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domingo, 20 de novembro de 2011

SESSÃO NOSTALGIA - DIRCE MACHADO, MISS RENASCENÇA 1960

Daslan Melo Lima
PRÓLOGO

          “Uma negra foi eleita Miss Universo 2011”. A imprensa do mundo inteiro divulgou essa notícia em setembro último, referindo-se à vitória da bela Leila Lopes, Miss Angola.  Caso a vencedora tivesse sido uma candidata de cor branca, ninguém diria: “Uma branca foi eleita Miss Universo 2011.”
         Domingo, 20/11/2011, Dia de Zumbi, Dia Nacional da Consciência Negra e Dia Nacional de Combate ao Racismo. O assunto mexe com minh’alma de forma extraordinária, pois sou um dos milhares de brasileiros que traz no tom da pele histórias de luta e sofrimento de uma raça que tanto contribuiu para a construção da nação brasileira. Meu pai era mulato, filho de uma negra que foi abandonada pela família quando um branco a engravidou. Minha mãe era branca, filha de uma morena com um louro de olhos azuis. Cresci às margens do Rio Canhoto, em São José da Laje, Alagoas, roteiro dos negros escravos que na época da escravidão buscavam refúgio na Serra da Barriga, na vizinha cidade de União dos Palmares, berço de Zumbi. 

  Dirce Machado, Miss Renascença 1960

          Nesta Sessão Nostalgia rendo um tributo a Dirce Machado, Miss Renascença, quarta colocada no Miss Guanabara 1960, a primeira brasileira negra a alcançar extraordinário sucesso em um concurso oficial de beleza onde a maioria das concorrentes era de cor branca.

RENASCENÇA, A FUNDAÇÃO DO CLUBE,  OS FUNDADORES E O PERFIL DE SUAS MISSES 

          O texto abaixo foi transcrito do livro A ALMA DA FESTA, de Sonia Maria Giacomini – Editora UFMG-Universidade Federal de Minas Gerais- 2006. A autora é doutora em Sociologia, mestre em Antropologia Social e professora do departamento de Sociologia e Política da PUC-Rio. A Alma da Festa, abordando família, etnicidade e projetos no Renascença Clube, originalmente foi uma tese de doutorado em Sociologia, ganhadora em 2005 do Prêmio IUPER (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro, unidade de Pós Graduação, Mestrado e Doutorado em Sociologia e Ciência Política da UCAM-Universidade Candido Mendes.

O Renascença Clube foi fundado em 17 de fevereiro de 1951 na cidade do Rio de Janeiro, então Distrito Federal, como “clube social, recreativo, cultural e esportivo”. Entre os objetivos da associação, o Artigo 2º do Estatuto alinha a intenção de “promover e estimular a união e o espírito de solidariedade entre os sócios e pessoas de suas famílias sem qualquer prevenção de preconceito”.
À época de sua criação, o Renascença Clube contava com um núcleo de 29 sócios fundadores, todos negros segundo os relatos e registro. É marcante a presença feminina neste momento de criação e estruturação do Clube, já que elas eram 18 no grupo fundador – contra 11 homens – e duas na primeira Diretoria – contra quatro homens. A mulher do grupo fundador do Renascença é idealmente a mulher de família, isto é, honrada, culta, bem-vestida, elegante e, sobretudo, refinada. Essa mulher negra ideal, digna, é o produto e, quando casada, simultaneamente o centro de uma família sólida, bem-estruturada, que propicia o acesso ao estudo e a uma educação requintada. Esse ideal feminino permanece encarnado à perfeição na figura da miss ou rainha da primavera de outros concursos de beleza similares, promovidos pelo Clube nessa época. A miss é sempre a filha, sobrinha, afilhada de algum sócio que, durante alguma das muitas ocasiões de convívio e sociabilidade, é, por sua simpatia, beleza, elegância e boa educação, convidada, geralmente pela Diretoria Social, para participar do certame. A miss do concurso deve ser “bela”, à imagem dos certames de beleza tão em voga, no período, na cidade e no Brasil, mas, sobretudo, de uma beleza que não deixe margem a evocações que possam ser contrárias à honra. A miss é de uma beleza digna e honrada: com “brio”, “requinte”, “distinção”...
Os primeiros concursos de rainha – ou de miss – promovidos no Renascença Clube, como a grande maioria das atividades da primeira década, eram eventos internos, organizados pelos e para os associados. Ao final dos anos 50, vieram dar um novo impulso à vida social, somando-se aos saraus, desfiles de moda, bailes, almoços e coquetéis, que reuniam nos finais de semana quase sempre as mesmas pessoas e família. Progressivamente os concursos começam a se impor sobre o conjunto da vida social, e vai se evanescendo a aura doméstica, ou familiar, se se preferir, que haviam herdado dos anos 50. A regularização e prestígio do Concurso Miss Renascença sinalizarão a entrada em uma nova era.
As transformações dos concursos em eventos mais amplos e com maior visibilidade são invariavelmente associadas ao nome de uma sócia, Dinah Duarte, proprietária de um conhecido salão de beleza mo Méier, subúrbio carioca não muito distante do centro da cidade. Dinah é apontada em todas as entrevistas, se não como a criadora do concurso, ao menos como a grande responsável pela incorporação de inovações que tornaram um evento, inicialmente tímido e restrito, em algo considerado realmente importante, impactante e significativo. Com Dinah Duarte, afirmam os entrevistados e as inúmeras matérias colhidas em revistas de grande circulação e em diversas edições do Jornal do Renascença, os concursos realizados no Clube iniciam uma nova fase voltada para a preparação e disputa nos certames estaduais, competindo abertamente com as candidatas de outros clubes.

DIRCE MACHADO, MISS RENASCENÇA 1960

         Vamos entrar no Túnel do Tempo e rever a trajetória de Dirce Machado, a primeira deusa do ébano da história do Miss Guanabara-Miss Brasil.

As 24 candidatas ao título de Miss nº 1 da Guanabara começaram a operação-maquilagem às 17 horas, para o desfile que só teve início às 21.30. O Maracanãzinho, na noite do dia 4, estava quase repleto. O público dividia-se em torcidas contra a mensagem azul das passarelas, onde as moças bonitas deram os 270 passinhos aprendidos na Socila. 52 lâmpadas de mil “watts” iluminaram o canteiro de belas. E assim todo o Maracanãzinho pode ver, em detalhes, as concorrentes, que desfilaram de vestido de baile e, depois, de maiô. Sucesso, sem dúvida, tanto para o público como para os entendidos, foi Dirce Machado, do Renascença. Depois que o “Orfeu do Carnaval” deu curso internacional à mulata, como produto genuinamente brasileiro, as semi-“coloreds” passaram ao domínio da passarela. E eis que Dirce abalou o Maracanãzinho, vindo, ao final, a obter a quarta colocação. E notem que grande parte dos espectadores votou nela para melhor colocação. (O Cruzeiro, 18/06/1960)

Dirce Machado foi a sensação da noite. Mulata elegante e bonita, ela empolgou o público, que a aplaudiu todo o tempo em que estve na passarela. Dirce é recpcionista num cabeleireiro da Tijuca, mora em Catrumbi e foi apresentada pelo Renascença Clube, no Méier. É carioca, mede 1,65m, pesa 508 quilos e veste manequim 44. (Manchete, 18/06/1960)

Dirce Machado entre as 8 finalistas do Miss Guanabara 1960. Da esquerda para a direita: Elvira Bela Grubel (Miss Jacarepaguá, oitava colocada), Martha Vieira Angermann (Miss Fluminense, sexto lugar); Dirce Machado (Miss Renascença, quarta colocada); Maria Helena Thomé (Miss Uruguai Clube, segundo lugar); Gina Macpherson (Miss Botafogo, primeira colocada); Shyrley da Silva Carneiro (Miss Grajaú, terceiro lugar); Elenita Teixeira Lôbo (Miss Marã, quinta colocada); e Sônia Brasil Pinto (Miss Vasco da Gama, sétimo lugar). ***** (O Cruzeiro, 18/06/1960)
EPÍLOGO


         Há um ano, ouvi uma figura influente dizer que não adiantava mandar uma negra para disputar um título de Miss, pois o preconceito existia. Imagine isso em 1960 ! Aplausos, mil aplausos para Dirce Machado, Miss Renascença 1960, que tanto contribuiu para elevar a auto-estima de milhares de jovens negras, num tempo em que racismo não dava cadeia.
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4 comentários:

DASLAN MELO LIMA disse...

E-mail enviado por Muciolo Ferreira
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Sessão Nostalgia politicamente correta, editada no Mês da Conciência Negra. Os afro-brasileiros devem lutar sempre para terem seus direitos respeitados e reconhecidos, sejam numa passarela, nas casas legislativas, no judiciário ou num simples teste de seleção de emprego, conforme prevê a Constitutição, pois todos somos iguais perante a lei.

E embora o Censo de 2010 tenha registrado certos avanços, quando registrou que 51% dos entrevistados se declararam negros ou afrodescendentes, ainda é muito pouco o que as políticas públicas têm feito para resgatar a grande dívida da Nação perante os que descendem dos escravos.

Sei que não estarei aqui para presenciar o dia em que a chaga do racismo e do preconceito pela simples cor da pele de uma pessoa seja extinta. Mas já me sinto recompensado pelo pioneirismo do Zumbi dos Palmares e do abolicionista pernambucano Joaquim Nabuco, o maior inimigo da escravidão. E feliz em ter visto pelas revistas e jornais Dirce Machado, Aizita Nascimento, Vera Lúcia Couto dos Santos, Elizabeth Santos, Sônia Silva, as pioneiras que souberam envergar com galardia e personalidade a faixa de Miss Renascença e deram um "chega prá lá" no preconceito, assim como a baiana Vera Lúcia Guerreiro, em 1969, e agora a angolana Leila Lopes, alcançar o topo da beleza unversal

Em meu Estado, tive o privilégio de coordenar o concurso de 1988 que elegeu a primeria Miss Pernambuco afrodescendente, a bela mulata Ana Maria Guimarães.

Uma ótima semana aos leitores do Passarela Cultural

muciolo ferreira - do Recife

DASLAN MELO LIMA disse...

E-mail enviado por Salete da Costa M. Assunção
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Esta Sessão Nostalgia foi motivo de reflexão na reunião do nosso grêmio poético e artístico, composto em sua maioria por jovens afrodescendentes da periferia de Santos, São Paulo.
Muito obrigado!!!!!!!!!!!
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Anônimo disse...

Parabéns pela Sessão Nostalgia ! Existem negras belíssimas no nosso país. Que a história de Dirce Machado possa incentivá-las a participar das seletivas estaduais para o Miss Brasil.
Roberto S. Araújo
São Paulo/SP

Anônimo disse...

Ola... Ja vi fotoa da minha avó como miss guanabara, mas essas fotos foram perdidas.. Como faço pra encontrar algo?
Obrigada