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sábado, 18 de dezembro de 2010

MEU PRIMEIRO NATAL E MEU PRIMEIRO ANO NOVO

MEU PRIMEIRO NATAL

Daslan Melo Lima

     Lembro-me da calça curta de cor azul e da camisa de listras miúdas. Uns trocados no bolso, o suficiente para um picolé e uma rodada em um brinquedo chamado "sombrinha", no parque de diversões. A rua central cheia de gente. Pessoas curiosas na frente da casa do Sr. José Delmiro e D. Otília, encantadas com a bela árvore de natal. Palanques com reisados, chegança, pastoril... Meus olhos de menino maravilhados com tanta gente... tanto colorido... tanta animação... Guardando as devidas proporções, era como se agora, na maturidade, eu estivesse saído da cidade onde nasci para mergulhar nas luzes de New York ou Paris.  Mas São José da Laje era para mim muito mais que Paris e New York. Era o fantástico universo de um menino sonhador que acreditava na existência das personagens dos contos de fadas. 

     Lembro-me dos sons, do cheiro e das cores daquele mágico dezembro onde meus pais permitiram que eu saísse sozinho para conhecer a festa de Natal, pois minha casa era pertinho daquele mundo mágico. Eu só queira distância de uma figura chamada Papai Noel. Eu não conseguia entender o porquê de Papai Noel não gostar de mim, pois alguns dos meus colegas tinham recebido presentes dele e eu não.

     Depois veio o depois e esta vontade imensa de desejar que o Natal  seja um estado de espírito de todos os dias, permanente, sempre...  Depois veio o depois e esta vontade imensa de querer voltar  a viver, por alguns momentos, aquele meu primeiro Natal, mesmo que  fosse para sair de casa e ter de me contentar apenas com um picolé e uma volta na "sombrinha", mesmo que fosse  para sentir a frustração de nunca ter recebido um presente de Papai Noel.

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MEU PRIMEIRO ANO NOVO



Daslan Melo Lima

    Lembro-me dos sons, do cheiro e das cores daquele último dia de dezembro. Animação total.  A roupa era a mesma que eu tinha vestido no Natal: calça curta de cor azul e camisa de listras miúdas.  A cabeça quase raspada, com poucos cabelos no alto, um corte de cabelo feito na barbearia do Sr. Duda Peixinho. O penteado era chamado de “jaquedeme”, forma incorreta de pronunciar Jack Dempsey (1895-1983), boxeador americano.

     Os trocados no bolso jamais dariam para comprar um sorvete e experimentar a sensação de subir numa roda gigante. Tinha que me contentar com um picolé e uma rodada em um brinquedo chamado "sombrinha". A rua central da minha alagoana São José da Laje igual ao Natal: multidão, reisado, chegança, pastoril... Meus olhos de menino sonhador maravilhados com tudo aquilo. 

    Lembro-me dos sons, do cheiro e das cores daquele primeiro dia de janeiro. Melancolia total. Como seria o novo ano?  Posso fechar os olhos e ouvir minha mãe cantando uma música que era um lenitivo para aquele tempo de pobreza e de muitas dificuldades em nossas vidas. Uns versos da canção diziam: “Quem trabalha persevera, nunca é tarde, sempre espera. Mocidade é esperança, mocidade é primavera, quem trabalha sempre alcança.”

    Depois veio o depois e a vontade de querer que a expectativa de um ano novo seja um estado de espírito de todos os dias, permanente, sempre.  Depois veio o depois e esta vontade de querer voltar  a viver, por alguns momentos, aquele meu primeiro dia de ano novo, apenas para ouvir minha mãe cantar “Quem trabalha persevera, nunca é tarde, sempre espera. Mocidade é esperança, mocidade é primavera, quem trabalha sempre alcança.”

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Um comentário:

DASLAN MELO LIMA disse...

Comentário de Ladorvane Cabral, União dos Palmares-AL, via e-mail
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Você com sua crônica "Meu Primeiro Natal", fez-me lembrar nosso querido alagoano Aldemar Paiva, há muito tempo radicado em Pernambuco. Aldemar, grande orgulho dos dois Estados, muito amigo de outro fenômeno do rádio, o pernambucano Edécio Lópes, que durante muitos anos divulgou e deixou Alagoas cheia de orgulho em ter sido o Estado escolhido como sua terra amada. Edécio, em memória, sempre gostava de ler "Eu não gosto de você Papai Noel", crônica de Aldemar que leio ao longo de tantos anos e sempre me emociono até as lágrimas.


Monólogo do Natal – Aldemar Paiva


Eu não gosto de você, Papai Noel!
Também não gosto desse seu papel de vender ilusões à burguesia.
Se os garotos humildes da cidade soubessem do seu ódio à humildade, jogavam pedra nessa fantasia.
Você talvez nem se recorde mais.
Cresci depressa, me tornei rapaz, sem esquecer, no entanto, o que passou.
Fiz-lhe um bilhete, pedindo um presente e a noite inteira eu esperei, contente.
Chegou o sol e você não chegou.
Dias depois, meu pobre pai, cansado, trouxe um trenzinho feio, empoeirado, que me entregou com certa excitação.
Fechou os olhos e balbuciou: “É pra você, Papai Noel mandou”.
E se esquivou, contendo a emoção.
Alegre e inocente nesse caso, eu pensei que meu bilhete com atraso, chegara às suas mãos, no fim do mês.
Limpei o trem, dei corda, ele partiu dando muitas voltas.
Meu pai me sorriu e me abraçou pela última vez.
O resto eu só pude compreender quando cresci e comecei a ver todas as coisas com realidade.
Meu pai chegou um dia e disse, a seco: “Onde é que está aquele seu brinquedo?
Eu vou trocar por outro, na cidade”.
Dei-lhe o trenzinho, quase a soluçar e, como quem não quer abandonar um mimo que nos deu, quem nos quer bem, disse medroso: “O senhor vai trocar ele?
Eu não quero outro brinquedo, eu quero aquele.
E por favor, não vá levar meu trem”.
Meu pai calou-se e pelo rosto veio descendo um pranto que, eu ainda creio,
Tanto e tão santo, só Jesus chorou!
Bateu a porta com muito ruído, mamãe gritou; ele não deu ouvidos. Saiu correndo e nunca mais voltou.
Você, Papai Noel, me transformou num homem que a infância arruinou. Sem pai e sem brinquedos.
Afinal, dos seus presentes, não há um que sobre para a riqueza do menino pobre que sonha o ano inteiro com o Natal.
Meu pobre pai doente, mal vestido, para não me ver assim desiludido, comprou por qualquer preço uma ilusão e, num gesto nobre, humano e decisivo, foi longe pra trazer-me um lenitivo, roubando o trem do filho do patrão.
Pensei que viajara, no entanto, depois de grande, minha mãe, em prantos, contou-me que fôra preso.
E como réu, ninguém a absolvê-lo se atrevia.
Foi definhando, até que Deus, um dia, entrou na cela e o libertou pro céu.

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