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sábado, 3 de maio de 2014

SESSÃO NOSTALGIA - Josefa Soares, a empregada doméstica de Itabaiana, PB, que virou nobre italiana. Princesa Josepha Massimo

Daslan Melo Lima

       Ela não foi Miss, mas brilhou nas passarelas nacionais e internacionais como modelo. Seu nome, Josepha (1945-2009), nome artístico de Josefa Domingos Soares, que passou a se chamar Josepha Massimo quando casou com o nobre italiano Vittorio Emanuele Massimo (1911-1983), Principe di Roccasecca dei Volsci, tornando-se Princesa di Roccasecca dei Volsci. Josepha Massimo morreu na Itália em 31/07/2009. 
         Na primeira Sessão Nostalgia deste maio das noivas e das mães, vamos recordar a trajetória de uma garota humilde predestinada ao sucesso, através de duas revistas antigas, ambas preciosidades do meu acervo. 


JOSEPHA, A CINDERELA DE BALMAIN

     
      
      A revista O Cruzeiro, de 10 de maio de 1972, circulou nas bancas de todo o Brasil trazendo na capa uma jovem de 27 anos de idade. A chamada de capa, no canto inferior direito dizia “De Empregadinha a Modelo”. Abaixo, reprodução da reportagem de quatro páginas, com texto e fotos de Marisa Alves de Lima.

      Os ingredientes são do conto de Cinderela; mas não é fantasia a história da ex-Josefa, cozinheira há seis anos da família Bello, que se transformou em Josepha, fotografada para revistas do exterior e um dos modelos mais sofisticados do Brasil.  Numa   seleção rigorosíssima, ela foi escolhida pelo costureiro Pierre Balmain para os desfiles que fez no Rio. A seu lado, uma Camille (modelo de Givenchy) e Lúcia Peterle (Miss Mundo).
       Há 27 aos, nascia numa humilde casa de lavradores, em Itabaiana, interior da Paraíba. Uma vida dura com os irmãos, desde pequenos levando lenha às costas e com a mão firme na enxada aguentando o sol de rachar. Os dedos longos, de unhas tratadas, belíssimos, que hoje ajeitam com graça um detalhe no vestido, são quase que uma prova de mutação. Custa crer que esta mulher atraente, linda, de traços angulosos no rosto de maças salientes – inveja de muitos manequins - possa ter passado, até seis meses atrás, por uma vida dividida entre enxadas e cozinha.
     


     
      Em Itabaiana, ela sonhava com a cidade grande, a possibilidade de uma vida melhor. Quando mocinha, ensinava catecismo às crianças da roça. No fim da tarde, ia para seu quarto e a imagem refletida no espelho do armário tosco dava-lhe a certeza de que não iria passar o resto dos seus dias ali. A oportunidade surgiu quando a família Bello a trouxe como cozinheira para o Rio: ainda não tinha completado 21 anos. Com a ideia de vir para a cidade grande, fez tudo o que estava a seu alcance: aumentou a idade, convenceu os pais, em segundos preparou um embrulho com as poucas roupas que tinha.

      No Rio estava deslumbrada. Seu jeito delicado, a atenção e o carinho que dedicava aos patrões, a comida que preparava com capricho fizeram dela mais do que uma empregada: era considerada quase uma pessoa da família.   Josepha na rua, cabelos longos cor de cobre, pele morena como a canela, óculos escuros enormes, calças compridas. Quando os caixeiros do armazém a viam carregando as sacolas de compras da patroa, não entendiam mais nada: Josepha, um sucesso.  Na volta para casa, o universo, o forno e o fogão que enfrentava sem medo. De brincadeira, muitos maridos sorriam para ela, olhavam para suas mulheres e diziam: “Foi uma cozinheira assim que eu pedi a Deus.” Josepha atenciosa, simples, sem afetação: estava contente onde era bem tratada, e sonhava, sem ousar pretender, com a ideia de poder usar um dia os vestidos elegantes que via nas revistas e que seu ordenado modesto não permitia comprar.
     
    
      Foi na porta do edifício, ao lado do banco onde fora descontar um cheque para o patrão que “a sorte me caiu do céu”, como diz, sorridente. Estava procurando a sala onde teria que fazer o pagamento “quando desce do elevador uma loura elegantíssima, fica parada me olhando e depois me pergunta se eu era manequim da Socila. Ela se espantou quando eu disse que era cozinheira, me chamava Josefa, havia nascido na Paraíba e nunca tinha ouvido falar em Socila”.   A loura era Lígia Carrato que, com Maria Augusta, criou o instituto de beleza e escola de manequim que tem lançado nas passarelas e concursos gente famosa como Ilka Soares, Camille, Florinda Bolkan, Marisa Urban, Márcia de Windsor, Lucia Peterle, Rogéria Martins, Vera Barreto Leite, Martha Vasconcellos e Ieda Maria Vargas.
     - Esta Josepha francamente me impressionou. Senti de imediato que poderia fazer daquela mulher um modelo excepcional. Não é a primeira vez que o olho clínico de Lígia funciona. Mulher dinâmica, sensível, criativa, acostumada a lidar com gente que sonha com beleza e elegância – da mesma forma que seu marido, o cirurgião plástico Rogério Carrato, responsável, tanto quanto ela, por transformações incríveis - ofereceu a Josepha um curso completo na Socila. Seis meses de aula: postura, andamento, etiqueta, maquilagem, vestuário. A paciência da família, que passou a ter uma cozinheira-modelo com falta de tempo para ser um modelo de cozinheira, como dantes.

       
        - Parecia um sonho. Eu custava a acreditar que pudesse ser verdade. Na Socila providenciavam para que eu começasse a ser conhecida. Minha história interessava a todo mundo. Fui convidada para o programa do Sílvio Santos e o do Chacrinha, ganhando cachê, passagem, hotel, tudo. Fui logo contratada como recepcionista no carnaval e tive proposta para ser modelo nas coleções da etiqueta Piccola, onde trabalho até hoje.
      Pelas ruas, Josepha começa a ser reconhecida como a cinderela apresentada pelos jornais e televisão. Seu tipo esguio realçado pela elegância adquirida, o rosto de uma beleza estranha, inconfundível, chamam a atenção por onde quer que ande.  Gentil e atenciosa, pontual, paciente. Profissional que olha a lente da máquina fotográfica com uma segurança inacreditável.
           
      
       Enilsa, do salão de Jambert, que a maquiou para a reportagem, acha que ela tem um rosto perfeito: nada a corrigir. Enquanto criava os penteados para Josepha, Silvinho chamava  a atenção para seu rosto “angulosíssimo”,  e dizia: -  Josepha pode vir a ser uma das maiores divas como manequim. Tudo depende da sorte, que, parece, não lhe falta. É preciso notar que ela é um dos poucos modelos de rosto tipicamente brasileiro. Estou entusiasmado com ela e não hesitei em indicá-la ao Pierre Balmain. Foi o sucesso que se viu. Ele até a convidou para desfilar em Paris. Uma glória total.



    Josepha acha que tudo está bom demais. Seus olhos oblíquos não deixam passar despercebido qualquer detalhe que se refira à sua nova profissão. Sabe que enfrentará sacrifícios, esperas, horários de comer e dormir irregulares. Mas as compensações não serão poucas e ela sorri de novo com “a sorte que me caiu do céu” e tomou a forma de “uma fada loura” que transformou inteiramente sua vida. Da Josefa cozinheira resta apenas a humildade de quem sempre quer aprender mais.

        
PRINCESA JOSEPHA, A CINDERELA BRASILEIRA

     A revista Manchete, de 31 de janeiro de 1987, circulou com uma matéria de duas páginas falando da vida que Josepha levava na Itália. A reportagem de Arnaldo Bloch, ilustrada por fotos de  João Silva,  informava que a famosa paraibana estava víuva do Príncipe Vittorio Massimo e tinha vindo passar  o Natal no Brasil  depois de mais de uma década vivendo na Europa. “Cortejada nos mais sofisticados salões europeus, ainda conserva no português arranhado resquícios do antigo sotaque nordestino, após 13 anos fora do Brasil, e ostenta um respeitável e fluente italiano.”
     
    
  (...) Em 1976, já familiarizada com o idiona, e circulando na alta sociedade italiana, a top model Josepha Domingos conheceu o Príncipe Vittorio Massimo, pertencente a uma das mais antigas famílias da nobreza italiana. Menos  de um ano antes, Josepha era recebida no Palácio Grimaldi, em Monte Carlo, pelo Príncipe Rainier e a Princesa Grace, travando seu primeiro contato importante com a nobreza. E foi na Páscoa de 76, durante um jantar que o Príncipe Vittorio oferecia sem seu palácio, o Castelo Scoranno, que Josepha foi galantemente cortejada, “Vittorio, na época com 65 anos, havia desfeito recentemente seu segundo casamento, com a atriz inglesa Dawn Adams, com quem tem um filho, o Príncipe Stefano, hoje com 22 anos. Mas, apesar disto, Josepha recebeu o título de Única Princesa Massimo, já que Vittorio tratou de providenciar rapidamente a anulação dos casamentos anteriores. Assim, oito dias após o primeiro convite,  Josepha recebia, atônita, das mãos nobres de Vittorio, a aliança de noivado que selaria a união do novo casal. Nove meses depois, desta vez na véspera do Natal, casavam-se no mesmo castelo em que o romance começou.
    
      
      O súbito casamento obrigou Josepha a diminuir o ritmo de sua carreira profissional, mas ela não parou de desfila.  No final de 78, a carga de responsabilidade, que até então era apenas social e profissional, aumentou com o nascimento de Mizina, a nova princesinha da dinastia Massimo. “O amor que eu já sentia por Vittorio, e a certeza de que ele era realmente o homem de minha vida, aumentou com a chegada de Mizina”  recorda Josepha, emocionada. Após cinco anos de felicidade e riqueza, a harmonia seria interrompida. Aos 72 anos, o Príncipe Vittorio Massimo falecia em Roma, deixando suas duas princesas sozinhas no Castelo Scoranno.
    Josepha resolveu mudar de vida. Desorientada na imensidão do palácio, em meio a uma criadagem de 50 empregados, ela vendeu o Scoranno e comprou um apartamento no centro de Roma. “Com a morte de Vittorio, desabou a primeira coluna, e a segunda não pôde suportar tanto peso. Agora, levo minha filhinha à escola, e moro num apartamento, onde me sinto menos solitária e mais próxima de tudo” – conta a princesa. Apartamento notável, aliás. São 600 metros quadrados distribuídos por um luxuoso duplex. Alé, disso, Josepha mantem no centro de Roma um outro castelo, o Palácio Massimo, onde conserva-se a capela em que Paolo Massimo, patriarca pioneiro da família, recebeu, há mais de 2 mil anos, dois milagres consecutivos, segundo contam os escritos. Os imóveis Massimo não param por aí: entre suas posses, a família tem, também no centro de Roma, um museu etrusco, construído pelo próprio Vittorio, estudioso apaixonado da civilização que precedeu a velha Roma. A Princesa Josepha herdou do marido também esse hobby, que hoje cultiva nas horas vagas. Além disso, Josepha é escultora, e dedica-se à restauração de molduras antigas, oferecendo seus cuidadosos serviços a um número bem reduzido de amigos, donos de obras valiosas. Ela também é atraída pela leitura de antigos manuscritos históricos, e estuda a trajetória da arte através dos séculos. Quanto á música, professa um verdadeiro culto por Beethoven. “Até as princesas têm seus momentos de fossa – diz ela – e nada melhor para curar uma fossa do que a música de Beethoven! – garante Josepha.

      
      
       A reportagem afirmava  que duas irmãs de Josepha, Maria José e Ilona, foram preparadas por Maria Augusta Nielsen (1923-2009), a Maria Augusta da Socila,  desfilaram nas passarelas do velho mundo e  apareceram nas páginas de revistas como Vogue, Bazaar e Show Fashion Internazionalle. Ilona casou com o industrial italiano Tullio Montanari e Maria José vivia entre a Europa e um sitio em São Gonçalo. E mais: Adriana Soares, filha de Maria José, estava sendo preparada para a carreira de modelo internacional. A propósito da volta de Josepha às passarelas, "em março vai participar da mostra internacional Moditinne, que acontece todos os anos em Milão, com trabalhos de mais de dois mil expositores. Josepha, novamente acompanhada de suas irmãs e mais 10 manequins, vestirá os modelos da última coleção do estilista Mosé.


MIZINA MASSIMO, A HERDEIRA DE JOSEPHA


          A italiana Mizina Massimo, filha única de Josepha e Vittorio Massimo, nascida em 1978, mora em Roma e conhece o Brasil. 

Mizina Massimo - Fotos: copyright Pizzi/dagospia


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     Itabaiana tem menos de 25 mil habitantes e está a 70 Km de distância de João Pessoa, capital paraibana. Menos de 40 quilometros separam Timbaúba, PE, onde moro, da terra natal de Josepha Massimo, onde tenho amigos. Ninguém sabe informar em que sítio nasceu a princesa. 
    Na praça principal há um coreto lindo, considerado a mais importante obra histórica, artística e cultural da cidade, cem anos a completar no próximo dia 24. O coreto foi importado da Inglaterra, teve o começo da sua montagem e construção em dezembro de 1913. Foi inaugurado no dia 24/05/1914, pelo seu idealizador e prefeito da cidade Manoel Pereira Borges (1868-1937). É nesse coreto que me sento, e me perco e me encontro, refletindo sobre os mistérios da nossa caminhada no planeta Terra. Nesses mistérios está inserida a figura de Josepha Massimo,  a garota pobre que virou princesa.

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3 comentários:

claudia kiki disse...

SIM, EU ME LEMBRO DELA, LEMBRO DO IMPACTO QUE SEU CASAMENTO COM O PRÍNCIPE ITALIANO CAUSOU, AFINAL ELA NASCERA NAS CAMADAS MAIS POBRES DA SOCIEDADE NORDESTINA, BRASILEIRA, MAS DEVIDO A SUA EXCEPCIONALIDADE ACABOU POR ELEVAR-SE ATÉ O MAIS ALTO DOS SONHOS HUMANOS...
PENA MESMO SABER QUE ELA PARTIU EM 2009 PARA ENCONTRAR-SE COM O SEU AMADO MARIDO, O PRÍNCIPE MASSIMO. DEUS A ABENÇOE!

Anônimo disse...

Uma Cinderela dos campos bucólicos do interior do nordeste para a nobreza italiana alçada ao título de princesa passando de cozinheira a empregada doméstica no Rio de Janeiro para modelo e manequim internacional e capa das mais conceituadas revistas internacionais e costureiros de alta costura da mundo fashionista mundial. Um feito que precede a gaúcha Gisele Bundchen guardando as devidas para a sua época.

Anônimo disse...

Minha tia foi uma referência para o mundo, mais deixou um legado lindo na família: o sonho e a possibilidade de realizá-lo. Assim como Ilona que nos enche de delicadeza e felicidade ate hoje. Descansa tia tá tudo bem aqui. 💜