garoto. Eu esticava o cabelo de Gláuber, ele ia lá para casa e mamãe dizia para ele: “Entra direto para o banheiro e toma banho. Depois vem comer!” Várias cenas de Deus e o Diabo a gente imaginou juntos. Mas então eu me casei com o Wallinho Simonsen e não fiz mais o filme. O papel de Ioná Magalhães era o meu. "
Revista Realidade, maio 1973.
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Regina Léclery. Foto:Revista Fatos & Fotos, 23/07/1973
          Embora fosse frequentemente apontada como uma das mais elegantes mulheres do Brasil – Ibrahim Sued, inclusive, chegou a incluí-la em sua lista das dez mais – Regina considerava a elegância um negócio sem importância”, pouco se preocupando com a moda. Suas amigas, como Carmen Mayring Veiga e Teresa de Sousa Campos, é que muitas vezes a levavam, quase à força, para fazer compras nas butiques de Ipanema. No fundo, essa despreocupação, às vezes confundindo-se  com uma displicência desconcertante, traía a garota típica de Copacabana que, como uma Cinderela, transforma-se em princesa da noite para o dia.
          Ultimamente, em razão dos negócios do marido, era em Paris que vivia mais tempo essa princesa morena e de olhos verdes. Sua residência, uma luxuosa mansão – na sofisticada Avenue Foch, no andar imediatamente acima do de Gunther Sachs. Quadros de Gaugin, Renoir, Picasso, a presença do motorista uniformizado, de um cozinheiro, um garçom, um maître e até de um valet de chambre davam a tudo um certo ar de nobreza.
          Suas amizades, uma extensa lista de celebridades: Brigitte Bardot (com quem fez um safari na África), Roger Vadim, Odile Rubirosa, Jane Fonda, Roman Polanski, Florinda Bolkan, Salvador Dali, Grace Kelly. Algumas dessas personalidades – como Florinda, Odile e Polanski, que aqui estiveram para o carnaval deste ano – foram trazidas ao Brasil por Regina, convidados seus, que hospedava em sua magnífica casa na Barra. 
Texto e imagem: Revista Fatos & Fotos, 23/07/1973.
 
REGINA LÉCLERY, A MORTE EM PARIS

Regina Léclery. Capa da revista Fatos & Fotos, 23/07/1973.
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Regina Léclery. Capa da revista O Cruzeiro, 27/07/1973
          Boeing 707 da Varig, prefixo PP-VJZ, Voo 820 (Rio-Paris), Paris, 11 de julho de 1973. Eram 15 horas de Paris. Mais de 90 segundos, e todos estariam salvos. Entretanto, quando o comandante Gilberto Silva comunicou à torre do Aeroporto de Orly que havia fogo a bordo do avião, só pode voar mais 46 Km. Caiu num campo de plantação de cebolas, onde tentara descer, para salvar os passageiros, a tripulação e os habitantes de um bairro de Paris. Resultado: 122 mortos, entre eles, Filinto Muller, presidente do Senado e do Congresso: Regina Léclery, figura top da sociedade; o cantor Agostinho dos Santos, o iatista tricampeão mundial Joerg Bruder e os jornalistas Júlio Delamare e Antônio Carlos Scavone. Uma tragédia que chocou 100 milhões de brasileiros.
          Foi um dos maiores desastres ocorridos em Orly. O aeroporto foi interditado e imediato socorro prestado pelas autoridades, que conseguiram retirar 12 tripulantes ainda com vida dos destroços.
(Revista Fatos & Fotos, 23/07/1973)
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          Regina viera ao Rio somente para tratar de assuntos referentes à sua casa. Ia morar definitivamente em Paris e Genebra, onde estava pronta sua nova residência. Havia ainda outra, em Taiti. Viajara sozinha ao Brasil, deixando as filhas em Paris, com a governanta. Eram três as filhas: Roberta, nove anos, do casamento com Wallace Simonsen; Georgiana, de três, do casamento com Gérard Lecléry; e Márcia, de nove, adotiva, mas criada em pé de igualdade com as outras.
          Um traço inesquecível de Regina: se alguém mostrasse vontade de possuir qualquer objeto que lhe pertencesse, ela não hesitava um segundo, e a pessoa o recebia como presente.
Revista Fatos & Fotos, 23/07/1973.


REGINA VIVEU COMO SE PRESSENTISSE QUE SUA VIDA IA SER CURTA

Regina Maria Rosemburgo Léclery (1939-1973). Reprodução de imagem. Foto: Marisa Alves de Lima, revista Realidade, maio 1973.
            A vida, para Regina, talvez tenha sido uma sucessão de experiências fascinantes. Ou de sonhos realizados, como os de uma Cinderela. De curta duração, porém. Terminou num vôo entre duas cidades que ela amava: o Rio onde nasceu e a Paris que adotou como sua cidade.
Fatos & Fotos, 23/07/1973.
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Frases de Regina Léclery:
“Morrer aos 30 ou aos 100 anos, é a mesma coisa.”
“Minha vida não é um festival, mas eu não posso me impedir de ser alegre. Talvez seja uma questão de temperamento, mais do que de filosofia. Na verdade, filosofia eu não tenho nenhuma. Apenas, sou realista. ”
“Embora vocês não acreditem, entre o amor e o dinheiro, eu prefiro o amor.
Revista Manchete.
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          Um filme sobre a vida de Regina Rosemburgo Léclery pareceria, em sua maior parte, um moderno conto de fadas. Ela viveu como se pressentisse que sua vida ia ser curta. Tão bela quanto as mais belas mulheres do mundo, mas certamente com muito mais charme e simpatia do que qualquer outra, Regina Rosemburgo Léclery desapareceu esta semana, num desastre de avião, sem a sua presença, a vida dos que a conheceram ficará menos alegre. Isto porque a amizade de Regina era uma festa para todos, fossem eles íntimos ou estranhos, ricos ou humildes. Carioca legítima, do Leme, cresceu na praia de Copacabana e desenvolveu a sua arte de viver através do mundo, desde uma escola na Suíça até os veleiros em alto-mar, os salões de Paris e Nova Iorque, os meios artísticos e também no convívio com escritores e até políticos internacionais. No entanto, essa criatura privilegiada não nascera rica. Sua fortuna inicial fora exclusivamente os seus dons pessoais que, além da beleza física, eram a bondade e uma inteligência marcada pelo senso de humor. Mas, tendo-se tornado realmente rica pelo casamento com o jovem industrial francês Gérard Léclery, Regina costumava dizer: “Embora  vocês não acreditem, entre o amor e o dinheiro eu prefiro o amor.” Amor pela vida sem limites, amor pelos filhos, amor por aqueles que a amavam. Em 34 anos de existência, Regina tentou gozar saudavelmente todos os seus bons momentos, como se já soubesse que sua vida ia ser curta.
Revista Manchete.

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          Voltei a assistir recentemente o filme, Deus e O Diabo na Terra do Sol, dirigido por Gláuber Rocha (1939-1981), desta vez em DVD, e fiquei o tempo todo imaginando como seria a interpretação que Regina Léclery teria dado à personagem Rosa, vivida por Ioná Magalhães. Foi impossível não pensar o tempo todo em Regina Maria Rosemburgo, Miss Lagoinha Country Club, que, caso não tivesse desistido de ir ao Maracanãzinho na véspera daquele distante 12 de junho de 1958, poderia ter deixado Adalgisa Colombo, Miss Botafogo, para trás e vencido o Miss Distrito Federal. Adalgisa Colombo enfrentou outras vaias ao ganhar o Miss Brasil, pois  a preferida do público era Sônia Maria Campos, Miss Pernambuco,segunda colocada. Em Long Beach, Adalgisa Colombo foi vice-Miss Universo, perdendo para Luz Marina Zuluaga, Miss Colômbia.
          Revendo Deus e o Diabo na Terra do Sol, pensei o tempo todo em Regina Léclery, a inesquecível Regina Maria Rosemburgo, Miss Lagoinha Country Club, que, caso não tivesse desistido de ir ao Maracanãzinho na véspera daquele distante 12 de junho de 1958, poderia ter sido Miss Distrito Federal, Miss Brasil, quiçá Miss Universo 1958.
          
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4 comentários:

Anônimo disse...

Agora lembrei de Regininha (?)Lecléry!Era muito baldalada, mesmo! O texto diz tudo:uma personalidade aberta para a vida.como nós éramos.a década 70 era assim.Depois veio a realidade nos anos 80,90.2000...Abraços, Japão

Jorge Domingos disse...

Regina Rosemburgo teria sido Miss Universo em 1958. Era bonita demais. Tudo bem , Adalgiza foi pioneira na Linha Manequim que passaria a predominar nos Anos 70, mas Regina Maria Rosemburgo se encaixava nos padrões do regulamento da época.

Ana Lúcia Batista disse...

Era belíssima e as filhas devem ser tão lindas como ela.

Ana Lúcia Batista disse...

Vida breve e bonita