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sábado, 18 de novembro de 2017

SESSÃO NOSTALGIA - Sempre valeu a pena ser Miss

Daslan Melo Lima

         Foi em um exemplar da revista Fatos & Fotos, de junho de 1971, "perdida" em meu acervo, que encontrei uma reportagem bem humorada, "Valeu a pena ser  Miss?",  de Juarez Barroso (1934-1976), escritor cearense, ilustrada com imagens de candidatas ao titulo de Miss Guanabara. 

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MISS GB
Valeu a pena ser Miss? 
Sim, sempre valeu, como provamos neste breve ensaio sobre a história do concurso

            Desde o primeiro concurso, realizado  no Egito, com entregas de faixas pelo próprio Faraó Tutankamon, ser miss sempre valeu a pena. Inscrições descobertas recentemente no túmulo de uma rainha contam que a primeira miss casou-se com um sacerdote de Ísis, superprestigiado, ficou viúva e casou-se a segunda vez com um engenheiro projetista de pirâmides, que construiu uma só para ela. Pronta a pirâmide, a jovem miss ficou tão entusiasmada que fez questão de morrer imediatamente para inaugurá-la. 

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Misses em flor, preparando-se para a felicidade que as espera. A miss pode vir em diversas embalagens e tamanhos, embora o de 1m70cm seja o mais popular. Elas têm tudo, até um escritor só pra elas: Saint-Exupéry. 

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Sempre leram O Pequeno Príncipe

            As misses atravessam as civilizações caldaica, persa, greco-romana e outras menos votadas, lendo O Pequeno Príncipe e chorando na hora de receber o prêmio. E sempre castas. Contam mesmo que a história dos cintos de castidade está intimamente ligada aos concursos de miss. Um certo Barão da Baviera, vendo aproximar-se a data da seleção e sem muita confiança no sistema de defesa da filha, cuja meta perigava dianite dos constantes assédios adversários - pajens, camareiros, etc. - bolou o cinto para garanti-la no concurso, onde as candidatas, como sempre, deveriam comparecer com zero ponto perdido. A moça venceu, casou-se com um nobre arruinado e o cinto pegou. 
           Sim, o concurso de miss é o Festival Internacional da Família, o Concurso Literário das Filhas. No concurso literário, o escritor comparece com seu livro e, caso ganhe, tem direito a casá-la com um milionário alemão, um analista de sistemas, um dono de uma rede de hotéis, um adido cultural de embaixada latino-americana, o herdeiro de uma fábrica de relógios suíços, a escolher. Assim, a coisa que existe mais parecida com escritor é mãe de miss. Sendo que é mais vantagem ser mãe de miss, pelas maiores oportunidades e publicações.  
           A miss é um ser obrigatoriamente feliz. Miss está provida de sofrer, diz um dos primeiros artigos das normas dos concursos. Uma miss na fossa? Uma miss com problemas existenciais? Uma miss chateada porque o avô sofreu um enfarte? Isto é tão feio quanto andar com agarramentos em boates, em automóveis parados em praias desertas, coisas que não se admite numa senhorita miss. Assim, ela se acostuma logo a ser sempre feliz, o que nem dá tanto trabalho. E bacana é que essa felicidade aprendida ela consegue irradiar para todos. Nada existe mais feliz do que um marido de miss. Alguém já viu um marido de miss careca? Alguém já viu um marido de miss com problemas de peso? Um marido de Miss não tem dessas coisas. E se algum faz uma concessãozinha de morrer é em avião de luxo, de linha internacional, como convém a um marido de miss. E tudo para a maior felicidade de sua bela esposa, que fica livre para outro marido mais bacana. 

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Outra série de misses. Para garantir a felicidade, melhor do que frequentar terreiro de macumba, fazer psicanálise ou estudar zen budismo, é vencer concurso de miss. Miss não sofre. 
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O concurso só tem um defeito

          Sempre valeu a pena ser miss. As desgraças jamais aconteceram às misses. Estão imunes a elas, conforme o regulamento do concurso. Nunca houve miss vítima de enchentes, nenhuma foi queimada pela Inquisição e entre os 9 milhões de vítimas do nazismo não havia uma só miss. Miss não entra em fila, miss só tem parto sem dor. Tudo o  que uma miss deseja consegue. É verdade que nenhuma miss até hoje recebeu o Prêmio Nobel, mas esta deficiência do concurso - talvez a única - será sanada em breve. 
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       Será mesmo que aquela jovem Miss do Egito ficou tão entusiasmada pela pirâmide que fez questão de morrer imediatamente? Será mesmo que o cinto da castidade foi criado para resguardar a virgindade de uma Miss? 
         Não sei responder essas indagações. De uma coisa, eu sei: você, leitor, leitora, deve ter dado umas boas risadas sobre as coisas que leu nesta Sessão Nostalgia. Eu também não segurei o riso. 

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