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sábado, 16 de julho de 2016

SESSÃO NOSTALGIA - Martha Garcia, a Miss que sonhava ser atriz de Hollywood

Por Daslan Melo Lima

        No dia 04 de maio de 2008, a Sessão Nostalgia rendeu tributo àquela que foi a primeira Miss Brasília eleita para representar o hoje Distrito Federal no concurso Miss Brasil 1959, Martha Garcia.  Finalizei o texto dizendo o seguinte: “Caso o pessoal da coordenação do concurso Miss Brasília esteja lendo esta Sessão Nostalgia, suplico que localizem Marta Garcia para receber as devidas homenagens em 2009, ano do cinquentenário do concurso. ”
       Faz dois dias que, pesquisando na Internet,  cheguei ao site colunas.revistaepoca.globo.com , onde encontrei uma matéria escrita em 11/11/2009, por Valéria Martinsfilha única da Miss Brasil 1959 com o jornalista Justino Martins (1917-1983). Escritora e jornalista, nascida no Rio de Janeiro em 1966, separada, Valéria é  mãe de dois filhos, Clarissa (21 anos) e Gabriel (18 anos). Como autora, publicou Encontros com Deus (Mauad Editora, 1997), Mr. Page e os sonhos (Mojo Books, 2009) e A Pausa do Tempo (Editora Jaguatirica Digital, 2013). Também é editora do blog  A pausa do tempo, www.pausadotempo.blogspot.com .
       Abaixo, na íntegra, a matéria de Valéria Martins ilustrada com imagens digitalizadas das revistas O Cruzeiro e Manchete.
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A miss da minha vida

Por Valéria Martins

Minha mãe é uma mulher linda. Mesmo deitada na cama onde passa dias e noites há quase dois anos. Mesmo com as pernas atrofiadas e os pés em ponta de bailarina, deformados pela falta de uso e pela recusa em fazer a fisioterapia. Mesmo com o corpo cavado por lesões que já tiveram o tamanho de um continente, e cuja cicatrização lenta exige cuidados e atenção constantes.

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Mas o rosto é o mesmo. As maçãs salientes e coradas. O nariz arrebitado – com um dedo do Pitanguy, é verdade. Lábios sensuais e rosados. Dentes perfeitos. E os enormes, penetrantes e vivos olhos verdes. Mesmo nos piores momentos esses olhos mantiveram sua energia e magnetismo, e por isso eu desconfiava que ela sobreviveria – fênix que é.
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De onde surgiram todos esses problemas, vocês devem estar se perguntando. Qual o motivo?
Os médicos não sabem responder. Nunca souberam. Minha mãe é um belo enigma. Não é louca, embora muitos a tenham tachado como tal. Chegou a ter sua saúde mental avaliada por uma junta médica organizada pelo próprio pai, psiquiatra, então diretor do Instituto Philippe Pinel. O laudo apontou padrões dentro da normalidade, mas aí é que está: normal ela nunca foi. Levei uma vida inteira para compreender e aceitar isso. Talvez por sermos duas filhas únicas, e nos piores momentos de nossa atribulada trajetória, eu só tivesse ela para contar de verdade.


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O fato é que aprendi sozinha a cuidar, proteger e defender minha mãe com unhas e dentes. Uma das falas mais terríveis que ouvi em toda a minha vida foi da psicanalista: “Sua mãe teve você para cuidar dela”. É provável que seja verdade, mas quem vai dizer como poderia ser diferente, como eu poderia não assumir esse papel?

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Minha mãe queria ser atriz de Hollywood, tinha até o nome artístico escolhido: Martha Stewart. Cresci rodeada de fotos e posters de astros e estrelas: Tyrone Power, Susan Hayward, Gregory Peck, Steve McQueen. Quem sabe, se tivesse dado vazão a sua energia através dessa profissão, teria sido mais feliz.
Não foi possível realizar esse sonho, mas houve pelo menos um grande momento: aos 20 anos venceu o 1º concurso de Miss da nova capital federal, em 1959, e alcançou a glória. Prêmios, reportagens, fotos nos jornais e uma viagem à Europa para divulgar o café brasileiro, compromisso que cumpriu acompanhada da minha avó.

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Também cresci admirando o imenso álbum de couro verde escuro, recheado de fotos e recortes de jornais da época, onde se lê em dourado na capa: Martha Garcia, 1ª Miss Brasília.
Em seguida, veio o casamento com meu pai, um intelectual existencialista e mulherengo. A união que durou 7 anos desestabilizou ainda mais a frágil estrutura psicológica e emocional da minha mãe. Daí em diante – justamente quando eu entro na história -, a coisa só degringolou.
É claro que minha vida foi afetada por tudo isso, e ainda é. Mas graças a muita terapia e trabalho interior, consigo compreender o quanto minha mãe contribuiu para a minha formação como ser humano. Ela me ensinou o amor incondicional e o significado de uma palavra sobre a qual poucos têm a oportunidade de refletir: misericórdia.

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A lição mais recente que aprendi com ela – valiosíssima, por sinal – foi soltá-la, deixar de ser sua cuidadora e protetora. No momento em que consegui fazer isso, ela ressurgiu do reino dos mortos e melhorou, está vivinha e lúcida da silva. Ninguém entendeu – muito menos os médicos – essa súbita melhora após o quadro de septicemia, desnutrição e depressão profunda que a manteve internada durante dois meses este ano, após quinze dias no CTI.

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Hoje ela está bem o suficiente para alegrar-se e orgulhar-se de se ver em revista especial sobre os 50 anos de Brasília. Ela foi Miss Brasília em 1959. No domingo passado, era um entra-e-sai no quarto onde mora, num hotel para idosos em Botafogo. Recebia elogios e cumprimentos. Martha, radiante, sorria de orelha a orelha.

Minha mãe é uma mulher linda.

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          Parabenizo Valéria Martins pelo texto primoroso, ao mesmo tempo em que agradeço pela oportunidade que deu ao universo Miss para saber por onde anda a eterna Miss Brasília 1959. A propósito, na minha crônica de 04/05/2008, dedicada à Martha Garcia, escrevi Martha sem th, como consta em várias publicações da época. Ao ver seu nome com th no texto de Valéria, adotei essa forma.
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          Abaixo, texto extraído de uma reportagem sobre o Brasília Palace Hotel, em   21/04/2015,  


No quarto onde vive, em um residencial para idosos no Rio de Janeiro, Martha Garcia guarda um álbum de capa de couro verde, com seu nome escrito em dourado. Ali estão os recortes do seu tempo de glória. Na estante, uma foto com Juscelino Kubitschek. Na memória, um dos momentos mais importantes da sua vida: o dia em que foi coroada a primeira Miss Brasília, em 1959, em cerimônia no Brasília Palace Hotel.

Moças de todo o Brasil vieram participar do concurso. Eram 20 candidatas, mas a carioca de cabelos pretos, pele branca e olhos verdes amarelados chamou atenção dos jurados e recebeu elogios até de JK. A manchete do jornal na época dizia: “Brasília tem miss de olhos cor do mar”. "Não entrei no concurso para ganhar, era uma brincadeira, queríamos nos divertir. Quando dei por mim, estava lá no palco, com centenas de pessoas me aplaudindo", lembra Martha, aos 76 anos e, apesar de acamada por conta de uma artrose, está cheia de lembranças dos tempos que viveu,
A premiação foi uma geladeira, uma casa e um terreno em Brasília. Vendeu tudo. “Fui escondida. Meu pai ficou furioso”, conta. Martha tornou-se celebridade. Ganhou um contrato de seis meses para divulgar o Café Brasileiro nos países nórdicos e foi garota-propaganda do Leite de Rosas. Casou-se com o jornalista da Manchete Justino Martins, 24 anos mais velho, com quem teve uma filha, Valéria Martins. “Cresci admirando o álbum e ouvindo as histórias do concurso. Ela morre de orgulho e faz questão até hoje de ser chamada de ‘primeira miss Brasília’”, conta Valéria. As fotos e recortes de jornais e revistas são uma relíquia para Martha e para a Capital. “Foi um grande momento, talvez a coisa mais importante que já fiz, além de ser mãe”, finaliza a primeira miss Brasília.
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            A Sessão Nostalgia de 04/05/2008, Marta, a primeira Miss Brasília,  poderá ser lida clicando neste link 
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Um comentário:

Leonardo Secco disse...

Eu a conheci por um breve período. Sua beleza era marcante e tinha um sorriso enigmático, porém cativante. Não conhecia detalhes de sua vida depois da época do Miss Brasil. Me comoveu saber de seu estado de saúde mas as palavras de sua filha me deram ideia de uma mulher forte, com personalidade própria.
Deixo meu beijo, Martha, aplaudindo ainda sua beleza e parabenizando a filha que nos deu.
Vera