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sábado, 24 de outubro de 2015

DE TIMBAÚBA PARA O MUNDO - Aurineide Marques de Lima, tudo por causa de uma boneca


      Aurineide Marques de Lima, uma das personalidades mais estimadas de Timbaúba,  postou um texto emocionante em seu Facebook, um depoimento corajoso abaixo transcrito como lição de humildade, coragem, determinação e fé.
         Não costumo falar da minha vida pessoal no Face. Hoje abro uma exceção porque sinto a necessidade de falar de um fato da minha infância  que teve um efeito funesto na minha vida e só falando para um grande número de pessoas posso dizer que estou livre de um medo irracional e ilógico. Um fato em si não tem importância e sim os efeitos que ele causa no nosso inconsciente, nos nossos sentimentos. Quem tiver paciência de ler, leia, mas sabendo que as opiniões e  os julgamentos não me importam.
        Até 8 anos a vida para mim era uma festa. Apesar de ter nascido com 850 gramas, isso não me causou lesão cerebral ou déficit de inteligência, o que era de se esperar. Ao contrário, era uma criança muito inteligente. Foi aí que minha mãe adoeceu gravemente,  o que não permitia que ela me controlasse como fizera com os outros filhos. Vivia brincando com os moleques, amigos do meu irmão, fato que o desagradava. A tarde estudava no Grupo Escolar, que ficava no centro, perto da Igreja Matriz, como era comum nas cidades do interior. 




          Não lembro quando, mas o fato é que comecei a observar as crianças ricas, que moravam no centro, filhas de médicos, dentistas, senhores de engenho,  etc. Todas tinham lindas bonecas. Comecei a desejar uma, cheguei a pedir a minha mãe, que me explicou que éramos muito pobres e ela não podia comprar. Entendi, mas o desejo permaneceu, transformando-se, diria, em obsessão. Então tive uma ideia que logo coloquei em prática. Procurei meu cunhado e disse que minha mãe mandara pedir uma quantia emprestado. Ele me deu o dinheiro e fui correndo para a loja onde comprei a boneca de cabelos e que chorava. Ora, uma rua pequena onde todos se conheciam não poderia esse fato passar desapercebido. 


Escola Santa Maria - 1º ano Pedagógico - 1960
Aurineide está em pé, na extrema esquerda.
Não cheguei a curtir a boneca dois dias. Na noite do segundo dia, deitei-me numa poltrona e adormeci. Acordei sentindo dores lancinantes em todo o corpo. Quando meus olhos conseguiram focalizar, vi minha irmã, no auge dos seus 24 anos, me espancando.  Inútil me debater, não sei quem me segurava.  Desesperada, olhei para a porta. Fechada. Janela, cheia de cabeças curiosas. Creio que eram os vizinhos que vinham apreciar um espetáculo tão edificante. Uma mulher adulta no auge de sua força física espancando uma criança pequena e desnutrida.  Não sei quanto tempo durou o espancamento, mas no final meu corpo estava todo ferido e cheio de hematomas. Mas o pior estava por vir. Fui submetida à execração pública/privada.  A família foi devidamente notificada de que eu era um monstro que furtava minha própria mãe e todos deviam se afastar.

          Os dias passaram, as feridas sararam, os hematomas desapareceram.  Morria a criança e nascia nela um porco espinho. Fiquei com medo de tudo e de todos. Quando a noite caía, uma angústia tremenda tomava conta de mim. Tinha medo de dormir e até hoje sofro de distúrbios do sono. Outra irmã que ficara como minha tutora resolveu apostar em mim, pagando com a pensão que meu pai deixou os dois melhores colégios de Timbaúba. Primeiro o Timbaubense e depois o Santa Maria. Sabe aquela vontade que dá de cometer suicídio? Nunca tive! Meti a cara nos livros e sempre fui uma das melhores alunas de minha classe. Mas não era por amor aos estudos, era por raiva. 


Aurineide e o filho Vinicius

          Terminei o curso de professora, tive uma educação de primeiro mundo com freiras alemãs, o que me facilitou passar nos vestibulares que fiz.  Primeiro Odontologia, profissão que exerci com muito amor. Depois fiz Direito na UFPE porque era uma faculdade de ricos e eu precisava me autoafirmar. Não exerci, embora tenha a carteira da OAB. Mas o medo racional e ilógico me perseguia. Fiz análise duas vezes com o melhor psiquiatra da época e não tive coragem de narrar esse fato. Até que uma anciã me falou que eu queria "luxar" e que minha mãe não podia bancar esse "luxo”.  Não me defendi, até porque ela é totalmente surda,  mas absurdamente lúcida. Alguns dias depois, passando pela Matriz, resolvi entrar e conversar com Deus. Acho que foi Ele que me fez ver que uma criança de 8 anos, no século  passado, não tinha discernimento sobre as consequências de seus atos e que já passara do tempo de me libertar. Deus me perdoou e eu também me perdoei.


Hoje, tenho uma boa reputação tanto pessoal como profissional e enfim estou livre. "Liberdade ainda que tardia". Meus lábios sorriem, um sorriso convincente, mas minha alma chora. Chora pela vida interrompida, pelos amores não vividos,  pelos amigos que não tive, pois não é fácil se relacionar com um "porco espinho". O que resta da minha vida é muito menos do que os anos que já vivi ou sobrevivi. E tudo isso por quê? Porque a criança de 8 anos (eu) queria uma boneca.
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O texto Aurineide Marques de Lima, tudo por causa de uma boneca foi postado na página Comportamento, na revista TIMBAÚBA EM FOCO, edição  de setembro/2015.

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LUTO


Timbaúba, PE, sábado, 24/10/2015 - A cidade amanheceu de luto neste sábado, 24. Enquanto dormia, faleceu o Sr. Garibaldi Maranhão, filho de  Elvira Maranhão (in memorian), autora do desenho da bandeira de Timbaúba. Casado, três filhos, funcionário aposentado do INSS, Garibaldi adorava Carnaval e era torcedor apaixonado do Santa Cruz Futebol Clube. O corpo será sepultado amanhã, domingo, às 10 horas, saindo o féretro da sua residência, localizada na Praça do Centenário, para o Cemitério de Santa Cruz. À família enlutada, as condolências de PASSARELA CULTURAL
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DEUS chamou nosso amigo Gariba para se encontrar com Sr.João e D. Elvira; na sua chegada à casa do PAI, sua mãe lhe recebeu com aquele sorriso tímido dizendo MEU SANTO, VOCÊ CHEGOU ! Seu pai deu uma risada gostosa e lhe perguntou: Trouxe o meu dicionário? 
Timbaúba perde um grande cidadão, o marido de Maria César, o pai de Saulo e dos gêmeos Diogo e Rafael, o irmão de José de Arimateia, Joel (seu irmão gêmeo) e Terezinha.
Timbaúba não será mais a mesma nos três dias de Carnaval e nos dias dos jogos do Santa Cruz e da Seleção Brasileira.
Vá em PAZ, amigo Gariba, sua alegria e humildade será sempre lembrada por todos nós! 
Ana Lygia Bezerra
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Timbaúba, PE, domingo, 25/10/2015 -    José  Garibaldi de Albuquerque Maranhão, gêmeo com Joel de Albuquerque Maranhão, filho  de João  José  de Albuquerque  e Elvira  de  Albuquerque  Maranhão, nasceu em 08/06/1947,  em Timbaúba, PE, na  Rua Marçal  Emiliano  Sobrinho, mais  conhecida  como Rua  Nova, na casa onde  hoje funciona a loja "Cuscuz  Motos". 
      Seus outros irmãos chamavam-se José  de Arimateia  e Terezinha  de Jesus. Era casado com Maria  César  da Costa  Maranhão, mãe dos seus filhos Saulo e dos gêmeos Diogo  e RafaelGaribaldi adorava  esportes e Carnaval. Estudou nos Colégios Timbaubense e Cenecista. Era funcionário público federal  aposentado do INSS.  Deixou três netos. Causa da morte: infarto fulminante. Seu corpo estava coberto  com  as bandeiras  do  Santa  Cruz Futebol Clube  e de Timbaúba.

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2 comentários:

Anônimo disse...

Lindo depoimento de Aurineide!Se as crianças fossem ouvidas...Jap.

Anônimo disse...

Dra. Aurineide, que história de vida! Somente DEUS para fortalecer a alma sofrida de uma criança que aos 08 anos sofreu tamanho castigo, cuja mágoa carregou por grande parte de sua vida, mas que soube vencer o inimigo (o trauma) que trazia dentro de si e voltar a sorrir para o mundo. Os amigos, com certeza são poucos mas sinceros que a fazem seguir essa fase da existência sorrindo... sorrindo...! Que o grande mestre do Universo a mantenha firme e forte marcada pelo estigma do perdão.

Agora abro um lapso para falar aos familiares do amigo GARIBALDI. Um grande pensador disse: "pouco pode ser dito ou feito perante o único adeus que é definitivo, e nestas horas sobram palavras assim como se multiplicam a dor e a saudade".
A todos os familiares desejamos que tenham muita força e muita coragem perante a ineficácia de qualquer consolo pela perda. Relembrem a pessoa de GARIBALDI com carinho e, na lembrança, memória e amor de vocês que ficaram, temos certeza de que ele viverá para sempre.
Um abraço.
José Antônio Lopes Dias