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domingo, 24 de março de 2019

Porque eu canto


"Diz-me, ó poeta", poema de Rainer Maria Rilke, tem tudo a ver comigo neste março de São José e das águas fechando o verão. 
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Diz-me, poeta, o que fazes?
Eu canto.

Porém a morte e todo o desencanto,
como os suportas e aceitas? 
Eu canto.

O inominado e o anônimo, no entanto,
como os consegues nomear? 
Eu canto.

Que direito te faz, em qualquer canto,
máscara ou veste, ser veraz? 
Eu canto.

Como o silêncio dos astros e o espanto
dos raios te conhecem?
Porque eu canto.
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Porque eu canto, desejo a você, leitor, leitora, muita fé em Deus e dias iluminados,  poeticamente e espiritualmente iluminados.
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Daslan Melo Lima - Timbaúba, PE, 18/03/2019
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VOCÊ SABE QUE DIA É HOJE?




Vejo chegar este dia com minh'alma transbordante de nostalgia. Longe do lugar onde nascemos, quando chegava o dia 19 de março, Ana, minha Mãe, se aproximava de mim e indagava: “Você sabe que dia é hoje, meu filho? É dia de São José, padroeiro da nossa terra”
          Seus olhos ficavam inundados de lágrimas e ela cantarolava o estribilho do hino do padroeiro da nossa alagoana São José da Laje: “Sê doçura na paz, no abandono, / o amigo fiel de verdade. / Oh! José da Igreja patrono, / e patrono da nossa cidade.” 
          Durante o longo período em que Mamãe conviveu com sequelas de um AVC, todos os anos, no dia 19 de março, eu me dirigia a ela com uma imagem do santo: “A senhora sabe que dia é hoje, minha Mãe?” Eu chorava diante de sua indiferença e cantava: “Sê doçura na paz, no abandono, / o amigo fiel de verdade. / Oh! José da Igreja patrono, / e patrono da nossa cidade.” 
         Hoje, diante de dois quadros na parede, resta-me administrar as emoções que ficaram de todos os meses de março.
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Daslan Melo Lima, em Timbaúba, Pernambuco, no Dia de São José, 19/03/2019.

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SÃO JOSÉ DA LAJE, ALAGOAS,  14 DE MARÇO DE 1969, UMA MADRUGADA PARA ESQUECER


Na madrugada de 14 de março de 1969, o rio Canhoto cismou que poderia ser mar. São José da Laje, a cidadezinha alagoana onde nasci, dormia tranquila quando uma tromba d’água transformou o rio num oceano furioso. Gritos, desespero, pânico, lágrimas, destruição. Tal qual um tsunami, casas, ruas e vidas foram arrastadas pelas águas. .A tragédia, um dos maiores desastres naturais da história, foi notícia no mundo inteiro. . 
          Nesta madrugada de 14 de março de 2019, cumpro um ritual silencioso diante de duas testemunhas mudas daquele pesadelo: um quadro e um banco que escaparam da tragédia. 
          O quadro, um vitral onde se lê “Jesus Cristo reina n’esta casa”, pertenceu a minha tia Lizete Macedo de Melo, que residia na rua do Zumbi, imediações da localidade Passagem de Maceió. O banco fez parte do mobiliário da Loja São José, casa comercial de José Francisco da Silva (Galego) e da sua esposa Soledade Lima (tia Dade).
          Diante destas relíquias, não rezo pelas almas dos que se foram, pois na dimensão onde se encontram suas dores já se diluíram em louvores. Agradeço a DEUS pelo consolo dado aos que escaparam e pela força que até aqui Ele nos concedeu para administrar os traumas que ficaram. 

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Daslan Melo Lima, em Timbaúba-PE, 14/03/2019, administrando velhas emoções inacabadas, cinquenta anos depois.

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DA PRÓXIMA VEZ QUE CHOVER



"Olho para a chuva que não quer cessar. / Nela vejo o meu amor. / Esta chuva ingrata que não vai parar, / pra aliviar a minha dor." Assim começa uma das mais belas canções românticas de todos os tempos, gravada pela primeira vez em português por Demétrius, um dos ídolos da Jovem Guarda, falecido no inicio desta noite, em São Paulo. 
          O menino sonhador que um dia fui (e que continuou sendo) teceu mil fantasias ao som de "O Ritmo da Chuva". "Eu sei que o meu amor pra muito longe foi, / numa chuva que caiu. / Oh gente por favor pra ela vai contar / que o meu coração se partiu."
          A imagem de Demétrius, num velho álbum em preto e branco, parece dizer que o tempo não passou. "Chuva traga o meu benzinho, / pois preciso de carinho. / Diga a ela pra não me deixar triste assim."

          Da próxima vez que chover, vou precisar redobrar a administração das minhas emoções inacabadas. O mundo encolhe toda vez que um referencial importante das nossas vidas se parte, se vai, se torna invisível. "O ritmo dos pingos ao cair no chão, / só me deixa relembrar. / Tomara que eu não fique a esperar em vão, / por ela que me faz chorar. / Oh chuva traga o meu amor. / Chove chuva, traga o meu amor. / Ouça-me, chuva, traga por favor."
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Daslan Melo Lima, em Timbaúba, Pernambuco, 11/03/2019, enquanto ouço "O Ritmo da Chuva", https://www.youtube.com/watch…

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LEÃO DO NORTE




O feriado da Data Magna de Pernambuco coincidiu com a Quarta-feira de Cinzas. A Data Magna remete à Revolução Pernambucana de 1817, cujo objetivo era ficar independente da corte portuguesa. 

          Na cidade de Carpina, a 50 quilômetros de Timbaúba, diante do monumento que rende tributo ao "Leão do Norte", como é conhecido o meu estado adotivo, sinto-me tão pernambucano como alagoano, pois um dos castigos impostos a Pernambuco foi perder as terras de Alagoas, estado onde nasci.
        Parece que ouço ao longe aquela música de Lenine. Tenho de me controlar para não sair dançando e cantando pelas ruas de Carpina, que um dia se chamou Floresta dos Leões: "... eu sou mameluco, sou de Casa Forte, / sou de Pernambuco, eu sou o Leão do Norte..." 
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Daslan Melo Lima - Carpina, PE, 18/03/2019.

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